O Cazaquistão arde numa revolta contra o governo nacionalista. A ex-república soviética é um aliado chave de Moscou, com seu vasto território estratégico, é sede do programa espacial russo e cheio de riquezas naturais, e com 1/5 de população russa (1/16).
Naturalmente, o Cazaquistão tem problemas. Da sua fundação com o fim da URSS até bem pouco, o país esteve sob o comando de Nursultan Nazarbayev, mas seus aliados persistem no poder na forma do partido ironicamente chamado Nur Otan (Pátria Radiante) (2/16).
Nazarbayev foi um quadro do Partido Comunista durante décadas, se equilibrando no poder com uma habilidade incomum. Com o fim da URSS, ele tratou de promover o nacionalismo local, mas manteve vínculos fraternais com os russos (3/16).
O que hoje é o Cazaquistão só surge realmente com o fim da URSS. Ele não foi um país antes, mas uma zona ocupada pelos cazaques, um povo turco, que viviam nomadicamente. Eles vieram com as hordas mongóis, tomando o lugar de tribos indo-arianas (4/16).
Desde o seu nascedouro, o Império Russo coloniza a região. E, via de regra, a relação entre russos e cazaques sempre foi boa. O país é fronteiriço com a China, mais precisamente com a província do Xinjiang (5/16).
O Cazaquistão é a segunda ou terceira economia pós-soviética, a depender do critério. Excetuando as repúblicas bálticas, ela é das mais ricas, estando só um pouco atrás da per capta russa (e sim, isso está acima do Brasil ou mesmo do Chile ou Argentina) (6/16).
Apesar da parceria com a Rússia, o fim da URSS foi particularmente bom para o Cazaquistão, que mais do que viu seu PIB mais do que dobrar. A história de sucesso se repete, no entanto, na Ásia Central. O crescimento chinês ajuda a entender isso (7/16).
O ajuntamento de poder cazaque não é muito diferente do russo. O partido governista é o que se chama big tent, congregando de tudo, mas se usando de elementos nacionalistas de direita, social-conservadorismo e de religião (8/16).
Tokayev, o atual líder, é um diplomata de carreira, treinado na antiga URSS, mas com passagens pela China, e esse último detalhe é muito importante. O Cazaquistão, até por sua localização geográfica, será chave na Nova Rota da Seda (9/16).
Agora, do mesmo modo que o Cazaquistão é mais rico hoje do que há 30 anos, quando era um lugar esquecido da URSS, ele também é mais desigual (ainda que menos que a Rússia e ex-repúblicas soviéticas) e, sim, sua passagem ao capitalismo destruiu a participação popular (10/16).
Embora haja um gigantesco partido governista, ele não é uma organização socialista de nenhum tipo, nem tem o mesmo nível de participação social. A medida de aumento do gás, apenas deflagrou uma série de insatisfações que, no entanto, foram catalisadas de fora (11/16).
Então, se você espera uma resposta fácil, não vai encontrar. A reação exasperada da Rússia e seus aliados tem razão de ser: enquanto a Otan promove uma blitz em direção da Ucrânia, ameaçando instalar armas nucleares, agentes ocidentais insuflam as massas cazaques (12/16).
Trata-se de um movimento de xadrez, com Moscou bloqueando a movimentação da Otan na Ucrânia, mas ela respondendo no outro flanco. Os dois movimentos não miram apenas a Rússia, no primeiro caso, há uma reprimenda contra a Alemanha e no segundo contra a China (13/16).
Os dois casos afetam a Turquia, parceira estratégica da Alemanha, que no entanto não deseja o Nordstream, mas tampouco deseja ver o Cazaquistão cair em mãos ocidentais, uma vez que Erdogan deseja ele mesmo pôr as mãos lá um dia (14/16).
Essa outra crise no espaço pós-soviético alude a outro problema: a incompetência dos sistemas de partidos nacionalistas e seus capitalismos de Estado resistirem ao Imperialismo, a começar por eles falharem na sua lição de casa (15/16).
Em meio à tensão entre o nacional-conservadorismo e a ilusão das classes médias com o liberalismo ocidental, os países da pós-URSS, inclusive a Rússia, podem colapsar. A China terá, tão logo, de exportar seu modelo talvez por questões de segurança nacional...(16/16).
