A noção bolsonaresca de liberdade é a da falta completa de autocontenção, de limites que considerem as consequências dos atos, em especial para terceiros. Daí a volúpia por tirar radares das estradas, derrubar regras ambientais ou sabotar as medidas de isolamento social.
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Contudo, essa ideia, embora forte no bolsonarismo, não é originária dele e tem raízes antigas no pensamento direitista brasileiro. O velho clamor contra a "indústria de multas" se baseia nessa mesma noção obtusa, egoísta e inconsequente de liberdade. Não é a liberdade liberal.
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Trata-se, na verdade, da liberdade do estado de natureza hobbesiano, da guerra de todos contra todos, da lei do (ocasionalmente) mais forte. É a liberdade do "direito de todos a tudo", que redunda no direito de ninguém a nada, na barbárie. Isso guia as ações desse governo.
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Como apontado, porém, o bolsonarismo não inventou a coisa, que tem raízes profundas na sociedade brasileira. Isso que foi feito em Rondônia é típico dessa forma curtoprazista, inconsequente e egoísta de raciocínio. Supõe possível enganar a realidade, bancando o esperto.
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É a esperteza de otário, que traz consequências não só para o esperto-otário que a pratica, mas aos demais, iludidos por ele ou não. É um crime e, como tal, deve ser tratado.
Ninguém se engane: a fraude de Rondônia é similar à do tratamento com cloroquina. noticias.uol.com.br/saude/ultimas-…
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O estrago marketeiro que Dória produziu sobre a vacina do Butantã lembra muito a escorregada dele, ainda prefeito, no caso da Farinata – a ração humana.
Explico neste fio.
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Empolgado com as ações de marketing em sequência, o então prefeito não se deu conta de que propor alimentar pobres com ração pegaria mal. Não deu bola para admoestações de seus auxiliares e foi em frente, achando que iria abafar com mais uma medida de impacto. Saiu chamuscado.
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Agora, percebeu corretamente a importância da vacinação para superar a pandemia, mas se enrolou nas próprias pernas, exagerando na tentativa de faturar em cima. Envolveu cientistas do Butantã em sua campanha de autopromoção, forçando a barra na divulgação de prazos e dados.
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A discussão sobre a banalidade do mal no governo BolsoNero, que teve lugar nos últimos dias, parece ter tido um problema de foco.
A banalidade do mal não concerne só a ser membro de um governo que perpetra barbaridades, mas de ser cúmplice - especificamente - das barbaridades.
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Desse modo, os servidores públicos de um modo geral, que seguem fazendo seu trabalho diligentemente, não podem ser considerados parte dos que banalizam o mal. Mesmo porque, o Estado precisa continuar funcionando para nos prover serviços básicos, independentemente do governante.
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A coisa se complexifica na medida em que sobe na hierarquia governamental e sai da dimensão puramente burocrática para adentrar à política - mas não só.
Por dimensão burocrática entenda-se não apenas ser um servidor comum, mas dar seguimento a atividades corriqueiras e normais.
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Ao apelar novamente para “o povo”, como se esse fosse um ente unitário e, assim, unitariamente houvesse lhe apoiado na eleição – e ainda continuasse apoiando –, BolsoNero comete diversas falácias populistas e, portanto, autoritárias.
Vamos a elas.
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1) Não há povo unitário. Em democracias, necessariamente, o povo é composto de uma imensa pluralidade de indivíduos, grupos sociais, visões de mundo, valores, ideologias, preferências, interesses etc..
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2) A suposta vontade do povo não se expressa de forma definitiva na eleição. Essa vontade – que não é unitária, tendo em vista a já mencionada pluralidade – também não é permanente; muda o tempo todo. O que se decidiu num momento não vigora necessariamente depois.
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A péssima entrevista do péssimo General Ramos chamou muito a atenção pela ameaça semivelada de golpe. Mas há outros pontos interessantes.
Vamos a eles.
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Normalizou o presidencialismo de coalizão, cuja detratação foi fundamental para eleger BolsoNero. Ele tem razão no que diz sobre a normalidade de dividir o poder com quem tem voto no Congresso e entrega. Porém, dizer que era anormal foi crucial para hoje ele estar nesse cargo.
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Claro que disse que há diferença, afinal com eles o Centrão leva, mas não rouba. Colocaram “gente nossa” para controlar o cofre. Ou seja, a solução não vem da negação da política, mas dos “homens de bem” nos lugares certos. E os homens de bem são eles. ¡La garantia soy yo!
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Há quem interprete a nova barbaridade proclamada por Bolsonaro como cortina de fumaça. Nomeou genro de Silvio Santos, criando novo Ministerio, agradando simultaneamente PSD e mídia chapa-branca. Daí, insuflar bolsominions a invadir hospitais seria diversionismo.
Será?
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A teoria da cortina de fumaça vem desde o início do governo, mas não me convence. Primeiro, porque proclamar absurdos sempre foi o modus operandi bolsonaresco, desde que entrou na política. Não havia o que cobrir com cortinas de fumaça. O ultraje é o que o Bolsonarismo entrega.
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Foi assim que se construiu o “mito”. Para a patuscada, sedenta por um discurso ultrajante, isso é um maná. Mobilizar incessantemente a turba é a finalidade principal desse governo-movimento. As políticas públicas propriamente ditas, importam pouco.
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Haverá momento, em futuro não distante, em que a participação e apoio ao desgoverno BolsoNero serão uma nódoa indelével. Os cúmplices desse projeto criminoso, em cargos ou na sociedade civil, serão vistos como párias. Alguns farão o mea-culpa e talvez tenham alguma redenção.
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Outros, covardes, tentarão se esconder, ou negar o que fizeram e o que coonestaram. A fila dos ignominiosos será puxada pelos militares brasileiros, que permanecem associados a esse projeto nefasto, maculando a farda. Mas não estarão sozinhos em breve, como já não estão agora.
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Terão a companhia da bolsoburguesia canalha, que apoia qualquer coisa, desde que ache que será bom para seus negócios. Ou, pior ainda, a bolsoburguesia facinora, que apoia até mesmo sabendo que atrapalha os negócios. Mas ela também não estará sozinha, como já não está agora.
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