1/25
Finalmente saiu o preprint de fase 3 da vacina CoVLP da Medicago (@medicagoinc). Só tive tempo de ler o preprint agora e como eu fui um dos participantes voluntários da fase 3, segue aqui um fio sobre os resultados.🧵👇 doi.org/10.1101/2022.0…
2/25
Quando eu entrei no estudo, eu fiz um fio sobre os resultados prévios de fase 1 e 2, caso queiram ler antes
4/25
Vamos então para a fase 3. Nessa fase, foram 24076 participantes em 7 países (EUA, Brasil, Argentina, Canadá, México e Reino Unido). Durante o período do estudo, muitos países iniciaram a vacinação da população, isso resultou em menos pessoas no subgrupo dos idosos (65+)
5/25
Outro desafio que o estudo de fase 3 teve foi que, conforme a vacinação avançou para idades mais baixas, muitos participantes saíram do estudo para se vacinar. Eles lidaram com isso utilizando como variável para a exposição person-years
6/25
Ela leva em conta o numero de pessoas e o tempo de acompanhamento delas. Por exemplo, um estudo com 1000 participantes acompanhados por 1 ano tem 1000 person-years. Já outro estudo com 100 participantes acompanhados por 10 anos, também tem 1000 person-years
7/25
Mas então com relação à avaliação do estudo em si. Para aos efeitos adversos, nós participantes tínhamos um diário físico e um app (bem devagar kkkkk) onde atualizávamos efeitos adversos por 7 dias após cada dose
8/25
Também tínhamos outro diário para anotar qualquer sintoma de COVID, efeito adverso não solicitado ou medicamento controlado. (Abaixo um print sensual do meus story com meu diário)
9/25
Olhando para os efeitos adversos solicitados (febre, dor de cabeça, fatiga...). 92.3% dos participantes tiveram algum efeito adverso (provavelmente devido ao adjuvante AS03, como foi visto na fase 1), mas a maioria foi leve ou moderada, durando de 1 a 3 dias.
10/25
Interessantemente, 45.5% dos placebos também tiveram efeitos adversos. O grande efeito nocebo (que é basicamente o placebo do mal) fazendo efeito ai. Pessoas esperando que tivessem reações e tendo reações.
11/25
Um detalhe pessoal aqui, houve inclusive uma amiga que teve inchaço nos linfonodos, dor de cabeça e muito cansaço após a vacinação. Todo mundo jurava que ela tinha recebido a vacina e mais tarde a gente descobriu que ela tinha recebido placebo.
12/25
Dos efeitos adversos relatados pelos vacinados, dor no local da injeção, dor de cabeça, fatiga e mal estar foram os mais comuns. Grau 3 (severo) ocorreu em 0.3% após a 1ª dose e 2.1% após a 2ª dose para eventos locais (local da injeção) e 1% e 3.1% para eventos sistêmicos.
13/25
2 participantes tiveram efeitos de grau 4 (risco à vida), representando 0.05% dos participantes. Nenhum participante precisou deixar o estudo ou morreu por causa de efeitos da vacina. E caso alguém esteja curioso, eu fui do grupo placebo e não tive nenhum efeito adverso.
14/25
Agora em relação à eficácia da vacina. Foram 176 casos positivos por qRT-PCR, dos quais 10 foram removidos pois os participantes quebraram o cegamento antes de se infectarem e 1 foi removido por não atender à lista de critérios para ser considerado COVID sintomática.
15/25
53 casos no Brasil, 59 na Argentina, 47 nos EUA, 4 no Reino Unido e 2 no Canadá. Por isso, as variantes Gama e Delta foram as que mais causaram casos, e então a eficácia da vacina só pode ser avaliada para essas duas com resultados conclusivos.
16/25
A incidência de casos no grupo placebo foi de 0.179 por 1000 person-years, já no grupo vacina foi de 0.052 por 1000 person-years. Isso resulta em uma eficácia de 71% (95% CI: 58.7 - 80.0), independente do status de soropositividade (infecção prévia).
17/25
Quem não sabe o que é esse 95% CI, essa margem cobre 95% do intervalo de estimativa da eficácia. Pensem nele como uma “margem de erro” da estimativa de eficácia, é muito importante olhar para ele, pois é ele que nos diz o quão certo podemos estar do valor da eficácia.
18/25
Olhem por exemplo a análise do subgrupo 65+, houveram poucos participantes desse subgrupo, e apenas 2 casos de COVID. Portanto, a incerteza em cima da estimativa é enorme (notem que o intervalo vai de -3083.7% até 97.9%), o que isso nos informa é que na verdade nada
19/25
“Ah isso quer dizer que a vacina não funciona!”
Não meu alecrim dourado, só quer dizer que não ocorreram casos o suficiente para poder ter certeza se o resultado visto é uma variação aleatória ou se é a eficácia real.
20/25
Mas dado que a eficácia geral é de 71%, é provável que nos idosos, ela esteja próxima disso. A eficácia da vacina contra COVID moderada a severa, foi de 84.5% (95% CI: 62.0 - 94.7), em participantes sem infecção prévia.
