O fim do Bolsa Família ganhou menos destaque e recebeu menos resposta do que o necessário. A perda desse, que era um dos melhores programas sociais do país, é mais uma tragédia sem tamanho cometida por Bolsonaro (1/8).
O Bolsa Família serviu como um elemento de calibragem pouco notado: mais do que servir para alimentar famílias muito pobres, ele garantia um mínimo que, muitas vezes, as impedia de ir trabalhar por um prato de comida - isso fazia o aumento do salário mínimo valer (2/8)
Quando você fala em qualquer política pró-salário mínimo, salvo o pagamento de aposentadorias, pensões e auxílios diretamente pelo governo, sempre há o risco de descumprimento da norma: empregadores podem simplesmente não pagar, sobretudo se o trabalhador passa fome (3/8).
Com os trabalhadores alimentados, e com o mesmo garantido para seus filhos, automaticamente, eles passam a ser mais capazes de recusar empregos ultraprecários ou mesmo escravos. Quanto maior o Bolsa Família, mais as relações trabalhistas chegavam a um patamar mínimo (4/8).
Um cenário onde não há emprego e salários, evidentemente, tornaria as pessoas dependentes de uma renda social. Mas um cenário sem renda universal tende a ser um espaço de não cumprimento de normas trabalhistas. Os dois fatores se complementam (5/8).
Destruir o Bolsa Família, portanto, sempre foi o objetivo de uma parcela da direita brasileira. Por essas razões. Mas houve um tempo em que se pegava mal, o que frustrava mais ainda esses setores. Uma parte da direita liberal apoiava o BF, mas o desejava pequeno (6/8).
Bolsonaro, afinal, conseguiu destrui-lo. As consequências colaterais, infelizmente, serão piores do que as diretas - que já serão bem graves. A luta dos últimos anos deveria ter sido para ampliar substancialmente o BF, mas falhamos (7/8).
O combo golpe, Lava Jato e Bolsonaro levou esse país, em reles cinco anos, a ser desmontado. Ou reconstruímos e construímos algo ou, infelizmente, o avanço da desigualdade e da fome gerará uma grande hecatombe no início do ano que vem (8/8).
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