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Hoje eu venho trazer aqui os achados desse estudo muito legal que li esses dias na @ScienceMagazine. O objetivo dele foi avaliar a resposta de células B de memória contra a variante Ômicron, para quem recebeu 2 doses da Pfizer. Segue o fio🧵👇 doi.org/10.1126/sciimm…
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Nesse acompanhamento, utilizaram o soro sanguíneo de 45 voluntários vacinados com 2 doses da Pfizer e mais 40 pessoas antes de se vacinarem e que não tiveram COVID (Elas são o ponto de referência para medir a resposta pré-vacinação ou pré-infecção).
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As atividades imunológicas foram avaliadas em um período curto após a 2ª dose (em torno de 31 dias) e um período longo (em torno de 146 dias, ou quase 5 meses depois).
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Primeiro, os pesquisadores foram avaliar a resposta por anticorpos neutralizantes, que é a mais comumente estudada e a que mais conhecemos quando falamos “imunidade contra a COVID”.
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Como era de se esperar, as duas doses de Pfizer aumentaram muito os níveis de anticorpos IgG e IgA contra o vírus “original” (aqui identificado como Wuhan), contra a variante Beta e a Delta.
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Apesar do aumento dos anticorpos IgA, a concentração de IgG foi bem maior. Quando compararam a relação entre níveis de IgG/IgA com a capacidade do soro de neutralizar o vírus destas 3 variantes, observaram uma correlação maior com o IgG
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O que sugere que ele é quem proporciona a maior parte da ação neutralizante das vacinas contra o vírus
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Até ai nada de novo. O interessante nessa parte é quando eles avaliaram o NBI (neutralization breadth index). Essa é uma medida que representa a razão entre a atividade neutralizante contra a variante “original” e contra as demais.
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Portanto, se o NBI de uma variante é 1, por exemplo, significa que a capacidade neutralizante dos anticorpos contra essa variante é igual à capacidade deles contra a versão primária do vírus (Wuhan).
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Quando fizeram essa comparação, viram que apesar da diminuição na quantidade de anticorpos contra a Delta e a Beta, o NBI aumentou (entre 2 e 2.8x, dependendo do método) com o passar do tempo para a variante Beta.
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Isso significa que, como os próprios autores escrevem, apesar da diminuição de anticorpos, a atividade neutralizante melhorou com o passar do tempo. O que indica que perda de anticorpos não implica diretamente em perda de imunidade protetora.
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Isso se deve provavelmente à maturação das células B, as células que liberam os anticorpos. De cara notaram que, apesar da diminuição de anticorpos, a quantidade de células B RBD IgG⁺ (produzem IgG contra a RBD da proteína S) aumentou 1.8x entre as coletas
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Beleza, mas e o quão robusta é essa resposta contra a ômicron? Pelo lado dos anticorpos, já sabemos que a situação não é muito boa, dai vem a queda grande na eficácia das vacinas contra a COVID sintomática e a necessidade da 3ª dose.
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Mas e quanto às células B? Eles observaram a presença de células B IgG⁺ de memória que reconhecessem as variantes Beta, Delta e Ômicron. A quantidade de células B que reconheciam a região RBD da Ômicron era um pouco menor também, mas bem mais estável que os anticorpos.
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Ainda mais interessante, a quantidade de células de memória aumentou entre as coletas. Indicando uma proteção à longo prazo mais robusta e capaz de reconhecer a ômicron.
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Mas então porque tem tanta gente se infectando? Essa proteção não deveria impedir a infecção? O ponto é que as células B de memória precisam de um tempo para “acordar” e liberar anticorpos, nesse tempo, o vírus já inicia a replicação e os sintomas aparecem.
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Por isso, esse tipo de resposta não é o que nos protege contra a infecção sintomática, mas é o que está relacionado à proteção contra severidade!
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Esse motivo, e o reconhecimento robusto pelas células T (doi.org/10.1126/sciimm…), que as vacinas (de mRNA nesse caso) ainda se mantem com uma boa proteção contra óbito, que diminui mais devagar e é menos suscetível ao escape de variantes.
