Esse papo de "banalizar a linguagem" é muito doido, porque uns anos atrás se acusava a esquerda de banalizar o termo "neoliberal".
Eu, particularmente, não acho que banaliza. A galera luta por significados e se os termos se tornam moeda corrente e fazem sentido, qual o problema?
Eu sou historiador, acho fundamental a discussão sobre conceitos, eles precisam ser sempre contextualizados e significados. Mas assim: eles não são mortos. Se a galera ressignifica o Aécio como fascista, o erro é menos no conceito e mais no contexto...
...o que por sua vez, implica pensar o que é um fascista no século XXI, quais as práticas dos sujeitos que se aproximam do fascismo e tal.
"Ah, mas se tudo é fascista, nada é fascista".
É. Mas não é como se tudo fosse fascista também. O que tá em jogo é o Aécio...
E eu nem acho que o neto do Tancredo é fascista - pra mim, ele representa uma tradição mais "colombiana" de política, vide a história dos aeroportos da família.
Mas né...não vou encanar com a adjetivação do movimento. Isso faz parte da luta.
E aí um lance complicado: achar o conceito adequado para definir o adversário pode demorar muito tempo, anos até. Enquanto isso, o rolo compressor tá passando. Acho que elencar prioridades nesse aspecto é salutar.
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
Algumas pessoas sabem, mas meu alter-ego vem orientando uma pesquisa sobre saques na região Nordeste entre 1979 e 1994. Orientei três alunos nesse projeto que se encerrou semana passada e olha, gostei muito do trabalho deles.
A gente partiu de um problema político e histórico: os anos 1980 são marcados por um contexto de hiperinflação que ocasionou saques em supermercados no Sul-Sudeste do Brasil. Tem teses e dissertações sobre o tema. O básico: carestia e decadência da ditadura.
No Sul-Sudeste, a explicação era sempre de ordem econômica: a inflação alta, a perda do poder de compra, quando vê, bum! Revolta popular e saque em supermercado.
Contudo, no Nordeste, não teve incidência de saques? E se teve, a hiperinflação era a causa?
Ontem eu finalmente terminei de ouvir a entrevista do Mano Brown e do Lula.
Gostei e tal, me emocionei em algumas partes. Mas o que mais me pegou foi a rememoração do Brown sobre o comício em 2018.
Pra mim, é esse o evento que estrutura a entrevista. As perguntas sobre raça, sobre o que parte da periferia enxerga na direita, sobre alternância de poder, sobre a percepção popular de uma decadência do PT na expressão da revolta...tudo remete ao comício de 2018.
Bom, o próprio Brown fala isso na entrevista e rememora aquele dia, um dia que Lula não estava lá - pois estava preso por conta de um processo que, hoje sabemos, foi flagrantemente ilegal.
É doido que aquele esporro que Brown deu seja ainda o norteador.
A experiência em Thompson
.
Aproveitando a data, pensei em falar um pouquinho sobre um dos conceitos mais importantes da obra de E.P. Thompson e como ele revigora a tradição marxista.
Lembram da frase do Manifesto? Toda história até hoje é a história da luta de classes? Pois é, todo marxista começa por aí.
Mas luta de classes, em Marx, é um termo abrangente. Claro, as classes lutam - e no capitalismo, somos cada vez mais reduzido a duas posições:
Burgueses ou proletários.
Como muito do movimento do pensamento marxiano foi desvendar a formação e transformação do capital na sociedade, a luta de classes virou uma espécie de axioma.
Amigos relatando que o Novo Ensino Médio vem sendo implementado e com ele os cortes de carga horária e demissões - em especial nas humanidades.
Quando penso que essa discussão começou lá nos anos Dilma e que já naquela época pessoal falava que ia dar merda, só consigo ter raiva.
"Ah, mas a culpa não foi do governo".
De fato. Quem executou a reforma foi o Temer e o Mendoncinha (aquele meliante com diploma de advogado), que deram todo o seu tempero pessoal para a coisa. A BNCC que o diga.
E mais: essa reforma foi tocada às pressas por um governo ilegítimo, golpista, sem debate com a sociedade civil.
Aí deixaram para o governo Bolsonaro e os governos estaduais executarem.
Só que foi o PNE 2014 que apontou a necessidade da reforma.
Não sou especialista no tema, mas acho curioso certos léxicos chineses que são análogos à socialismo. "Prosperidade comum" parece muito com o "Bem viver", dos 3 princípios de Sun Yat-Sen.
Nos últimos dias tenho conversado com o pessoal que se afirma como marxista libertário sobre a China. Eles insistem que a China é capitalista e acho que, para eles, considero que a China é socialista. Ou que não é capitalista. Mas o buraco é mais embaixo e por isso fiz esse fio.
Eu compreendo as posições teóricas que chamam a China de capitalismo de Estado, ou Estado operário degenerado, ou qualquer outra nomenclatura que tenha nascido no movimento trotskista. Sou um trotskista desgarrado, então conheço um pouco desse paranauê.
Mas tenho alguns incômodos com essa discussão.
O primeiro deles é que modo de produção não se reduz a um país. Para quem é anti-stalinista, não creio que há divergência, mas é bom ressaltar. Não existe socialismo num só país. Não existe capitalismo num só país.