O histórico de Bolsonaro com o Congresso precisa ser desvendado e resolvido. Desde o uso da Lava Jato para dobrar os parlamentares, passando pela colaboração contraditória, sob Maia, até chegarmos ao "Orçamento Secreto" com Lira para a PEC do Calote (1/12).
Ironicamente, Bolsonaro elegeu os presidentes da Câmara e do Senado ao chegar, mas os demistas Maia e Alcolumbre tinham posturas diversas; o primeiro confrontava, o segundo era suave e prestativo. Mas havia Moro na Justiça e isso era peça central (2/12).
É evidente que Bolsonaro trouxe Moro para a Justiça por marketing, se proteger da Lava Jato e, também, para dobrar o Congresso. Liberar menos verbas em torno de voto e ter um instrumento permanente de pressão sobre deputados e senadores. Não colou (3/12).
E não colou sobretudo porque ele, Sérgio Moro, não queria uma vaga no STF, mas a Presidência da República. Moro queria ser a estrela de um governo ponte, que duraria 4 anos e passaria a faixa para ele. Só que nem o Capitão nem o Juiz se acertaram (4/12).
Moro gastou energia com o pacote "anticrime", enquanto muito dinheiro repatriado pela Lava Jato iria para uma obscura fundação. Brigou com todo mundo e, coincidentemente depois de sua derrota, vieram as prisões de Moro e Temer, que logo foram revertidas (5/12).
Depois da derrota de Moro, Bolsonaro mudou a tática, teve de liberar emendas poupadas para deputados e aguentar Rodrigo Maia tutelando seu governo. Graças a postura de Maia, deputados nunca ganharam tanto em emendas, numa consagração de uma prática absolutamente ilegal (6/12).
Todos fizeram vistas grossas. Maia bloqueava boa parte da agenda ultraconservadora de Bolsonaro, mas passava a agenda pró-mercado. Só que Bolsonaro tramou a vingança na hora certa, com apoio desse mesmo mercado que trata Lira por "Arthur" e destronou Maia (7/12).
A troca de Pacheco por Alcolumbre no Senado foi péssima. De um lado, Pacheco tem ambições próprias, ficou em cima do muro e deixou o governo em suspenso. Alcolumbre, esquecido na presidência da CCJ adotou um tom belicoso (8/12).
Lira teve de elevar às alturas o mecanismo do Orçamento Secreto, um mensalão formal e descarado. Às vésperas de votações-chave, abria o cofre para mudar votos, inclusive de deputados da oposição, que querem dinheiro de emendas para se reeleger (9/12).
A PEC do calote, que vai prejudicar muita gente que venceu ações contra a União para criar um programa inseguro para os pobres, foi o cúmulo. Ainda que parte do Mercado tolere, uma parte não vê com bons olhos e isso pode pesar no STF, o que acaba com o superpoder de Lira (10/12).
Sem poder encher os parlamentares de dinheiro às vésperas de votações chave, basicamente ou se parte para um esquema clandestino para "convencer" deputados - ou se terá de fazer votações na base de entrega de cargos ou convencimento puro e simples (11/12).
Isso não vai rolar. Nenhum deputado votará em algo impopular ou duvidoso do governo a troco de nada. Negociar cargos implica em Bolsonaro romper com os militares alocados em ministérios. Tudo isso enquanto Moro retona...(12/12).
*Moreira Franco e Temer.

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7 Nov
É o marxismo, estúpido! O que fez a China ultrapassar a difícil ponte das crises 2008, Guerra Comercial de Trump e, no final, da Pandemia. Isso alavanca Xi. Algumas pessoas acordaram, outras não -- e o @eliasjabbour tem das melhores leituras sobre o assunto no Brasil (1/7).
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Hoje, o neotabloide @Estadao, que tem de ser lido sazonalmente por experiência antropológica, é um puro suco de ultraconservadorismo "civilizado". Mas dá a linha do Ocidente para o Brasil: antipetismo, apoio ao cerco à China e nojinho de Bolsonaro (1/7).
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23 Oct
Antes, um AVISO DE FALÁCIA: os males que o refrigerante produz não são transmissíveis; diabetes não se pega no ar, Covid sim. Eu prometo não compartilhar mais nada do Flow. Só faço agora para analisar a "esquerda Flow", que tudo que quer é surfar no hype. Agora vamos lá (1/7).
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