O interesse na verdade nos leva a ajustar vocabulário de acordo com a precisão das ideias. Podemos até optar por termo mais ambíguo se estivermos ambivalentes. Já o desinteresse faz vandalismo semântico: qualquer coisa é igual ou diferente de qualquer outra, se é conveniente.
O desinteressado na verdade está interessado em outra coisa. Ganho pessoal, p. ex. Os identitários são notórios nisso. Hoje racismo pode ser preconceito e discriminação injusta baseado em raça, qualquer que seja ela. Amanhã poderá ser qualquer incômodo sofrido por pessoa negra.
Digo o mesmo a respeito dos Ungidos da Pandemia (é escola de samba? Iemanjá que os afogue): hoje antivax pode ser uma pessoa que é contra a BCG e a antitetânica, amanhã poderá ser qualquer um que tenha algo diferente de um elogio a dizer a respeito de passaporte da vacina.
Outro motivo para desinteresse na verdade é que autoritários gostam de brincar de "reizinho mandou" com quem se deixa empurrar, como teste de subserviência. Orwell capturou esse efeito em 1984: hoje a Oceania esteve em guerra contra a Eurásia, e sempre esteve. Amanhã, nunca.
Essa atitude é bullshit (papo furado) no sentido técnico do termo desenvolvido por Harry Frankfurt. Enquanto o mentiroso se importa com a verdade o suficiente para ocultá-la e emitir o seu inverso, o emissor de papo furado não se importa com o valor-verdade do que diz.
O papo furado da pandemia foi bem assim: hoje, máscara sim, amanhã, máscara não. Hoje, vacina protege 100%, amanhã, não-vacinados são ameaça a vacinados (não contam que há estudo com vacina para vírus de frango que mostra que a imperfeição da vacina leva a cepas mais letais).
Ora, é exatamente um joguinho de 'reizinho-mandou' em que o reizinho é a OMS, o Fauci, o NIH. É tudo um repeteco de opinião de autoridade, em que a plausibilidade do que é defendido no mínimo fica em segundo plano.
Alguns poderão responder que essa aparência de vai-e-vem de opinião é natural conforme novas evidências são coletadas. Que o que eu descrevi parece aquela opinião de leigo sobre a ciência dizer hoje que ovo faz bem e amanhã que faz mal, que é, de fato, uma percepção incorreta.
É um bom ponto, mas tenho resposta. O uso de máscaras sempre teve plausibilidade. Não foi proposto desde o começo não porque estudos diziam isso ou estudos diziam aquilo, nós sabíamos que não havia estudo realmente bom, e só agora saiu um bom de Bangladesh. Foi 'reizinho mandou'.
É por isso que intensifiquei ainda mais minhas críticas que eu já fazia a "divulgadores de ciência" no começo da pandemia. Eu via que estavam brincando de reizinho mandou com OMS e NIH. Ora, isso significa que esse povo não lê nem mesmo Feynman, que tinha horror a autoridades.
Voltando ao meu ponto mais epistemológico, o que estou tentando apontar é que, quanto menor prioridade tem a verdade na cabeça de uma pessoa, mais ela é malandra com o vocabulário. Mais se engaja em xingar os outros com adjetivos da moda como "negacionista" e "antivax".
Apesar das miocardites da vida, as vacinas de mRNA são no geral uma boa notícia, especialmente pela facilidade de atualizar o mRNA conforme as novas cepas do vírus. Os efeitos colaterais parecem vir mais por causa do método de entrega do mRNA nas células. O problema é a coerção!
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Tá fraca a rede de assassinato de reputação. Faltou dizer que não tenho PhD e minto meu currículo, pra completar o bingo. Imaginem se eu fosse identitário, facinho de acusar todos de homofobia.
Teve um comunista que printou meu site em que eu dizia "cursei um PhD em Cambridge" (o que é verdade), o que eu coloquei perto da minha defesa. Feita a defesa, e minha opção pelo segundo mestrado, eu atualizei pra mestrado. Conclusão do cérebro de ervilha dele: eu menti.
Eu tento ser generoso na minha interpretação do progressismo, mas esse problema não é marginal. Essas difamações são feitas pelos supostamente mais iluminados do grupo. Tribalismo irracional completo.