21/25
Analisando a eficácia para as variantes #Gama e #Delta separadas, elas foram de 75.3% (95% CI: 52.8 - 87.9) e 88.6% (95% CI: 74.6 - 95.6) para as variantes Delta e Gama, respectivamente.
22/25
Uma análise interessante que adicionaram foi a quantidade de cópias de RNA viral por ml nos participantes positivos. A média do logaritmo de cópias foi de 3.46 e 5.65 copias/mL para os vacinados e placebos, respectivamente. Isso significa que os placebos que testaram +
23/25
tiveram, em média, 100x mais cópias de RNA detectadas do que os vacinados. Separadamente, a carga viral (em cópias/mL) foi 42x menor nos vacinados para as infecções com a variante Delta (log10 3.65 vs 5.27) e 269x menor com a variante Gama (log10 3.78 vs 6.21).
24/25
São bons resultados de fase 3! Como o período de análise acabou antes da #Omicron dominar o mundo perversamente, não puderam estimar as eficácias contra ela. Os autores reforçam como é importante ainda hoje o desenvolvimento de novas vacinas, para atender a demanda global
25/25
Com tantos países aplicando 3ª dose, os países que precisam de 1ª dose ficam ainda mais para trás, isso vai gerando uma desigualdade vacinal ainda maior. É importantíssimo termos outras opções de vacinas também para que esses países possam usa-las.
1/28
Mais de 1 ano de vacinação contra a COVID e ainda tenho que ver o argumento "Mas em tal lugar tem mais vacinado no hospital do que não vacinado". Então vou refazer um fio que fiz um tempo atrás explicando porque isso é normal e como essa não é uma comparação justa 🧵👇
2/28
Já falei disso uma vez, usando um exemplo dos EUA para ilustrar a lógica que explica o porque isso acontece naturalmente
1/14
Na Europa é bem clara a relação entre vacinação com 2 doses e fatalidade por caso de COVID. Aqui temos no eixo-x a % da população no país com 2 doses e no eixo-y a fração de óbitos por casos registrados em 2 semanas. Mais detalhes 👇🧵
2/14
Atenção à alguns detalhes. Há fatores de confusão aqui, como testes feitos. Escolhi a Europa por ser o continente que mais testou proporcionalmente à sua população nesse período, para minimizar as diferenças por testagem
3/14
Mas claro que isso ainda tem variações. Escolhi também um período logo antes da #omicron pois no momento atual, a prevalência dela nos países Europeus varia muito, o que poderia trazer mais confusão para a correlação
1/n ✅Dia de atualizações: Cobertura vacinal de 2 doses por município em todos os estados do Brasil. #VacinaSim#VacinasSalvamVidas
Detalhes no fio abaixo (O fio é grande mas é porque tem todos os estados do Brasil em ordem alfabética). Comentários ao final 👇
2/n ACRE
⚠️Média de cobertura dos municípios em 40.4%
⚠️Diferença entre os 2.5% mais baixos e os 2.5% mais altos de 29.5% (Esse dado é o utilizado para minha estimativa de homogeneidade)
3/n Distribuição das coberturas pelo estado. O eixo X (horizontal) é a fração de pessoas com ambas as doses. O eixo Y (vertical) é a quantidade de municípios que estão nesse nível de cobertura.
1/24
Terceira dose vem ai mas não podemos deixar de lado uma necessidade muito importante. A cobertura homogênea para a 2ª dose. Vou explorar um pouco essa homogeneidade nesse fio. 👇🧵
2/24
Primeiro vamos definir o que eu quero dizer com homogênea. Eu digo homogênea no sentido espacial, ou seja, locais diferentes de um mesmo estado deveriam, idealmente, ter índices de cobertura vacinal iguais. Porque isso é importante?
3/24
Todo modelo que trabalha com imunidade coletiva e proteção coletiva que as vacinas induzem assume que a cobertura vacinal está homogeneamente distribuída na região. Sem isso imunidade coletiva é difícil. Vamos pegar dois exemplos que eu atualizo aqui toda semana para isso.
1/33
Nesse final de semana eu e 4 amigos (Com @joaoasds e @vitordmeireles) participamos do #hackathon de física da @mcgillu no Canadá. Nosso projeto foi premiado com 1º lugar :)
Nesse fio eu vou explicar o projeto e mostrar os resultados mais legais devpost.com/software/gener…
2/33
Primeiro só para explicar brevemente para quem não sabe o que é, um hackathon é uma competição de desafios entre equipes que dura 24h. As equipes entram com uma proposta de desafio que querem fazer nas 24h do evento
3/33
e são julgadas baseadas no desafio que elas propuseram, em o quanto conseguem fazer dele e a forma como os resultados são apresentados (essa é a parte mais importante, eu acho).
💉🇧🇷Atualização: Pirâmide de vacinação do Brasil até esse domingo (31/10). Dose única entra na contagem de vacinados 2ª dose. #VacinasSalvamVidas
Frame mais recente:
Aqui no Brasil, uns 14% da população tem 0 a 9 anos. Pelo nowcasting do @leosbastos fica claro como essa população está precisando se vacinar também. Espero que as aprovações cheguem nessa faixa etária logo