Thread by @mellziland

Quando que nos tornamos pessoas que entendem possibilidades como extremos ("é" ou "não é")? Deveríamos já ter uma noção maior, vivendo uma pandemia, que a ciência é dinâmica. Que indicativos/dados preliminares podem ser bons ou ruins, mas ainda sim precisam ser confirmados.

A gente teve ontem um super dado preliminar da Pfizer com relação a #Omicron que precisa ser completamente apresentado, confirmado e ampliado, mas é um indicativo positivo. Estamos vendo casos menos graves em vacinados, o que é outro indicativo positivo.

Mas precisamos de estudos maiores, mais específicos para entender com maior propriedade o que isso significa. Esses estudos podem muito bem confirmar esses dados preliminares, ou trazer algumas diferenças importantes. Fruto do nosso avanço de conhecimento

Portanto, quando vocês lerem "dados preliminares" entendam que não é, de longe, um extremo. O martelo nem sequer foi levantado para se considerar batido. É um indício, e temos que persegui-lo para entender se estamos diante de uma possível evidência. E isso se faz com mais dados.

É um exercício difícil esse, aceitar que o mundo não é cheio de certezas, e sim de probabilidades. Que vivemos baseado em probabilidades. Existem coisas com uma chance irrisória de acontecer/não acontecer. E a ciência é a melhor métrica pra apontar onde as probabilidades estão

E isso trabalha ao nosso favor, frequentemente. Porque quando usamos a ciência para entender o mundo, estamos diante de uma ferramenta que tem como princípio avaliar para qual lado as probabilidades estão apontando, e quais os riscos que temos ao tomar decisões.

Portanto, é natural e esperado que algo extremamente novo, onde as probabilidades podem estar apontando para vários lados, a gente comece com indicativos que precisam de confirmação. É a limitação que o hoje traz, e a promessa do amanhã trazer ainda mais.

A situação é de muita ansiedade, e esse fio não ajuda muito a lidar com ansiedade, porque seres humanos buscam certezas, não adianta. Mas comecem a refletir se o mundo é de fato isso, feito de certezas. Se não estamos criando uma zona de certezas pra tentar lidar com a realidade.

Quando finalmente a gente abraça a percepção de que probabilidades regem nossa existência, as coisas não perdem sua magia ou encanto. Não se tornam mais assustadoras. Mas tudo ganha um sabor extra de real. As escolhas ficam mais significativas. As conquistas ficam mais animadoras

Portanto, nesse mundo de incertezas e com requintes de ansiedade, entenda que a ciência é dinâmica, e ainda sim, nossa melhor bússola pra apontar caminhos, mesmo que eles mudem, segue sendo nosso melhor ponto de orientação.