Fio bem importante discutindo os resultados preliminares da redução de imunidade contra a Omicron e como isso poderia ser transposto para proteção vacinal e hospitalização. Seguem tuítes sobre o que podemos interpretar desses resultados PRELIMINARES que carecem de confirmação.
Os 3 estudos em questão estimaram de formas diferentes o quanto anticorpos presentes no sangue de pessoas vacinadas barram o vírus em laboratório. Ou seja, não são dados da vida real. Para estimar o que isso significa, rola uma extrapolação que, por natureza, não vai ser exata.
A Omicron parece precisar de 7 a 40 vezes mais anticorpos para ser barrada em testes tanto quanto o Sars-CoV-2 original. Com mais chances de estar mais próximo de 40x. É uma redução brutal, a maior vista em uma variante até agora. Mas ela não escapa completamente.
Nossa resposta imune funciona produzindo bastante anticorpos depois de uma vacina ou da doença e essa quantidade vai caindo com o tempo. No caso da Omicron, isso quer dizer que ela poderia infectar as pessoas antes dos anticorpos caírem tanto quanto outras variantes precisam.
Então as vacinas atuais e a imunidade de curados deixam de funcionar mais cedo ou funcionam em menos pessoas do que para outras variantes até aqui. O quanto isso cai? Não sabemos.
Se o que foi visto para outras variantes também se aplicar à Omicron, esses resultados implicariam em uma queda de efetividade de duas doses de uns 10% de hospitalização e de 40 a 60% de chances de infecção.
Ou seja, um pouco mais de vacinados com 2 doses teriam risco de hospitalização e vários teriam mais chances de pegar e transmitir o vírus. Isso para as vacinas de RNA usadas lá fora, não sabemos pra AZ e CoronaVac. Mas ainda está dentro do que a dose de reforço recuperaria.
São resultados preliminares, ainda demora tempo pra conferirmos isso e não sabemos sobre outros fatores como a severidade da doença. Mas só de saber que a proteção contra hospitalização continua alta, é um ótimo sinal de que podemos ter a situação mais controlada no Brasil.
Estamos cada vez mais ágeis em detectar variantes e fazer esse tipo de estimativa. E são resultados bastante animadores em relação à dose de reforço. Até a Delta, geralmente medimos isso quando o estrago já estava feito. Agora temos chances de correr para vacinar mais.
Dito isso, especialmente onde não temos boa cobertura vacinal no interior do Brasil nem com a 1a dose, ainda podemos ver ondas sérias se não apertarmos a vacinação. Quando chegar na sua vez, corre pro reforço.
Inclusive pq os resultados começam a mostrar que o reforço restaura a proteção:
Nós temos um mês, talvez dois para nos prepararmos para a Omicron. No mínimo deveríamos ter uma campanha massiva para todos os estados passarem de 70% de vacinados. Só temos a ganhar com isso. E vai poupar leito e oxigênio.
Campanha de uso de máscara, campanha de dose de reforço, cobrança de passaporte vacinal, investir de verdade nos testes que o ministro da saúde anunciou e não cumpriu... ainda dá tempo.
Fevereiro de 2020: "a China escondeu casos, a letalidade não é 1%"
Março: "foram 3 mil mortes entre +de 1 bi de chineses, tranquilo"
Dezembro: "2021 tem vacina, vai ser tranquilo"
...
Dezembro de 2021: "casos de Omicron são leves"
Sempre contando com a sorte.
A Omicron parece ser tão mais transmissível que os primeiros dados já aparecem. Ela se espalha bem mais do que a delta na África do Sul, onde se estima que a maioria das pessoas já teve COVID. Ou é tão mais transmissível que parece implausível, ou infecta muitos curados. Um fio.
Para crescer com a velocidade que ela tem crescido – ela já predominou em outras comunidades – ou ela se espalha mais do que o sarampo entre quem não teve COVID, a doença respiratória mais transmissível que conhecemos. Ou se espalha entre quem já está imune.
Menos de 1/4 do país foi vacinado com duas doses, o que não explicaria esse espalhamento. E por dados de outros países, ela não parece infectar tanto os vacinados – o que ainda precisa ser confirmado nas próximas semanas.
O @minsaude corrigiu minha info e respondeu à requisição de quem alterou meus dados no CadSUS. A alteração foi feita com a credencial (agora bloqueada) de um médico de Porto Velho/RO, que também me marcou como morto, fez apologia nazista e outras ofensas. Agradeço pela resposta.
Quem fez isso usou um serviço de VPN com saída em Brasília, mas os dados de acesso ficam no sistema. Ainda estamos vendo os próximos passos. E ainda quero saber se todo mundo que tem CNES tem acesso a todos os dados do CadSUS e pode alterar dessa forma.
Tenho martelado muito que não adianta fechar fronteiras para países africanos para parar a Omicron. Segue um fio sobre os motivos para não fechar e o que queremos incentivar para detectar as próximas variantes e descobrir se são perigosas.
O @Tuliodna, que liderou esse achado, tem sido muito explícito sobre o que detectou, em quais grupos, como é a Omicron, quais mutações tem e como isso não implica em todos os casos serem da África do Sul. Qual foi a “recompensa” por esse trabalho? O isolamento do país.
Mesmo se a África do Sul fosse a origem e o único local com a Omicron, fechar fronteiras no máximo adia a circulação dela. Testar quem chega, fazer isolamento e exigir vacinação pode funcionar tanto quanto ou melhor, com uma grande diferença: não pune quem fez o trabalho certo.
Fio sobre a nova variante encontrada por pesquisadores na África do Sul. Parece ser bastante transmissível, mas ainda é cedo pra confirmar. Ela pode ter dado a “sorte” de embarcar em um momento de maior transmissão. Já estão testando se ela tem ou não escape de imunidade.
Conforme saírem testes e mais info, compartilho. Mas ainda acho bem cedo para ficar preocupado. Precisaríamos ver essa transmissão maior dela sobre a delta por mais tempo ou em mais locais para realmente ficar em alerta.
De qualquer forma, o fato de ser encontrada na África do Sul pode mostrar algo mais. O vírus não né necessariamente surgiu lá, ele foi detectado lá primeiro. Mas ele circula no continente que tem a menor vacinação. Ou seja, onde ainda tem muita gente vulnerável.
Sobre a variante do coronavírus recombinante, um pequeno fio
Ela é uma mistura de duas linhagens que circularam entre EUA e México. Se dois coronavírus diferentes infectam uma mesma pedia, ele é capaz de fazer isso e combinar o que os dois vírus têm melhor.
Neste caso, foi um pedacinho de um vírus com grande parte de outro. E não parece ter resultado em uma variante mais transmissível do que a Delta. Mas é importante acompanhar esse tipo de evento, pq isso poderia combinar um vírus mais transmissível com outro que escape de vacinas.
Só não entendo pq comentam que o SARS-CoV-2 (da COVID) vai se recombinar com o vírus da MERS. Até são próximos, mas precisam se encontrar em um mesmo hospedeiro. São pouquíssimos casos de MERS por ano. Sem falar que o vírus resultante precisaria ser “melhor” que os originais.