Há uns 15 anos, Narloch descobriu um modelo de negócios lucrativo. Que penso poder resumir como a publicação de pequenos levantamentos que coloquem em dúvida qualquer ponto pacífico da sociedade…
E não que eu ache que bovinamente devamos aceitar qualquer versão histórica que transcende gerações. Mas o método de Narloch tem graves vícios.
Tudo depende da versão que ele quer vender. Em um capítulo, os rumores sobre algo importam. Em outro, não importam, pois nunca foram provados.
Não importa se trocentos especialistas concordam em um ponto. Se surge um discordando, e tal discordância está alinhada com o objetivo de Narloch, a discordância é usada como prova de que os trocentos especialistas estavam errados.
É claro que temos na história vários exemplos de cientistas que conseguem sozinhos desmontar teses tidas por gerações como verdadeiras. Mas mesmo esse processo atende a um rigor científico. O novo trabalho é revisado e premiado por pares. E se impõe porque a realidade se impõe.
Nos “guias politicamente incorretos”, Narloch propõe o exercício como quem sugere pensar fora do caixa da militância. Mas reconhece que a brincadeira corria o risco de fazer uso dos mesmos vícios da militância, ainda que contra a inimiga.
E, bem, essa brincadeira já foi longe demais. Claro que ela não foi toda tocada por Narloch. O modelo que coloca em dúvida todas as nossas certezas vende bem mundo e internet a fora. Mas hoje custa diariamente a vida de milhares que se recusam a se vacinar.
Se a ideia é seguir provocando a plateia como se estivesse num show de comédia, cabe a dica que todo comediante recebe: read the room. Estamos chegando a 600 mil mortes por covid-19. Não tem um mês que o presidente tentou um golpe. O nazismo está semanalmente nas manchetes.
Servir de combustível ao que de pior a humanidade produziu, quero crer que nem Narloch quer. Mas aparentemente falta a ele se tocar disso.
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Entendo os que se esforçam em debater. Mas o que está rolando é uma tentativa de um partido (o PT) de desmobilizar um ato pelo impeachment de Bolsonaro. Porque o PT é traumatizado com impeachment…
No primeiro, conseguiu o que exigiu. Mas a queda de Collor serviu para que as forças se organizassem, tirando de Lula uma vitória que, dada como certa, ficaria com FHC em 1994.
Na segunda, foi o alvo do impeachment. De tão errado que estava, não conseguiu outra desculpa além de chamar o que sofria de golpe.
Inclusive… Eu concordo que, se a ideia é que a Câmara Federal seja o retrato mais fiel do brasileiro, tal retrato deveria espelhar ao máximo a pluralidade do nosso povo.
Mas não representa, dentre outras coisas, porque é 85% masculina, enquanto metade do Brasil é feminino.
Sim, estou defendendo não só cotas femininas, como uma divisão que respeite a proporção da população. Se achar ruim, basta imaginar que também estou defendendo que 50% das vagas sejam reservadas a homens.
O golpe via "Conselho da República" é algo que os bolsonaristas defendem desde o primeiro ano do mandato de Jair Bolsonaro como presidente da República.
O roteiro demandaria:
1. Conflito entre poderes.
2. Convocação do Conselho da República para aprovar um Estado de Defesa.
3. Com Estado de Defesa em mãos, Bolsonaro perseguiria desafetos dos demais poderes.
Assim que essa receita passa a correr os sites bolsonaristas, ainda no primeiro semestre de 2019, eles abandonam qualquer tentativa de tocar uma agenda construtiva, e passam a sabotar mesmo os próprios projetos — lembram de Bolsonaro atacando a própria reforma da Previdência?
Lula não passou a defender regulação da imprensa nessa semana. Defende corriqueiramente ao menos desde que a Lava Jato se aproximou dele. Certamente defendia antes, mas não tornava isso tão explícito, a coisa partia mais de aliados.
Então falemos mais sobre isso, então:
A esquerda (e eu vou generalizar, pois a ala contrária absurdamente se cala em debates assim) não quer regular a imprensa por desejar que o brasileiro seja melhor informado. Quer regular a imprensa porque quer controlar o que vira notícia ou não.
Por muito tempo, a esquerda e o PT se aproveitaram do modelo de trabalho da imprensa. Sempre que uma capa de revista semanal atingia nomes dos governos anteriores a Lula, virava discurso dos mais justos no plenário e no horário eleitoral.
Há uns 10 anos, era simples. Os lunáticos pareciam estar todos de um único lado. E, assim, foi até fácil se proteger no outro. Mas, com o tempo, a turma do outro foi ficando ainda mais lunática. E, assim, nasceu um novo hábito…
O de semanalmente reclamar à terapeuta que me sinto espremido em um corredor muito estreito. De um lado, uma torcida organizada raivosa. Do outro, outra torcida ainda mais raivosa. Ambas gritando que eu sou um aliado do inimigo.
Eu já animei ambas as torcidas. Mas nunca mudei de lado. Pois sempre duvidei da boa fé dos discursos oficiais. E creio que foram raras as vezes em que esta postura se mostrou equivocada. Pois a regra é o discurso oficial ser o da contradição.