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Cazaquistão e o Bitcoin: sim, em parte a megamineração de criptomoedas ajudou a sobrecarregar o sistema energético do país, o que vem junto de uma má reforma do setor e aumento das tarifas. Isso já era um problema ano passado, vejamos: thediplomat.com/2021/09/kazakh… (1/12)
Evidentemente, o Cazaquistão não minera criptomoedas apenas para si. Mas atende várias demandas, sobretudo da Rússia, que usa criptomoedas para driblar sanções americanas - as quais já estão beirando a exclusão russa do sistema financeiro mundial nytimes.com/2018/01/03/tec… (2/12).
O Cazaquistão não é um país miserável. Ele tem um PIB capta que é quase o dobro do nosso. O IDH, sem considerar a desigualdade social é quase top 50, mas considerando ela, o país sobe e é top 40 no mundo. Não é pouca coisa, é melhor do que os melhores da América Latina (3/12).
As federações partidárias vão ter um grande impacto, mas por enquanto se fala só superficialmente sobre elas. No duro, o Brasil desde os anos 1990 passa por uma ampla fragmentação partidária, as federações vêm para reverter isso sem destruir os partidos. Mas é complexo (1/10).
Desde o fim da Segunda Guerra, quando Brasil iniciou uma experiência democrática, o Congresso era de algumas forma controlado por um Centrão. Ao contrário do que se imagina, não era o PTB, mas o PSD a dar as cartas (2/10).
Com o Partido Comunista colocado na ilegalidade, o jogo era disputado basicamente por UDN, PSD e PTB - mas como o crescimento do último, que suplantou a direitista UDN no início dos anos 1960, é que a burguesia ligou o sinal de alerta e deu o golpe de 1964 (3/10).
Liberais mudaram a política brasileira obtendo uma larga hegemonia política, mas ela veio desacompanhada de qualquer plano de execução ou uma liderança. Deu no que deu, e eles são os grandes culpados. Não me venham com chororô (1/7).
Para viabilizar um plano mau, você precisa de uma estratégia boa. Você pode criar um sistema horrível, mas ele precisa ser sustentável e estável. Não é o caso desse experimento louco feito no Brasil (2/7).
Hoje, esses mesmos liberais, que ajudaram Bolsonaro a se eleger, mas não sabem o que fazer com ele, exigem que Lula mantenha reformas que, objetivamente, deram errado. Nunca foi tão fácil, em termos lógicos, reverter reformas como agora, mas politicamente é difícil (3/7).
Sejamos francos, a principal razão para se revogar uma reforma trabalhista deve ser seu impacto sobre a produtividade do trabalho. No caso espanhol, a reforma deles de 2017 tirou direitos e não gerou melhorias significativas para a economia tradingeconomics.com/spain/producti…
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Vejam que antes a produtividade do trabalho já avançava na Espanha. Tornar as condições mais favoráveis ao empregador era pura demagogia com o capital, podendo ter um impacto negativo no curto e médio prazos (2/5)
No caso brasileiro, temos um desastre ainda maior: a reforma trabalhista não apenas não gerou melhoras como, ainda, DERRUBOU a produtividade. É um verdadeiro desastre, olhem com seus próprios olhos: tradingeconomics.com/brazil/product… (3/5):
A crise da pandemia global de Covid-19 é o maior desafio da humanidade desde a Segunda Guerra. De um lado, os EUA, maior potência global, não se mostram capazes de dar respostas a ela, ao contrário, mas sim usar da crise para boicotar o crescimento chinês (1/12).
O governo de Joe Biden, empossado em 2021, basicamente tomou medidas acertadas na economia, mas prossegue numa linha louca de confrontar, ao mesmo tempo, Rússia e China, o que não acontecia desde a 1ª metade dos anos 1950 (2/12).
Biden retomou a doutrina antirussa que anima a política externa americana desde muito. Mas que Trump tentou bloquear. Por outro lado, ele se viu impossibilitado de recuar em relação à política antichinesa do seu antecessor (3/12).
Boric venceu no Chile por uma margem maior do que a projetada. Institutos chilenos erraram porque não pesquisam, sequer, a abstenção. Os 8 pontos percentuais a mais do 1º para o 2º turno votou, quase massivamente, em Boric. Ou melhor: contra Kast (1/7).
No duro, sem esses novos eleitores, é possível que Boric tivesse vencido, mas por uma margem apertada. De todo modo, ele terá de construir uma maioria parlamentar num cenário partidário balcanizado quase como o Brasil (2/7).
Os setores à esquerda do centro tem uma tênue maioria. É possível que muitos eleitores de candidatos a Presidente de direita do 1º turno tenham, paradoxalmente, votado em setores à esquerda do centro para deputado e senador (3/7).