Explicando o que foi discutido ontem. Se você segmenta o eleitorado por educação formal você constata que o apoio a Bolsonaro se concentra nós estratos com ensino superior. Mais, se você compreende o aspecto "piramidal" do bolsonarismo você percebe que é aí que nasce o problema.
E esse aspecto "multinível" do bolsonarismo já foi atestado, inclusive, por seus idealizadores. Basicamente, estas pessoas vão atuando co.o recrutadores. E como nos esquemas de pirâmide, o aparente "sucesso" dos recrutadores é fundamental.
Quer entender como o Bolsonarismo se espalha em determinados segmentos, evangélicos, por exemplo, observe a proeminência social de alguns de seus articuladores locais. Por exemplo, o tipo de influência que um pastor tem na sua comunidade.
Mas a mesma coisa aconteceu nas famílias. Boa parte das pessoas que entrevistei para a minha pesquisa sempre alegam que chegaram até o Bolsonarismo por meio de um parente/amigo no qual confiam.
E esse parente/amigo era o "tio que tem dinheiro", um "primo com faculdade", um "fulano que sabe tudo de política". Em um dos casos, o sujeito de referência de toda uma família, por exemplo, era um sujeito que havia ganho uma pequena fortuna com bitcoins.
Não por coincidência, muitos dos grupos de "marketing multinível" como Telexfree se converteram em verdadeiras centrais de propaganda bolsonarista; e assim permanecem (vide o caso da GAS em Cabo Frio). E isso é algo que a pesquisa da @_pinheira corrobora (comunicação pessoal).
Dito de outra forma, o problema não é o "pobre de direita" ou que o "povo vota com a barriga", é a formação de um fenômeno que começa nas camadas superiores de uma sociedade hierarquizada. Basicamente, se espalha como um vírus inerente ao próprio sistema.
Destarte, insistir que o problema é o povo, o voto dos "ignorantes", não apenas é uma tese classista, é uma tese que ignora a própria estrutura do fenômeno e perde a oportunidade de se opor a ele com eficácia.
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Esse foi um dos primeiros dados que minhas pesquisas mostraram, que o Bolsonarismo se expandiu como um esquema de pirâmide online. E como todo esquema de pirâmide, ele se apoia numa suposta imagem de sucesso dos "recrutadores".
Insisto: forma como o Bolsonarismo se expandiu tem uma relação direta com a própria ideia de parentesco. Na maioria das vezes em que conversei com eleitores do Bolsonaro sobre o seu primeiro contato com o Bolsonarismo eles me ofereciam um parente/amigo como resposta.
Mas não um parente/amigo qualquer, mas uma pessoa na qual confiavam por "ser estudada" ou ter uma condição financeira melhor.
A maior parte do eleitorado bolsonarista é constituída por pessoas com ensino superior completo e com uma renda razoável para os padrões brasileiros, mas aí da tem quem insista na ideia de que o problema é o "pobre que vota com a barriga".
E vamos além, os únicos grupos antivaxx estruturados que encontrei até o momento no Brasil também estão no mesmo segmento, a maioria relacionados a discussão de terapias holísticas, sagrado feminino/masculino, etc...
A grande questão é, para mim, é como o comentário político costuma atacar imediatamente os mais pobres e escolarizados, colocando-os como causas das mazelas do país.
Sou professor, minha mãe é professora e vou te falar uma coisa, poucas coisas né incomodam mais do que esse "parabéns, vocês são guerreiros" no dia de hoje.
Eu não quero ser tratado como guerreiro, eu quero ser tratado como profissional.
Eu não quero "vencer batalhas diárias", eu quero condições decentes de trabalho - e trabalho -, para mim e para os meus pares.
Esse discurso de que todo professor tem que ser um guerreiro/uma guerreira não apenas normaliza os absurdos que a categoria sofre, como gera uma pressão absurda, social e psicológica, sobre os professores.
Filme de terror, para mim, é ver o Paulo Guedes falando e ter a completa certeza que ele não faz a MÍNIMA IDEIA de como mitigar os efeitos da inflação no país. O sujeito fala da inflação como se fosse apenas "aumento de preços".
Pior, como se fosse um aumento de preços pela retomada do consumo. Que retomada? O Brasileiro está deixando de consumir e os preços continuam subindo.
E isso não é "factoide" da mídia. Desde meados do ano passado frigoríficos de pequeno e médio porte (que não exportam) já estavam em crise por conta da redução do consumo de carnes; e já não terem mais como repassar os custos para o consumidor.
Como hoje é dia das crianças, nossa live na twitch (10h) será dedicada a arredar dinheiro para o projeto de educação popular Espaço de Cria em Nova Iguaçu. Comando !cria
Em 2018 vimos um monte e "analistas de conjuntura" que afirmavam de pé juntos que Bolsonaro não se elegeria, afirmando, em negação, que ele atingira "o teto" a cada pesquisa eleitoral que mostrava o seu crescimento. Faltava nessas análises um elemento crucial: antropologia.
Sim, estudo qualitativo, trabalho de campo, pesquisa de longa duração, chame como quiser. Você olha para essas "análises" e percebe que elas até podem acionar as estatísticas, bibliografia e até mesmo oferecer uma contextualização interessante da política, mas falta "povo".
E "povo", sabemos, é o elemento crucial de uma democracia.