Esse papo de que ninguém poderia prever a pandemia (e, portanto, o desastre do governo Bolsonaro), olha... Não cola.

Durante a trajetória dele como deputado e na própria campanha de 2018 ele falava coisas como "matar uns 30 mil" ou "mandar os petistas para a ponta da praia"... Image
...(em referência a ditadura). No seu voto pelo impeachment de Dilma, em 2016, fez uma saudação a Brilhante Ustra. No final do ano, de 2018, anunciava que ia perseguir os petistas. Judiciário, Legislativo e Executivo, em diferentes instâncias, deram início a essa perseguição.
Quando você diz que não tinha como saber e, ao mesmo tempo, tinha conhecimento dessas inúmeras falas, o que entendo é que você não tinha nenhuma preocupação com as ameaças de perseguição e morte feitas pelo presidente da República. Na melhor das hipóteses, tomava como "piada"...
...(o que é mais preocupante, porque requer um grau de cinismo e desfaçatez para achar que tortura, assassinato e perseguição política são motivos de piada).

Conforme Bolsonaro se desmancha no ar (numa velocidade muito mais lenta do que deveria e atirando em sua queda), é...
...preciso encarar o bolsonarismo da sociedade brasileira. É preciso, sim, confrontar família, amigos, conhecidos que, arrependidos agora, normalizaram e propagaram os absurdos que nos levaram aqui.
Talvez esse confronto, que eu espero que seja feito nas bases civilizacionais que o bolsonarismo recusa, não seja boa estratégia eleitoral para 2022. Vá lá.

Mas a gente paga um preço muito caro por não enfrentar o nosso passado. Uma hora ou outra ele explode na nossa cara.
Ou seja: não "mete essa" de que não tinha como saber.

Tinha, sim. A pandemia ampliou a escala. Antes disso, para votar no verme, você tinha que no mínimo relativizar o desejo dele de matar 30 mil pessoas.
PS: Em tempo, a foto no início é de um comício no Acre, em 2018, em que Bolsonaro anunciava "fuzilar a petralhada" (pegou um tripé de microfone e fez de metralhadora).

O STF considerou a queixa-crime da oposição improcedente e o processo foi arquivado. O buraco é grande.

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29 Dec
Eu gosto muito de brincar com as ideias da expectativa de progresso das pessoas. Via de regra, é uma ideologia tão poderosa que até Marx - sim, o próprio - caiu nela.
Pois é, pega lá o Manifesto Comunista, Marx novinho, todo o início do livro é ele louvando a burguesia, a classe que finalmente tirou todas as amarras da sociedade, substituindo elas por dinheiro.
Os laços comunitários do mundo pré-capitalista escondiam relações de dominação e exploração, mas somente o capitalismo ia transformar essa lógica, criando uma razão a parte de toda a vida social.

O que isso quer dizer?
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12 Dec
Sabem o que acho mais incrível nesse "revival" da escravidão no Sul dos Estados Unidos?

É que botar alguém pra cavar cebolas com a própria mão, sob a mira de uma escopeta, é mais barato do que uma colheitadeira.
Tipo, tudo que a gente avançou em direitos humanos, à custa de muita luta, de muito sangue, de muito suor e lágrimas, esbarra sempre nesse sentido: é mais barato escravizar os sujeitos.
Disso decorre um argumento liberal de que a escravidão não amplia o mercado consumidor, que o sujeito sem liberdade e sem renda não compra e por aí vai.

Mas no atual estágio do capitalismo hoje, que a expansão do mercado consumidor não é desejável para muita gente...
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13 Nov
Uma das histórias que acho mais interessantes sobre o poder destruidor do colonialismo é a da destruição das cisternas indianas pelos ingleses, os chamados "baoli", criados lá pelo século III depois do JC.
Quando eu estava no Ensino Médio, eu lembro de ficar surpreso com as histórias de secas na Índia. O país cruzado por dois imensos rios, no meio de uma zona de monções... Como podia ter tanta seca e fome?
Anos depois, entendi que as monções são sazonais e que pode, sim, acompanhar longos períodos de seca. Mas mesmo assim, eu fiquei encafifado... Não tinha reservatório de água lá, não?
Read 22 tweets
12 Nov
Não ando acompanhando a seleção tanto quanto gostaria, mas fiquei feliz com a classificação para a Copa de 2022.

Eu sou fanático por copas do mundo! E apesar de toda a minha raiva da CBF e de tudo que ela representa (e passou a representar), eu torço, sim, para o Brasil em Copa.
2022 também vai ser a primeira copa de Tupaquinho, mas ele certamente não vai lembrar (assim como eu mesmo não lembro nada da Copa de 1986). Mas lá vou eu estimular o gosto pela coisa. Compra álbum, acompanha eliminatórias, vê chaveamento, faz simulação...
Diz que tudo tem origem, né? Meu gosto pra Copa vem em 1990, que meu pai fez pra mim uma tabela dos jogos da Copa na Itália. Eu tinha uma caneta daquelas com várias cores embutidas. Aí ele desenhou as bandeiras e os uniformes para eu identificar os times.
Read 6 tweets
13 Oct
Achei importante aqui trazer uma contextualização. Pessoal rapidamente descobriu que a filmagem ocorreu no Annam, na Indochina francesa. Uma das senhoras é inclusive Blanche Doumer, a esposa do governador-geral da Indochina, Paul Doumer.

E aí é que fica tenso esse contexto.
O que parece um ato de filantropia carregado de colonialismo ganha outra dimensão quando descobrimos quem são os Doumer. Governador-geral, Paul recebe uma tarefa: tornar a Indochina uma colônia lucrativa.
Isso porque, a colonização francesa na Ásia não ia lá muito bem. Conchinchina, Annam e Tonkim, os principais espaços colonizados pelos franceses, foram alvo de intensa resistência local. O reino do Dai Viet não conseguiu resistir, mas nobres e mandarins locais, sim.
Read 25 tweets
20 Sep
Eu achava isso um tempo atrás.

Mas me toquei que a extrema-direita chama todo mundo que fala que a terra é redonda de comunista.

E ninguém reclama que os caras tão "banalizando o comunismo".
Esse papo de "banalizar a linguagem" é muito doido, porque uns anos atrás se acusava a esquerda de banalizar o termo "neoliberal".

Eu, particularmente, não acho que banaliza. A galera luta por significados e se os termos se tornam moeda corrente e fazem sentido, qual o problema?
Eu sou historiador, acho fundamental a discussão sobre conceitos, eles precisam ser sempre contextualizados e significados. Mas assim: eles não são mortos. Se a galera ressignifica o Aécio como fascista, o erro é menos no conceito e mais no contexto...
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