Antissemitismo, nazismo e contos de fadas. 🎃🧵
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Quando você é judeu, contos de fadas são um terreno complexo. Existem contos de fadas judaicos e compilações incríveis de tais histórias, como as de Gertrude Landa e Dov Noy. Porém, se tratando de contos populares, a grande maioria possui uma carga de antissemitismo gigantesca.
Primeiramente, muitos contos de fadas são chamados de Cautionary Tales, ou seja, contos de precaução, histórias fantasiosas contadas a crianças para que tenham medo. Quem nunca cresceu ouvindo histórias sobre monstros que te fariam algum mal caso você não se comportasse?
Ironicamente, uma das frases mais usadas por autores de terror vem de H.P. Lovecraft: “A emoção mais antiga e mais forte da humanidade é o medo, e o medo mais antigo e mais forte é o medo do desconhecido.” Image
O medo do desconhecido se manifesta em histórias de inúmeras maneiras, quase sempre na forma de um povo, do qual quem conta desconhece, mas repudia. Contos de alerta, sejam histórias de terror ou não, existem na forma do Outro, aquilo que não é considerado normal pela sociedade.
No mundo ocidental, o primeiro O Outro foram os judeus, até o contato da sociedade ocidental cristã com outros povos. O cristianismo, antes mesmo de se estabelecer, já discutia o “fator judaizante”, e temia o fato de, caso não fossem bons cristãos, se tornarem judeus. Image
Histórias para crianças cristãs passam a ser escritas tendo em mente judeus como monstros, com a construção visual em cima de estereótipos antissemitas. Algumas imagens foram reutilizadas na Alemanha nazista para desumanizar judeus, reforçando a ideia parasital de raça inferior. Image
Martinho Lutero, líder da reforma protestante, é considerado como a grande influência para a “a solução final para a questão judaica”, plano nazista de extermínio do povo judeu. Sabendo disso, não é difícil perceber como o antissemitismo sempre foi predominante na Europa.
Libelo de sangue (isso é, acusações de que judeus sequestravam crianças cristãs para usar seu sangue em massa de pão ázimo) e imagética antissemita foram parte da história europeia, e culminaram no assassinato de incontáveis judeus ao longo dos séculos. Image
É importante lembrar que acusações de sequestro também são uma forma bastante comum de Rromafobia (isso é, preconceito/ódio contra ciganos). Ambas as retóricas se alimentam de uma mesma fonte, por lados diferentes e não exatamente iguais, mas assustadoramente parecidas.
Tudo isso nos leva a antissemitismo e anticiganismo como base de muitas histórias.

A imagem de bruxa que estamos acostumados, desde o seu nariz pontudo até o chapéu, é construída em cima de antissemitismo em quase todas as instâncias (mas isso é assunto para um outro texto). Image
Louis Snyder, em Nationalistic Aspect of the Grimm’s Fairy Tales: “Uma de minhas estudantes, a srta. Bertha Pinksy, demonstrou a existência de certa indiferença à violência em sua turma de alunos de seis anos. Encontrando dificuldade em manter ordem, +
ela resolve ler os contos de fadas dos Grimm para eles.
“Eu fiquei impressionada que consegui obter perfeito silêncio ao ler qualquer um dos contos mais violentos, as crianças ficavam simplesmente fascinadas. +
A sala regozijou de satisfação quando li The Jew Among Thorns, no qual um velho judeu é obrigado a dançar entre espinhos ao som de um violino.”

É pelo descrédito dos líderes da Alemanha nazista que elevaram a glorificação obscena de violência e crime a um lugar de autoridade. ImageImage
Os efeitos de tais contos sobre gerações da juventude alemã podem ser bem imaginados. Na Alemanha nazista, os contos de fadas inexpurgados eram lidos para crianças, e uma grande parcela da literatura nazista infantil era uma mera versão modernizada dos contos Grimm. ImageImage
É razoável concluir então que, com seus contos de fadas e suas obras, os irmãos Grimm contribuíram tanto para o renascimento cultural Alemão quanto para o nacionalismo alemão, ideológico e político.” Afirma Snyder.
Houve facilidade na adaptação desses contos a Alemanha nazista, visto que os elementos de antissemitismo já estavam ali. Esse tipo de narrativa, porém, não existe sem oposição. Segundo, Jack Zipes, em seu livro When Dreams Came True: Classical Fairy Tales and Their Tradition:
“Após os nazistas subirem ao poder, os contos de fadas se tornaram cada vez mais os meios de se transmitir sentimentos políticos. Na Alemanha, os contos eram interpretados e produzidos de acordo com a ideologia nazista. Existem inúmeros exemplos de produtos Volkisch e fascistas + ImageImage
até mesmo na França. Esses, por sua vez, trouxeram uma resposta de autores contrários ao nazismo, como o Estadunidense H. I. Phillip com “Little Red Riding Hood as a Dictator Would Tell It”, de 1940.
Durante as primeiras décadas do século XX, obras como “O Hobbit'” (1938) de J.R.R Tolkien, foram escritas com a Primeira Guerra Mundial em mente, e com a intenção de alertar contra uma segunda guerra. “A Garota e o Lobo” (1939), de James Thurber, foca em poder e violação. +
“O conto de fadas do Rei” (1943), de Georg Kaiser, reflete sobre ditadura, “O Conto de Fadas Sobre Razão” (1948), de Erich Kästner, projetou a possibilidade de paz mundial. “O Sorriso da Esfinge” (‘949), de Ingeborg Bachmann, recontou o terror do Holocausto.”
Agora que vocês aprenderam a relação entre contos de fadas, antissemitismo e nazismo, é hora de nos aprofundarmos em alguns exemplos. Em próximos textos, falaremos do antissemitismo em obras como Cinderella, Branca de Neve, João e Maria, e Rapunzel.
Espero que tenham gostado. Não esqueçam de nos seguir e compartilhar o texto para que nossa página chegue a mais pessoas.
Lehitraot,
Até a próxima. 🎃

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