A meu ver, se Bolsonaro deteriorar muito, o candidato de centro tem chance de crescer como a opção à direita do Lula. À direita, seja de centro-esquerda, centro-centro, centro-direita ou direita moderada. Isso põe Ciro no jogo, caso ele se movimente para a direita do espectro.
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Quanto ao Mandetta ele não é o maior exemplar originariamente da direita moderada, ou, ao menos, nunca foi) – por isso entrou no governo Bolsonaro. Porém, ele tem sido percebido assim e pode se vender assim.
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Nesse espaço ao centro (não “de centro”) eu não o descartaria por completo. Pelo contrário, acho que ele tem boa chance de crescer sem sofrer a rejeição que um paulista como o Doria sofreria.
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Dr. Frankenstein.
Aprecia mais a ciência do que BolsoNero, mas tem tudo para se dar bem com o presidente, pois seu uso da medicina cria monstros incontroláveis.
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Dr. Jekyll.
Como BolsoNero, Dr. Jekyll tem seus dias. Dias de fúria, como o presidente. Não aceitaria se não estivesse num desses dias, mas toparia de imediato no outro caso.
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A decisão de Fachin põe não só Lula, mas também o PT, de volta no jogo de 2022 com força.
Isso altera totalmente o quadro eleitoral. Bolsonaro pode se beneficiar em alguma medida, já que se apresenta como o anti-Lula.
A questão é que o inverso também é verdadeiro:
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Nada mais anti-Bolsonaro que Lula e PT. Como o desgaste de Bolsonaro na trágica condução da pandemia e da economia produz cada vez mais efeitos (pesquisa IPEC da semana que passou), ser anti-Bolsonaro é muito interessante. E, quanto mais anti-Bolsonaro, melhor eleitoralmente.
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Isso atrapalha candidaturas alternativas à de Lula na centro-esquerda e na esquerda (Ciro) e, teoricamente, abre espaço para uma candidatura autenticamente centrista. O problema é que tal candidatura centrista só existe em teoria.
Huck já acusou o golpe.
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A noção bolsonaresca de liberdade é a da falta completa de autocontenção, de limites que considerem as consequências dos atos, em especial para terceiros. Daí a volúpia por tirar radares das estradas, derrubar regras ambientais ou sabotar as medidas de isolamento social.
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Contudo, essa ideia, embora forte no bolsonarismo, não é originária dele e tem raízes antigas no pensamento direitista brasileiro. O velho clamor contra a "indústria de multas" se baseia nessa mesma noção obtusa, egoísta e inconsequente de liberdade. Não é a liberdade liberal.
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Trata-se, na verdade, da liberdade do estado de natureza hobbesiano, da guerra de todos contra todos, da lei do (ocasionalmente) mais forte. É a liberdade do "direito de todos a tudo", que redunda no direito de ninguém a nada, na barbárie. Isso guia as ações desse governo.
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O estrago marketeiro que Dória produziu sobre a vacina do Butantã lembra muito a escorregada dele, ainda prefeito, no caso da Farinata – a ração humana.
Explico neste fio.
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Empolgado com as ações de marketing em sequência, o então prefeito não se deu conta de que propor alimentar pobres com ração pegaria mal. Não deu bola para admoestações de seus auxiliares e foi em frente, achando que iria abafar com mais uma medida de impacto. Saiu chamuscado.
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Agora, percebeu corretamente a importância da vacinação para superar a pandemia, mas se enrolou nas próprias pernas, exagerando na tentativa de faturar em cima. Envolveu cientistas do Butantã em sua campanha de autopromoção, forçando a barra na divulgação de prazos e dados.
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A discussão sobre a banalidade do mal no governo BolsoNero, que teve lugar nos últimos dias, parece ter tido um problema de foco.
A banalidade do mal não concerne só a ser membro de um governo que perpetra barbaridades, mas de ser cúmplice - especificamente - das barbaridades.
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Desse modo, os servidores públicos de um modo geral, que seguem fazendo seu trabalho diligentemente, não podem ser considerados parte dos que banalizam o mal. Mesmo porque, o Estado precisa continuar funcionando para nos prover serviços básicos, independentemente do governante.
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A coisa se complexifica na medida em que sobe na hierarquia governamental e sai da dimensão puramente burocrática para adentrar à política - mas não só.
Por dimensão burocrática entenda-se não apenas ser um servidor comum, mas dar seguimento a atividades corriqueiras e normais.
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Ao apelar novamente para “o povo”, como se esse fosse um ente unitário e, assim, unitariamente houvesse lhe apoiado na eleição – e ainda continuasse apoiando –, BolsoNero comete diversas falácias populistas e, portanto, autoritárias.
Vamos a elas.
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1) Não há povo unitário. Em democracias, necessariamente, o povo é composto de uma imensa pluralidade de indivíduos, grupos sociais, visões de mundo, valores, ideologias, preferências, interesses etc..
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2) A suposta vontade do povo não se expressa de forma definitiva na eleição. Essa vontade – que não é unitária, tendo em vista a já mencionada pluralidade – também não é permanente; muda o tempo todo. O que se decidiu num momento não vigora necessariamente depois.
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