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É importante destacar aqui, que nesse estudo, a maioria dos voluntários tinham idades entre 20 e 60 anos. Com isso, idosos acima de 70 e 80, onde a imunidade é mais fraca, ficaram não representados nesse estudo.
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O resumo de tudo é: As células B (produtoras de anticorpos) de memória não diminuem rápido como os anticorpos e ainda se ativam quando em contato com antígenos da variante ômicron.
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E como essas estimativas são feitas? Como eu posso confiar nelas? Agora vou tentar destrinchar alguns detalhes de modelagem. Acredito que todos já estejam familiarizados com o conceito do numero de reprodução básico Rₜ (comenta nesse tweet se não estiver)
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Acima de 1, epidemia cresce. Abaixo de 1, epidemia decresce. Em 1, ela é estável. Acontece que esse numero muda com o tempo devido a todos os fatores mencionados nos tweets acima. O valor de R depende principalmente de 3 coisas:
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1 - O valor de Rₜ no início da epidemia, sem alterações comportamentais na população ou medidas de intervenção, o chamado R0.2 - A medida de intervenção ativa no momento ou a mudança adotada pela população
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Lockdown funciona? E fechar comércio? Escolas? Um estudo "recente" tentou responder isso, acho bom dar uma olhada nele e fazer alguns comentários. Segue o fio (Ta longo mas o essencial só vai até o tweet 24, depois são detalhes metodológicos para quem se interessar)👇🧵
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Essas perguntas são difíceis de responder seriamente. Quando falamos de sociedades, as coisas nunca são preto no branco.
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O artigo não saiu esses dias (doi.org/10.1038/s41467…), ele é de Outubro de 2021, mas acho bom usarmos ele para abordar esse tema. Primeiro que ele não é o primeiro estudo a avaliar muitos locais e estimar a efetividade de medidas de intervenção. Mas como os autores comentam
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💉✅Atualizando aqui a distribuição geográfica de cobertura vacinal de 2ª e 3ª dose no Brasil e o mapa de homogeneidade por estado. Dados do RNDS até o dia 13/02 (Domingo). Detalhes e comentários no fio abaixo👇
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Esse mapa acima é a cobertura de 2ª dose nas regiões de saúde do Brasil. Mas há 2 comentários que precisam ser feitos.
⚠️O primeiro é que algumas regiões de saúde tiveram problemas na sincronização dos dados municipais com os que baixei do RNDS (São as regiões pretas em MG)
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Por isso, as regiões pretas representam locais sem estimativa de cobertura vacinal. Para ainda poder fornecer uma boa estimativa da cobertura nacional, eu mantive o mapa das coberturas usando a divisão por mesorregiões também👇
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Finalmente saiu o preprint de fase 3 da vacina CoVLP da Medicago (@medicagoinc). Só tive tempo de ler o preprint agora e como eu fui um dos participantes voluntários da fase 3, segue aqui um fio sobre os resultados.🧵👇 doi.org/10.1101/2022.0…
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Quando eu entrei no estudo, eu fiz um fio sobre os resultados prévios de fase 1 e 2, caso queiram ler antes
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Mais de 1 ano de vacinação contra a COVID e ainda tenho que ver o argumento "Mas em tal lugar tem mais vacinado no hospital do que não vacinado". Então vou refazer um fio que fiz um tempo atrás explicando porque isso é normal e como essa não é uma comparação justa 🧵👇
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Já falei disso uma vez, usando um exemplo dos EUA para ilustrar a lógica que explica o porque isso acontece naturalmente
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Na Europa é bem clara a relação entre vacinação com 2 doses e fatalidade por caso de COVID. Aqui temos no eixo-x a % da população no país com 2 doses e no eixo-y a fração de óbitos por casos registrados em 2 semanas. Mais detalhes 👇🧵
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Atenção à alguns detalhes. Há fatores de confusão aqui, como testes feitos. Escolhi a Europa por ser o continente que mais testou proporcionalmente à sua população nesse período, para minimizar as diferenças por testagem
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Mas claro que isso ainda tem variações. Escolhi também um período logo antes da #omicron pois no momento atual, a prevalência dela nos países Europeus varia muito, o que poderia trazer mais confusão para a correlação