Na moral, eu me emociono muito por ter conhecido a psicologia histórico-cultural kkkkkk.

Antes de conhecê-la, eu praticamente me sentia deslocado na psicologia, tanto é que, por esse motivo, me dedicava muito mais a estudar saúde mental e reforma psiquiátrica que "abordagens".
A primeira teoria que me interessei foi psicanálise. Não demorou muito pra saber que não era minha vibe. Cheguei a fazer cursos, iniciação científica, análise e tal, mas, em pouco tempo, não me via mais tendo interesse por ela.
Depois disso me interessei pela abordagem centrada na pessoa. Essa demorei um pouco mais. Li boa parte das obras do Rogers em português e achava que tinha encontrado meu lugar na psicologia. Mas, ainda assim, não me identificava muito com meus pares.
Pra ter ideia, nunca cheguei sequer a ir em um evento sobre psicologia humanista porque achava as discussões pouco interessantes. Não tinha muita coisa diferente e sempre me incomodei com o fato da ACP, mesmo no Brasil, ter uma tradição muito liberal (por vezes, despolitizante).
Depois dessa segunda crise, entrei meio que em desespero, achando que nunca ia conseguir ter a sensação de pertencimento que meus colegas tinham ao falar "minha abordagem" kkkkkk. Eu pensava: até quando vou ficar tendo crises teóricas assim? Kkkk
Foi aí que passei a ler praticamente tudo pela minha frente sobre psicologia pra ver algo chamava minha atenção. Foi uma época angustiante, onde sai lendo coisas sobre TCC, Psicologia Analítica, gestalt. A sensação era: não é possível que não tenha nada que me interesse!
Até psicologia transpessoal eu li. Obviamente, rolou menos ainda.
Bom, a superação dessa crise se deu meio que da seguinte forma "se não rola uma identificação genuína com nenhuma, vou pelo menos me aquietar com a que tenho mais propriedade". Foi aí que achei que seria acpista para sempre. Mesmo com todas as contradições.
Quando já tinha me conformado com isso, eis que, pesquisando algum podcast pra ouvir enquanto lavava a louça, encontro o episódio "Psicologia Marxista", do Rio Que Tudo Arrasta.
Nossa, foi como se eu tivesse encontrado meu lugar no mundo kkkkkk. Finalmente eu conseguia me identificar com o que tava sendo dito. Cada frase, cada ideia apresentada, eu reagia com "sim! É isso! Finalmente!".
Lembro que fiquei: 1) puto porque nunca tinha ouvido falar sobre aquilo na minha graduação, 2) puto porque o Vigotski que me foi apresentado na graduação não tinha nada a ver com o que tava ouvindo, 3) muito feliz porque finalmente tinha encontrado aquilo.
Infelizmente, o podcast não tá mais ativo. Também não sei se já agradeci o suficiente aos camaradas do RQTA pelo episódio. De qualquer forma, aproveito pra agradecer publicamente pelo trabalho impecável de divulgação científica na internet. Realmente mudou minha vida.
Hoje somos amigos e tive o privilégio de gravar com eles em outras oportunidades. Na moral, se não fosse isso, talvez até hoje estivesse nessa crise
Enfim, tudo isso pra dizer que ter conhecido a psicologia histórico-cultural foi muito importante pra mim e mudou radicalmente minha relação com a psicologia. Não é mais um trabalho árduo de manejar contradições como antes. É uma coisa que me deixa feliz, que me identifico.

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