E. O. Wilson sobre o cancelamento promovido por Gould e Lewontin: "A certa altura Ernst Mayr [eminente pensador da biologia] perguntou ao [geneticista comunista] Lewontin: 'por que está fazendo isso? Por que ataca o Ed?' A resposta foi 'é minha natureza'."
Isso lembra a fábula do escorpião e o sapo.
Gould fez ataques desinformados à ciência do QI no livro A Falsa Medida do Homem. Também cometeu gafes tentando reformar a teoria da evolução com tempestas em copo d'água (puro ego). Já Lewontin, foi autor da falácia famosa sobre raça.
Para o livro, Gould chegou a refazer uma mensuração de volume craniano com sementes feita mais de um século antes, com os mesmos crânios. Acusou o autor original do estudo, já morto, de racismo e viés ao medir. Ironia: refizeram a replicação do Gould, e quem mediu mal foi ele.
Outro dia meu editor veio perguntar sobre a polêmica dos "MAPs" no mundo anglófono. Alguns acadêmicos estão propondo esse termo, que é acrônimo de Pessoas Atraídas por Menores, para "desestigmatizá-las", em vez de usar pedófilo, que se confunde com abusador. 👇
Para mim é um exemplo de compaixão fora de lugar. Pedófilos não são um grupo que merece ser desestigmatizado. Para a polícia e a lei, é importante a distinção entre ser pedófilo (ter a tal atração parafílica) e abusador (que estupra, o que nem sempre implica ter a atração).
A questão é que ter a atração é um perigo presente e constante de concretizá-la no abuso. Portanto, também é necessária uma força contrária também constante, e parte dela é o estigma. Ficar inventando termo politicamente correto pra coisa é correr risco de levar algum pedófilo...
Vacina de mRNA é vacina ou é terapia gênica? Nenhuma das duas coisas é óbvia à primeira vista. Já que vacina consiste em apresentar uma versão enfraquecida do patógeno ao sistema imune, apresentar uma única molécula do patógeno pode ser essa versão enfraquecida, então é vacina...
Mas essa molécula, a proteína S, não é apresentada diretamente, mas fabricada pelas nossas próprias células a partir da instrução do mRNA, o que lembra algum tipo de terapia gênica. Há alguma plausibilidade aí, mas eu acho que chamar de terapia gênica é mais forçado.
A função de uma terapia gênica é prover alívio para alguma insuficiência provocada por mutações ou outros defeitos genéticos. Pode ser que se desenvolva terapia gênica cujo tratamento é administração do mRNA, mas isso seria um subconjunto: teremos terapia gênica de outros tipos.
Programa de governo do @SF_Moro está um suco de pauta genérica com risco de cair em desenvolvimentismo e varre-varre-vassourinha. Assim não ganha meu voto. Ganha quem mostrar compromisso com liberdade econômica, essa continua sendo a pauta urgente do país. Povo rico é povo livre.
Boa notícia que enfatizou liberdade de imprensa. Mas "chega de ofender jornalista" por quê? Isso é parte dessa liberdade, não antagônico a ela. Se grande parte da imprensa atua como um partido progressista (e identitário além disso), há muitos jornalistas merecendo os insultos.
Gastou saliva em livre mercado e privatização. Não convence, pois:
1 - Usa "ineficiente" para condicionar privatização. Não tem que condicionar. Tem que vender.
2 - Defende um "Fome Dois Ponto Zero". Ora, não sabe que é o livre mercado que combate pobreza? gazetadopovo.com.br/republica/moro…
Uma sociedade saudável tem divisão de tarefas e liberdade de escolha, não promessa de paridade de sexos em todo canto. O identitarismo favorece a feminilidade acima da masculinidade, e o resultado é previsível: priorização da segurança acima da liberdade. psychologytoday.com/us/blog/the-an…
Mulheres são mais avessas a riscos, atentas à autopreservação. Isso faz delas pacientes ideais na medicina: se cuidam e procuram ajuda com antecedência. Mas o que vale para pacientes não vale para AGENTES. Aversão a risco é um problema na economia e um empecilho às liberdades.
Toda ideologia dogmática precisa de um sistema imune para se perpetuar, respostas prontas para toda crítica. A resposta pronta do identitarismo a esse tipo de crítica, é claro, é acusar machismo e misoginia. Mas os adjetivos de acusação de preconceito já estão ficando gastos.