Mário Machado: a história de um criminoso de extrema-direita
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A cultura bonehead entrou em Portugal na década de 1980 e teve como baluarte político o MAN, até este se autodissolver em 1992. Um grupo de militantes contrários à dissolução criou então a Frente de Defesa Nacional, cujos membros foram responsáveis pela morte de Alcindo Monteiro.
Mais de uma dezena foi acusada pelo homicídio e pelo espancamento de mais de 10 pessoas racializadas nas ruas lisboetas. Um deles foi Mário Machado, condenado a quatro anos de prisão por agressões a seis negros na noite de 10 de Junho de 1995.
Na foto: Alcindo Monteiro
Mário Machado não foi responsável pela morte de Alcindo Monteiro, nessa mesma noite, pela simples razão de estar a espancar outros sujeitos racializados.
Em 1995, Mário Machado fundou a Irmandade Ariana-Portugal nas prisões de Lisboa e Caxias, onde estabeleceu relações que se vieram a mostrar frutuosas, como a de ter trabalhado como segurança num bar de strip propriedade de um indivíduo que esteve preso consigo.
"[Na prisão] Eu só me relacionava com os nossos co-réus e com criminalidade organizada porque ainda são dos poucos lá dentro que se podia ter uma conversa e confiar as nossas costas, o resto é tudo muito pobre de espírito e nem merece a pena falar", explicou em 2006.
Pouco depois de sair da prisão, Machado oficializou em 2002 o pedido de adesão à Hammerskin Nation para criar um chapter (filial) da rede internacional em solo nacional – o grupo passou a filial de pleno direito em 2005.
Em 2004, funda a Frente Nacional com o objetivo de influenciar a liderança do Partido Nacional Renovador (PNR, hoje Ergue-te!), acabando por ser o seu braço armado nas ruas, sendo responsável por uma série de agressões a militantes de esquerda.
A Frente Nacional conseguiu aglutinar elementos boneheads e não boneheads, apesar dos primeiros terem uma grande preponderância nas decisões da organização – os membros da Portugal Hammerskins tinham lugares cativos na direção da FN.
Machado liderava ainda o Grupo 1143, uma claque sportinguista de extrema-direita no seio da Juventude Leonina. As claques de futebol sempre foram um terreno fértil para o recrutamento de jovens para a extrema-direita.
Em 2005, Machado adere ao PNR e estabelece uma aliança com José Pinto-Coelho, facilitando a sua eleição para a liderança do partido. Em troca, o PNR ganhou mais de uma centena de militantes, dispostos a atos de violência, na sua maioria jovens.
A Frente Nacional transformou-se no braço armado do PNR ao garantir a segurança dos protestos e eventos por si organizados, enquanto perseguia os seus adversários ideológicos e pessoas que não se encaixavam na sua idealizada sociedade pura e racialmente homogénea.
Em 2004, fotografias de 23 jovens ilustraram o Fórum Nacional, gerido por Mário Machado.
Uma lista de alvos a abater e, curiosamente, os visados eram todos elementos dos Skinheads Against Racial Prejudice (SHARP), inimigos dos cabeças rapadas de extrema-direita.
Seis dos 23 jovens foram violentamente agredidos ou ameaçados com armas de fogo. Machado participou direta ou indiretamente nestas agressões, escreveu o Expresso na sua edição de 26 de maio de 2007.
Na sequência de uma reportagem da RTP, de 2006, em que Machado mostrou uma caçadeira e disse que os nacionalistas estavam, se necessário, preparados para a luta armada, a PJ avançou e deteve, no dia seguinte, o líder dos PHS e da Frente Nacional.
Em 2008, Mário Machado é condenado a quatro anos e dez meses de prisão efetiva por discriminação racial, coação agravada, posse de arma ilegal, ameaças e dano e ofensa à integridade física qualificada. Em 2012, a pena aumenta para 10 anos por cúmulo jurídico.
Para ter hipóteses de aceder a uma redução da pena, Machado decidiu escrever uma carta ao Ministério Público a denunciar os seus camaradas dos PHS, nomeadamente como faziam assaltos a multibancos em supermercados. Os boneheads da PHS nunca lhe perdoaram a traição.
