Não ando acompanhando a seleção tanto quanto gostaria, mas fiquei feliz com a classificação para a Copa de 2022.
Eu sou fanático por copas do mundo! E apesar de toda a minha raiva da CBF e de tudo que ela representa (e passou a representar), eu torço, sim, para o Brasil em Copa.
2022 também vai ser a primeira copa de Tupaquinho, mas ele certamente não vai lembrar (assim como eu mesmo não lembro nada da Copa de 1986). Mas lá vou eu estimular o gosto pela coisa. Compra álbum, acompanha eliminatórias, vê chaveamento, faz simulação...
Diz que tudo tem origem, né? Meu gosto pra Copa vem em 1990, que meu pai fez pra mim uma tabela dos jogos da Copa na Itália. Eu tinha uma caneta daquelas com várias cores embutidas. Aí ele desenhou as bandeiras e os uniformes para eu identificar os times.
A nossa tabela caseira era muito legal, foi mais ou menos na época que eu me encantei pelos Atlas geográficos. Sabia as bandeiras e as capitais de todos os países que disputaram a Copa (na época, 24 países), conhecia os principais jogadores...
A Copa de 1990 foi, obviamente, um fracasso. Mas para o Fernando de 1990, foi um espetáculo. Ajudou a consolidar meu gosto por copas, mesmo com todos seus problemas.
É também um encontro com meu pai. E, quem sabe, um novo encontro com o Tupaquinho.
Vai saber, né? De repente em 2026 vamos estar fazendo uma tabela da Copa juntos, à mão, que nem a que meu pai fazia.
Seria um bom reencontro.
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
Uma das histórias que acho mais interessantes sobre o poder destruidor do colonialismo é a da destruição das cisternas indianas pelos ingleses, os chamados "baoli", criados lá pelo século III depois do JC.
Quando eu estava no Ensino Médio, eu lembro de ficar surpreso com as histórias de secas na Índia. O país cruzado por dois imensos rios, no meio de uma zona de monções... Como podia ter tanta seca e fome?
Anos depois, entendi que as monções são sazonais e que pode, sim, acompanhar longos períodos de seca. Mas mesmo assim, eu fiquei encafifado... Não tinha reservatório de água lá, não?
Achei importante aqui trazer uma contextualização. Pessoal rapidamente descobriu que a filmagem ocorreu no Annam, na Indochina francesa. Uma das senhoras é inclusive Blanche Doumer, a esposa do governador-geral da Indochina, Paul Doumer.
O que parece um ato de filantropia carregado de colonialismo ganha outra dimensão quando descobrimos quem são os Doumer. Governador-geral, Paul recebe uma tarefa: tornar a Indochina uma colônia lucrativa.
Isso porque, a colonização francesa na Ásia não ia lá muito bem. Conchinchina, Annam e Tonkim, os principais espaços colonizados pelos franceses, foram alvo de intensa resistência local. O reino do Dai Viet não conseguiu resistir, mas nobres e mandarins locais, sim.
Esse papo de "banalizar a linguagem" é muito doido, porque uns anos atrás se acusava a esquerda de banalizar o termo "neoliberal".
Eu, particularmente, não acho que banaliza. A galera luta por significados e se os termos se tornam moeda corrente e fazem sentido, qual o problema?
Eu sou historiador, acho fundamental a discussão sobre conceitos, eles precisam ser sempre contextualizados e significados. Mas assim: eles não são mortos. Se a galera ressignifica o Aécio como fascista, o erro é menos no conceito e mais no contexto...
Algumas pessoas sabem, mas meu alter-ego vem orientando uma pesquisa sobre saques na região Nordeste entre 1979 e 1994. Orientei três alunos nesse projeto que se encerrou semana passada e olha, gostei muito do trabalho deles.
A gente partiu de um problema político e histórico: os anos 1980 são marcados por um contexto de hiperinflação que ocasionou saques em supermercados no Sul-Sudeste do Brasil. Tem teses e dissertações sobre o tema. O básico: carestia e decadência da ditadura.
No Sul-Sudeste, a explicação era sempre de ordem econômica: a inflação alta, a perda do poder de compra, quando vê, bum! Revolta popular e saque em supermercado.
Contudo, no Nordeste, não teve incidência de saques? E se teve, a hiperinflação era a causa?
Ontem eu finalmente terminei de ouvir a entrevista do Mano Brown e do Lula.
Gostei e tal, me emocionei em algumas partes. Mas o que mais me pegou foi a rememoração do Brown sobre o comício em 2018.
Pra mim, é esse o evento que estrutura a entrevista. As perguntas sobre raça, sobre o que parte da periferia enxerga na direita, sobre alternância de poder, sobre a percepção popular de uma decadência do PT na expressão da revolta...tudo remete ao comício de 2018.
Bom, o próprio Brown fala isso na entrevista e rememora aquele dia, um dia que Lula não estava lá - pois estava preso por conta de um processo que, hoje sabemos, foi flagrantemente ilegal.
É doido que aquele esporro que Brown deu seja ainda o norteador.
A experiência em Thompson
.
Aproveitando a data, pensei em falar um pouquinho sobre um dos conceitos mais importantes da obra de E.P. Thompson e como ele revigora a tradição marxista.
Lembram da frase do Manifesto? Toda história até hoje é a história da luta de classes? Pois é, todo marxista começa por aí.
Mas luta de classes, em Marx, é um termo abrangente. Claro, as classes lutam - e no capitalismo, somos cada vez mais reduzido a duas posições:
Burgueses ou proletários.
Como muito do movimento do pensamento marxiano foi desvendar a formação e transformação do capital na sociedade, a luta de classes virou uma espécie de axioma.