Prefiro pensar que o Glenn tá perdido nesse debate. Está usando um parâmetro americano de liberdade de expressão para países, como o Brasil, que passaram por ditaduras que acabaram com essa liberdade.
Todo país que teve o infortúnio de ter um "regime change" por conta das ações da CIA perdeu sua liberdade de expressão como direito universal e absoluto.
Por conta disso, quando alguém vem com esse papo, bem...a gente desconfia.
Que ele queira insistir nisso, tudo bem. Acho que é a posição política dele e, sinceramente, acho equivocada. Mas entendo.
O único toque que eu daria é que para o Brasil, a liberdade de expressão foi violada por um regime apoiado pelos EUA.
Aí, tipo, eu nem vou discutir a história dos EUA e a presença de grupos racistas e supremacistas.
Eu acho que o lance é falar de Brasil: aqui teve ditadura apoiada pela CIA. Entre 64 a 88, a censura funcionou legal aqui.
A censura recaia sob a esquerda. Esquerda armada, civil, revolucionária, reformista, minoritária, ou de massas. Foi sobre ela - e não só sobre ela - que a censura pegou.
Então tipo, a gente pode discutir no abstrato a liberdade de expressão e tal. Mas é do nível quase do prosaico. É exatamente o que penso sobre o Chomsky falando do Faurisson, é quase "torre de marfim" mesmo.
No chão, no barro da história, liberdade de expressão pra gente é...
...luta de centenas, milhares de pessoas. Luta contra um regime que foi apoiado pelos EUA (e sua liberdade de expressão abstrata).
E quem lutou contra a censura na ditadura militar talvez devesse ser chamado para discutir o que acham de dar liberdade de expressão para nazista.
Enfim, pé no chão mesmo, na concretude histórica do troço. E não no plano das ideias.
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Gostei muito de ouvir o @historiaFM com o Icles e o @rianhez sobre Holodomor. Por conta dele, fui ver qual a cifra mais aceita de mortos pela fome na ex-URSS: 3,5 milhões.
Agora multiplica isso por 3.
Esse número é o número de mortos na Índia, entre 1876-1879, nas grandes fomes que atingiram o país. Segundo o historiador Mike Davis, em torno de 10,9 milhões de indianos podem ter morrido nessa fome (ainda que estimativas mais conservadoras falem em "apenas" 6 milhões).
Sem dúvida os horrores do Holomodor são conhecidos mundialmente. Uma intensa máquina de propaganda divulgou e divulga a fome como crime contra a humanidade por parte do governo soviético.
Mas e as fomes da Índia, por que não recebem o mesmo tratamento?
Uma leitura importante e necessária sobre o golpe inclusive é entender ele como reação a esse aumento de greves num contexto em que a economia já não ia tão bem.
Por isso também a centralidade da Reforma Trabalhista, Reforma da Previdência e tantas ofensivas.
Ok, finalmente assistimos o Marighella do Wagner Moura - em duas partes e com agradecimento especial a @lukissima , que deu todo caminho da roça pra gente.
E assim: o filme é bom. Não é o melhor filme sobre ditadura que já vi, mas tem muitos méritos.
Tipo, o Bruno Gagliasso, como o delegado Lúcio, é bem interessante. É pra ser o Fleury, mas (ponto positivo), não é o Fleury. Creio que é por motivos de não dar palco pra filho da puta.
E também porque o Fleury do Cássio Gabus Mendes é imbatível.
O Seu Jorge não convence lá muito na parte dramática, mas nas cenas de alívio cômico, ele é bom mesmo.
Gostei do pastor Henrique Vieira e acho que o personagem dele reabilita os dominicanos - algo que o livro do @mariomagalhaes_ já havia feito, com muita justiça.
Hoje discuti Ranajit Guha com os alunos. Em dado momento, a discussão sobre persuasão e coerção entrou na roda.
Afirmei que numa sociedade em que o racismo é estrutural, precisamos entender que o espaço da persuasão é pequeno, minúsculo. Que o que pauta as relações sociais...
... é a coerção, a violência. Ela não é só a violência física, claro. Mas ela é a violência física. A sociedade em que o linchamento de jovens negros é um crime "normalizado" não precisa de uma elite muito sofisticada na persuasão.
Quando ela tenta persuadir, de fato, mais parece coerção - como um certo pasquim, que vive dando palanque para racista e depois, quando acusado, diz que não é racista (pois até tem repórteres negros, veja você).
Espancaram, torturram e mataram um trabalhador negro, congolês, que exigia seus direitos.
A gente deveria estar enojado e puto.
E sempre bom lembrar: umas duas semanas atrás, um punhado de maluco veio com um papo de “racismo segundo a definição clássica, do senso comum e do bom senso, registrada em dicionários..."
Mas nada falam da persistência de linchamentos contra negros na sociedade brasileira.
Por que não falam? Por que silenciam sobre isso, que é fenômeno social notório, reconhecido dentro e fora da academia?
Não sei. Mas é bom lembrar desse projeto, de falar de racismo a partir do senso comum. Porque é justamente no senso comum que Moise foi assassinado.
Que fascinante o texto da nova colunista da Falha, dizendo que questionar o "identitarismo" não é a mesma coisa que relativizar o holocausto porque o segundo é um fato e o primeiro é um conceito.
Não conheço a autora, mas ela tá de parabéns pela coragem em expor sua ignorância.
Eu, por exemplo, sou profundamente ignorante em física. Termodinâmica, elétrica, mecânica... Nem sei como terminei o Ensino Médio.
Aí imagina, eu com todo respeito esse conhecimento que ignoro, ganhar um espaço no jornal para escrever sobre, sei lá, construção de pontes.
Para isso, eu dou uma olhadela rápida no Google e pronto. Vou lá, escrevo minha coluna dizendo qual o melhor método para produzir pontes. Os especialistas vão rir de mim, mas gente tão ignorante quanto eu vai poder me usar como autoridade.