Em maio de 2014, Machado anunciou a sua saída dos PHS, acusando-os de serem um “caso de polícia”. Em 2017, após nova condenação por ameaça física à mulher do seu ex-camarada e novo líder da PHS João Dourado, sai em liberdade.
Livre da prisão, dedica-se à sua nova organização: a Nova Ordem Social (NOS). Machado fundou o grupo durante uma saída precária em 2014, mas só começa a ganhar expressão pública sob a sua liderança em liberdade. setentaequatro.pt/wiki/nova-orde…
Em 2018, Machado funda um novo grupo motard, os Red & Gold, filiado no Los Bandidos, históricos rivais dos Hells Angels mas com uma trégua acordada.
As ações do neonazi português põem em causa a frágil trégua entre estes motards.
Em 2019, a NOS organiza uma manifestação em homenagem a Salazar, em frente à Assembleia da República. A iniciativa garante-lhe um convite para ser entrevistado por Manuel Luís Goucha no programa "Você na TV" da TVI.
Em agosto de 2019, organiza uma conferência internacional que junta pequenos partidos neonazis de Itália, França, Bulgária, Alemanha e Espanha. Em novembro, anuncia a suspensão da Nova Ordem Social por "não encontrar ninguém que o substitua na liderança" e declara apoio ao CHEGA.
A NOS estava há meses com graves problemas internos. Surgiram suspeitas de desvio de fundos da conferência internacional por parte de Mário Machado. O círculo próximo do líder foi-se desmembrando e Machado ficou sem qualquer apoio real que pudesse manter viva a organização.
A 9 de novembro de 2021 é alvo de uma busca domiciliária pela PJ, no âmbito de uma investigação relacionada com a propagação de crimes de ódio. Mário Machado tinha em sua casa uma arma de fogo ilegal, acabando novamente detido.
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O líder dos PHS que sucedeu a Mário Machado (MM) foi Bruno Monteiro. A sua mulher foi ameaçada de morte por MM, quando este já se encontrava na prisão.
João Dourado, em tempos afilhado político de MM e membro dos PHS, foi mandatado para entregar a carta com a ameaça.
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Hoje, já viram tanta coisa nas redes, por certo saberão como nos correu o dia.
A ideia com que ficámos foi que fomos testemunhas de um evento histórico, um dia que será relembrado nas próximas décadas por todos aqueles que participaram - não só aqui em Glasgow, mas pelo mundo.
Mas se as ruas nos comoveram, pairou novamente no ar a dúvida. Serão o meio milhão de pessoas que se manifestaram pelo mundo ouvidas nos corredores da #COP26? Será a pressão popular suficientemente forte para fazer capitular a lógica do lucro?
Os Portugal Hammerskins (PHS) são o grupo neonazi mais violento em Portugal. Os seus membros foram responsáveis por vários ataques motivados por ódio racial, discriminação sexual e ideológica.
Criada em 2002, a sucursal portuguesa (chapter) faz parte da rede internacional neonazi Hammerskin Nation e já foi alvo de duas megaoperações da Unidade de Contraterrorismo da Polícia Judiciária.
A cultura bonehead entrou em Portugal na década de 1980 e teve como baluarte político o MAN, até este se autodissolver em 1992. Um grupo de militantes contrários à dissolução criou então a Frente de Defesa Nacional, cujos membros foram responsáveis pela morte de Alcindo Monteiro.
A Aginter Presse, oficialmente uma agência de imprensa com sede em Lisboa, foi uma das múltiplas coberturas que organizações europeias de extrema-direita usaram para implantar redes de espionagem por conta dos serviços secretos de Estados ocidentais.
Estabeleceram acordos de colaboração e operações próprias da "estratégia de tensão" com o fim de levar ao colapso os alicerces de governos de esquerda em qualquer lugar do mundo, que incluíam o uso de falsos movimentos de libertação, ou golpes de estado clássicos.
Começaram em África e depois passaram para a Europa. A ditadura portuguesa usou esta rede pois precisava de todas as armas para conduzir uma guerra colonial em três frentes militares, mas também para a frente diplomática, onde chegou a estar impedido de atuar no terreno.