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Desempregada há sete meses, a diarista Dulce Januário se emociona ao lembrar a rotina diária de sair pelas vielas da ocupação irregular onde vive, em Osasco, atrás de restos de madeira para abastecer a pequena churrasqueira no pátio da casa de madeira e que faz as vezes de fogão.

“Quando chove o jeito é colocar um guarda-chuva aqui apoiado no portão; o pior é que madeira úmida faz muita fumaça, irrita demais os olhos, nariz. Sempre que estão desmanchando um barraco, já mandam chamar a mulher do pau pra pegar os restos de madeira”, conta Dulce.

Sem dinheiro para bancar o aluguel, Dulce acabou alojada em uma ocupação irregular na Grande SP, em um casebre de madeira feito por ela mesma. Faz quatro meses que ela não sabe o que é cozinhar no fogão, usando gás, que onde mora pode custar até R$ 120.
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Os mais de 80% de aumento no preço do botijão de 13 kg nos últimos 12 meses, somados aos mais de 14 milhões de desempregados resultaram em um aumento expressivo no uso de lenha e similares como combustível para o preparo de alimentos dos brasileiros.

A pandemia e a crise decorrente dela aceleraram esta troca, mas trata-se de um processo que já vinha se arrastando desde 2016, quando a Petrobras mudou sua política de preços em uma das primeiras medidas do governo de Michel Temer.

Desde então os preços internos dos combustíveis no Brasil seguem as flutuações externas, o que pesou no bolso dos consumidores mais pobres.

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Afetado por cortes no governo de Jair Bolsonaro, o IBGE não divulga dados sobre o uso de lenha e carvão como combustível nas cozinhas desde 2019. O número de domicílios que usava carvão ou lenha para cozinhar cresceu 27% entre 2016 e 2019, saltando para 14 milhões de lares.

A realidade é ainda mais cruel quando os alimentos acumulam alta de 14,66% em 12 meses, segundo o IBGE, com destaque para itens básicos como açúcar (44%), óleo de soja (32%) e carnes (25%). Muitas pessoas se veem tendo que optar entre o gás e o alimento.