Thread by @vowtz

Em todo balanço patrimonial há dívidas ocultas, que podem chegar até mesmo na casa dos R$ 5 bilhões.

É o que os gringos chamam de "off balance sheet liability".

Em bom português, dívida fora do balanço.

O passivo de arrendamento era uma delas.

Tudo mudou em janeiro de 2019🧵

Quando você aluga uma casa ou loja, você assina um contrato.

Nesse contrato, está escrito o quanto você vai pagar, por quanto tempo você vai pagar e quanto o valor vai aumentar ao longo do tempo.

É o que a gente chama de "contrato de locação". Nós fazemos e as empresas também.

Todo mês as empresas que têm lojas alugadas vão lá e pagam o aluguel.

Ao final de 3 meses, quando chega a hora de divulgar o release, tudo o que elas tinham que fazer era jogar na DRE: "despesas com aluguel", junto com o valor que foi gasto.

Qual o problema disso?

O Balanço Patrimonial é um relatório que a empresa libera.

Nele, há 3 caixas

- Do lado direito, ficam as caixas do passivo e do patrimônio líquido, uma em cima da outra.

- Do lado esquerdo, a caixa do ativo.

A origem de todo o dinheiro da empresa são as caixas da direita.

Esse dinheiro pode vir de empréstimos (caixa do passivo) ou capital próprio, como lucro e investimento dos acionistas (ambas na caixa do patrimônio líquido).

O destino? A caixa dos ativos.

Na teoria, todas as dívidas da empresa (desde empréstimos com bancos até um fornecedor que deixou ela "pendurar a conta" e pagar mais tarde) deveriam estar na caixa do passivo.

Você pode imaginar: "Bom, a empresa assinou um contrato dizendo que vai pagar aluguel por 10 anos. Logo, isso é uma dívida: ela vai ter que pagar uma hora. Como é uma dívida, vai aparecer no passivo, certo?"

Er... não

Esse era um dos casos mais clássicos do famoso "off balance sheet liability".

Algumas empresas, como você vai ver aqui, tinham dívidas que passavam dos R$ bilhões. Todo ano ela tinha que pagar uma parcela da dívida (aluguel).

Mesmo assim, elas não apareciam em lugar algum.

Tudo isso mudou quando, em janeiro de 2019, foi lançado o IFRS 16.

O IFRS é tipo um comitê internacional que define umas regras contábeis.

Como a contabilidade é a linguagem das empresas, é importante que todas falem a mesma língua. Assim, elas conseguem conversar.

Vez ou outra esses caras do IFRS anunciam uma regra nova.

O IFRS 16 é uma delas. O que ele faz?

Acaba com essa história do aluguel ser uma dívida oculta, fora do balanço e que ninguém vê.

O jeito que ele faz isso é engenhoso, mas uma vez que você entenda, faz todo sentido.

Vamos lá.

Como eu disse, todo o dinheiro tem uma origem e um destino. Nesse caso, ele vem de uma dívida (os aluguéis que a empresa tem que apagar) e vai pra um ativo (o direito de usar a loja)

Os caras do IFRS chamaram essa dívida de "passivo de arrendamento" e o ativo de "direito de uso".

Calcular o tamanho da dívida é fácil: pega o quanto a empresa vai pagar de aluguel até o final do contrato e soma.

Como o dinheiro tem valor no tempo, traz a valor presente antes.

Como o dinheiro tem origem e destino, no final, o ativo "direito de uso" vai ser igual a essa dívida da empresa.

Daí, todo ano quando a empresa paga aluguel, esse valor reduz a dívida (já que ela pagou uma parte dela) e o ativo (já que o tempo pra ela usar a loja é menor agora)

Hoje, às 19h, eu vou fazer uma Live ensinando "Como Analisar o Balanço Patrimonial de Uma Empresa".

Colem lá! 👇