Boric, de forma previsível, montou um gabinete com a setores ao centro nos pontos estratégicos. Há quem compare o Chile com o Brasil, mas embora o patamar de lá seja mais alto, eu vejo problemas mais graves e complexos pela frente que os nossos (1/5).
Um deles é que a herança do Pinochetismo deixou como legado um arranjo econômico anormal. O Chile é uma economia com baixíssima complexidade, centrada em poucos ramos voltados em grande medida à exportação. Estruturalmente é mais grave que aqui no longo prazo (2/5).
Não é trivial mudar isso. E ainda existe uma pesada dos EUA na política local. Os EUA podem maldizer, hoje, o Pinochetismo, mas ele cumpriu o papel que Kissinger imaginava. Não à toa, a esquerda autorizada a governar foi uma decepção. Os socialistas tolerados e inofensivos (3/5)
Boric romperia com isso, mas sua construção passa não só por uma ruptura negociada como, ainda, no plano internacional está longe de ler as relações de uma forma correta. Sai o enfrentamento ao Imperialismo e entra a crença "moderna" na disputa à esquerda da "civilização" (4/5)
É claro que existe um Congresso balcanizado, que ele precisa negociar com. Mas isso não significa cair nos mesmos erros que levaram os governos Bachelet a falhar (5/5).
P.S.: e a discussão sobre Chile, muito supestimada na forma como se dá, não pode ser conduzida como se toda crítica a Boric fosse resmungo de "tankie" ou um "olha o Alckmin". A Consertacion controlar a economia e a RI não é, a priori, bom.
P.S. 2: existe uma leitura politicista, e de esquerda, que ignora o peso que é, ao Sul global, enfrentar certas contradições. Lembremos do Syriza e da Grécia. Essa lição precisa ter sido aprendida.
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Nos últimos dias, Biden e Blinken recuaram sobre a Ucrânia, talvez preparando outro estratagema e jogando pressão sobre os "aliados alemães". No fundo, Washington sempre quis fazer russos e alemães cortarem relações comerciais energéticas com a crise da Ucrânia (1/13).
Putin não poderia aceitar a entrada da Ucrânia na Otan. Mas precisa trabalhar num espaço de manobra curto. Ele sabe que precisa mostrar Biden fraco, mas não pode ir tão além, sem motivo, porque perderia sim grandes e importantes aliados nos EUA (2/13).
Para os republicanos, interessa que Biden não consiga colocar a Ucrânia na Otan para mostrar que "ele é fraco". Mas tampouco os republicanos fariam isso, que é uma estupidez completa antes de tudo (3/13).
A Folha conseguiu piorar o que já estava ruim. O texto da Ombudsman sobre a enxurrada de críticas contra o artigo infame de Risério, mais parece uma nota editorial ensaboada. O pronunciamento de Sérgio D´Ávila, o todo poderoso, é pior ainda (1/7).
No fim para além de um oportunismo de caça cliques, uma sede para criar uma cortina de fumaça, também existe coisa pior, o que poderia ser definido como o Projeto Neoliberal, mas que é anterior e mais nocivo: uma manifestação do racismo estrutural (2/7).
Um termo mais técnico seria haitianismo, isto é, o pavor e ao mesmo tempo a superstição criada pela oligarquia brasileira a respeito de uma rebelião de escravos. Sintoma e instrumento, o haitianismo é a chave-mestra da maquinaria racista no Brasil (3/7).
Cazaquistão e o Bitcoin: sim, em parte a megamineração de criptomoedas ajudou a sobrecarregar o sistema energético do país, o que vem junto de uma má reforma do setor e aumento das tarifas. Isso já era um problema ano passado, vejamos: thediplomat.com/2021/09/kazakh… (1/12)
Evidentemente, o Cazaquistão não minera criptomoedas apenas para si. Mas atende várias demandas, sobretudo da Rússia, que usa criptomoedas para driblar sanções americanas - as quais já estão beirando a exclusão russa do sistema financeiro mundial nytimes.com/2018/01/03/tec… (2/12).
O Cazaquistão não é um país miserável. Ele tem um PIB capta que é quase o dobro do nosso. O IDH, sem considerar a desigualdade social é quase top 50, mas considerando ela, o país sobe e é top 40 no mundo. Não é pouca coisa, é melhor do que os melhores da América Latina (3/12).
O Cazaquistão arde numa revolta contra o governo nacionalista. A ex-república soviética é um aliado chave de Moscou, com seu vasto território estratégico, é sede do programa espacial russo e cheio de riquezas naturais, e com 1/5 de população russa (1/16).
Naturalmente, o Cazaquistão tem problemas. Da sua fundação com o fim da URSS até bem pouco, o país esteve sob o comando de Nursultan Nazarbayev, mas seus aliados persistem no poder na forma do partido ironicamente chamado Nur Otan (Pátria Radiante) (2/16).
Nazarbayev foi um quadro do Partido Comunista durante décadas, se equilibrando no poder com uma habilidade incomum. Com o fim da URSS, ele tratou de promover o nacionalismo local, mas manteve vínculos fraternais com os russos (3/16).
As federações partidárias vão ter um grande impacto, mas por enquanto se fala só superficialmente sobre elas. No duro, o Brasil desde os anos 1990 passa por uma ampla fragmentação partidária, as federações vêm para reverter isso sem destruir os partidos. Mas é complexo (1/10).
Desde o fim da Segunda Guerra, quando Brasil iniciou uma experiência democrática, o Congresso era de algumas forma controlado por um Centrão. Ao contrário do que se imagina, não era o PTB, mas o PSD a dar as cartas (2/10).
Com o Partido Comunista colocado na ilegalidade, o jogo era disputado basicamente por UDN, PSD e PTB - mas como o crescimento do último, que suplantou a direitista UDN no início dos anos 1960, é que a burguesia ligou o sinal de alerta e deu o golpe de 1964 (3/10).
Liberais mudaram a política brasileira obtendo uma larga hegemonia política, mas ela veio desacompanhada de qualquer plano de execução ou uma liderança. Deu no que deu, e eles são os grandes culpados. Não me venham com chororô (1/7).
Para viabilizar um plano mau, você precisa de uma estratégia boa. Você pode criar um sistema horrível, mas ele precisa ser sustentável e estável. Não é o caso desse experimento louco feito no Brasil (2/7).
Hoje, esses mesmos liberais, que ajudaram Bolsonaro a se eleger, mas não sabem o que fazer com ele, exigem que Lula mantenha reformas que, objetivamente, deram errado. Nunca foi tão fácil, em termos lógicos, reverter reformas como agora, mas politicamente é difícil (3/7).