A consulta pública que a dupla BolsoNero e Queirodes (by @sobotelha) promove para impedir a vacinação de crianças, tem componentes especialmente bizarros.
Segue o fio.
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Entre os documentos disponíveis para a leitura das pessoas interessadas, na página da consulta, há um de 27 páginas e linguajar técnico, incompreensível para quem não for do ramo da saúde ou, ao menos, habituado à linguagem acadêmico-científica.
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Até gráficos e tabelas com termos técnicos em inglês o documento tem. Quem o Ministério da Saúde acha que vai esclarecer com tal material? Já que quis promover a surreal consulta pública sobre vacinação de crianças, aprovada internacionalmente e pela ANVISA, deveria facilitar.
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E a pergunta sobre como se soube da Consulta Pública?!
Lista-se Diário Oficial, site do Ministério, Redes Sociais (Bolsonarismo adora), sindicatos, turma do Zap, e-mail.
Não seria mais provável saber pela IMPRENSA? Cadê rádio, TV, sites de notícias...?
Bolsonarismo detesta.
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Ademais, a pergunta feita com uma negativa confunde os respondentes. Na questão 14, como fica quem concorda com a vacinação compulsória? Essa opção não existe? Responder "não" a essa questão significa ficar contra a não-compusoriedade ou contra a vacinação de crianças?
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As perguntas são todas formuladas para induzir respostas favoráveis às preferências do desgoverno.
E, novamente, na questão 18, pergunta-se sobre uma negação. O correto seria perguntar se as pessoas são favoráveis à "obrigatoriedade", em vez da "não obrigatoriedade".
Confunde.
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E ainda parece piada perguntar se a pessoa respondente tem contribuições sobre o documento apresentado – aquele, de linguajar técnico e partes em inglês, incompreensível por uns 90% da população brasileira, pelo menos.
É um escárnio.
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Se é para discutir sobre e contribuir para um documento técnico, que se chamem os técnicos.
Ora, ora... Mas os técnicos já se manifestaram. São até citados no documento. São aqueles da Anvisa, que BolsoNero expôs a ameaças e intimidações pela turba que lhe segue.
Bolsonaresco.
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O show de horrores da Prevent Senior tem um ingrediente bizarro, de aparente humor sádico, diante do que se descobre ter sido feito contra pacientes e funcionários.
Os donos da empresa, irmãos, têm uma banda de rock, chamada "Doctor Phiebes".
Explico por que é tão bizarro.
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"Doctor Phibes" com esta grafia, é um personagem macabro, interpretado por Vincent Price, grande estrela dos filmes de terror dos anos 60/70.
Era um músico que perpetrava atrocidades contra médicos por vingança, usando de expedientes clínicos macabros.
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Isso rendeu dois filmes, cujos títulos indicam o quão macabro era esse Doutor Phibes.
"O Abominável Dr. Phibes" e "A Câmara de Horrores do Abominável Dr. Phibes". pt.wikipedia.org/wiki/The_Abomi…
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O que explica que estratos sociais que prosperaram durante governos de esquerda apoiem políticos de extrema-direita, com Jair Bolsonaro, Rodrigo Duterte ou Narendra Modi?
No Brasil, em especial, grande contingente de pessoas emergiu das assim chamadas classes D e E para a C, elevando seu padrão de consumo e de qualidade de vida, mas renegou o PT, apoiando Bolsonaro em 2018.
Dr. Frankenstein.
Aprecia mais a ciência do que BolsoNero, mas tem tudo para se dar bem com o presidente, pois seu uso da medicina cria monstros incontroláveis.
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Dr. Jekyll.
Como BolsoNero, Dr. Jekyll tem seus dias. Dias de fúria, como o presidente. Não aceitaria se não estivesse num desses dias, mas toparia de imediato no outro caso.
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A meu ver, se Bolsonaro deteriorar muito, o candidato de centro tem chance de crescer como a opção à direita do Lula. À direita, seja de centro-esquerda, centro-centro, centro-direita ou direita moderada. Isso põe Ciro no jogo, caso ele se movimente para a direita do espectro.
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Quanto ao Mandetta ele não é o maior exemplar originariamente da direita moderada, ou, ao menos, nunca foi) – por isso entrou no governo Bolsonaro. Porém, ele tem sido percebido assim e pode se vender assim.
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A decisão de Fachin põe não só Lula, mas também o PT, de volta no jogo de 2022 com força.
Isso altera totalmente o quadro eleitoral. Bolsonaro pode se beneficiar em alguma medida, já que se apresenta como o anti-Lula.
A questão é que o inverso também é verdadeiro:
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Nada mais anti-Bolsonaro que Lula e PT. Como o desgaste de Bolsonaro na trágica condução da pandemia e da economia produz cada vez mais efeitos (pesquisa IPEC da semana que passou), ser anti-Bolsonaro é muito interessante. E, quanto mais anti-Bolsonaro, melhor eleitoralmente.
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Isso atrapalha candidaturas alternativas à de Lula na centro-esquerda e na esquerda (Ciro) e, teoricamente, abre espaço para uma candidatura autenticamente centrista. O problema é que tal candidatura centrista só existe em teoria.
Huck já acusou o golpe.
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A noção bolsonaresca de liberdade é a da falta completa de autocontenção, de limites que considerem as consequências dos atos, em especial para terceiros. Daí a volúpia por tirar radares das estradas, derrubar regras ambientais ou sabotar as medidas de isolamento social.
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Contudo, essa ideia, embora forte no bolsonarismo, não é originária dele e tem raízes antigas no pensamento direitista brasileiro. O velho clamor contra a "indústria de multas" se baseia nessa mesma noção obtusa, egoísta e inconsequente de liberdade. Não é a liberdade liberal.
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Trata-se, na verdade, da liberdade do estado de natureza hobbesiano, da guerra de todos contra todos, da lei do (ocasionalmente) mais forte. É a liberdade do "direito de todos a tudo", que redunda no direito de ninguém a nada, na barbárie. Isso guia as ações desse governo.
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