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Feb 21 20 tweets 10 min read
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Estado de São Paulo. Dentre os óbitos ocorridos de Janeiro até hoje, idosos acima de 80 anos compõe a maior parcela. Durante 2020, dentre os óbitos que ocorriam a cada semana, eles representavam, em média, 26%. Agora representam 43%. Detalhes no fio abaixo👇🧵
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Durante o ano de 2020, as parcelas de contribuição de cada faixa etária no registro semanal era a seguinte. O pessoal acima de 70 representava, em média, 52% do registro semanal. As outras faixas etárias tinham contribuições menores, conforme a idade diminuía
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Isso é reflexo tanto do maior risco de severidade e morte para faixas etárias maiores, quanto a quantidade de pessoas em cada faixa etária. Por exemplo, tanto a população 80+ quanto 70-79 tinham contribuições de 26%, mesmo com o risco sendo maior para 80+.
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Mas como tem mais gente na faixa etária de 70 a 79 anos do que acima de 80, esse fator acaba balanceando e a fração de óbitos que foram nessas faixas etárias é igual. informa.seade.gov.br/wp-content/upl…
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Pois bem, início de 2021. Vacinação começa pelas idades mais altas e já entre Janeiro e Fevereiro, a contribuição dos 80+ diminui. Como consequência, a das demais faixas etárias sobe, já que a soma total tem que dar 100%. Lembrem que isso é uma fração, não o numero bruto
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Conforme a vacinação foi avançando para faixas etárias mais novas (60 e 70) anos, essas faixas etárias tiveram uma queda na contribuição também. Enquanto os mais novos continuavam subindo.
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De novo, isso não diz respeito ao numero total de óbitos ocorridos, que diminuiu. Só diz que "Dentre os que ocorreram entre tais meses, a faixa etária X representou tantos % deles". Portanto um aumento na contribuição dos mais novos não quer dizer que mais gente nova morreu
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Só que menos idosos morreram.

Seguindo adiante. Do meio de 2021 para frente, a vacinação acelerou bastante na população adulta mais nova. Isso trouxe a contribuição deles nos óbitos ainda mais para baixo e fez com que os idosos subissem de novo.
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Isso era esperado já. Imagine o cenário onde a vacina tem a mesma eficácia em idosos e jovens. Se ambos os idosos, quanto os jovens estão vacinados. A proporção que eles representam nos óbitos que ocorrem é a mesma de antes. Embora agora ocorram menos óbitos
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Mas como as vacinas são mais eficazes em gente mais nova. Acaba que a proporção dos idosos fica maior do que antes da vacina, já que a proteção que os mais novos receberam é maior.

E então chegamos no final de 2021 e início de 2022. A ômicron veio.
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Com a chegada da ômicron. O grupo de pessoas vulneráveis ficaram ainda mais vulneráveis, devido à perda de eficácia das vacinas. Começamos a tomar a 3ª dose. Que novamente é ainda mais eficaz nos mais novos do que em idosos.
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Mas tem um outro fator ai. Em São Paulo, quem começou tomando a 3ª dose, recebeu a coronavac (que também foi dada como 1ª e 2ª). Muitos cientistas já afirmavam ser uma má ideia. A combinação heteróloga é a melhor opção. Isso resulta em um reforço de proteção menor do que
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Poderia ter tido com uma combinação heteróloga. Como resultado, hoje os idosos acima de 80 compõe quase metade dos óbitos semanais que ocorrem em São Paulo.
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Esse gráfico abaixo é o mesmo que mostrei acima mas passando continuamente por cada semana ao invés de agrupar em períodos de 2 meses como eu fiz em cima
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Isso também pode ser visto olhando o mapa de calor dos óbitos. Nele, as linhas representam faixas etárias e as colunas são as datas. A intensidade de cor de um retângulo nas coordenadas (x,y) representa a quantidade de óbitos na semana do dia x, na faixa etária y.
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Nele, vejam que nesta onda da ômicron, os óbitos se concentraram nas faixas etárias mais altas. Mas notem que, a intensidade da cor não subiu para o mesmo nível do período de 2021. Ou seja, ocorreram menos óbitos por caso (proteção das vacinas), mas dentre os que ocorreram
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Os idosos foram mais atingidos (proteção maior das vacinas nos jovens e baixa cobertura de 3ª dose).

Quem mais sofreu com isso, foi a faixa etária 90+. Foi a única onde a incidência de óbitos por 100 mil hab. ficou maior do que em qualquer outro período da pandemia
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Nisso tudo, vemos a necessidade do reforço para os idosos. Como comentei ontem, a cobertura de 3ª dose está baixa e precisamos aumentar ela. A necessidade de uma 4ª dose para esse grupo é também uma questão a ser debatida agora com a ômicron.
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Isso reforça também a necessidade de ter cuidados. É muito fácil para quem ta nas faixas etárias dos 20,30 e 40 se sentir seguro para voltar à vida normal. Mas não é assim para todo mundo, desde que a ômicron chegou, quem tem mais pagado o preço são os mais velhos

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Feb 20
Nessa discussão sobre 4ª dose eu só penso nessa cobertura de 3ª e em quantas pessoas realmente vão aderir a 4ª dose. De verdade, tentar conter a pandemia na 4ª dose me parece uma estratégia condenada ao fracasso. Não vale mais buscar atingir uma homogeneidade maior na 3ª dose?
Ou quem sabe, colaborar para conseguir uma homogeneidade entre outros países? Até hoje a África segue sendo ignorada enquanto cada um corre para proteger seu próprio país como se o vírus respeitasse as fronteiras, e a variante que pode surgir em um país não fosse seu problema tbm
Sério que com esse nível de população vacinada com 3ª dose já querem inventar uma 4ª?
Read 6 tweets
Feb 16
26/55
E como essas estimativas são feitas? Como eu posso confiar nelas? Agora vou tentar destrinchar alguns detalhes de modelagem. Acredito que todos já estejam familiarizados com o conceito do numero de reprodução básico Rₜ (comenta nesse tweet se não estiver)
27/55
Acima de 1, epidemia cresce. Abaixo de 1, epidemia decresce. Em 1, ela é estável. Acontece que esse numero muda com o tempo devido a todos os fatores mencionados nos tweets acima. O valor de R depende principalmente de 3 coisas:
28/55
1 - O valor de Rₜ no início da epidemia, sem alterações comportamentais na população ou medidas de intervenção, o chamado R0.2 - A medida de intervenção ativa no momento ou a mudança adotada pela população
Read 32 tweets
Feb 16
1/55
Lockdown funciona? E fechar comércio? Escolas? Um estudo "recente" tentou responder isso, acho bom dar uma olhada nele e fazer alguns comentários. Segue o fio (Ta longo mas o essencial só vai até o tweet 24, depois são detalhes metodológicos para quem se interessar)👇🧵
2/55
Essas perguntas são difíceis de responder seriamente. Quando falamos de sociedades, as coisas nunca são preto no branco.
3/55
O artigo não saiu esses dias (doi.org/10.1038/s41467…), ele é de Outubro de 2021, mas acho bom usarmos ele para abordar esse tema. Primeiro que ele não é o primeiro estudo a avaliar muitos locais e estimar a efetividade de medidas de intervenção. Mas como os autores comentam
Read 26 tweets
Feb 15
1/19
💉✅Atualizando aqui a distribuição geográfica de cobertura vacinal de 2ª e 3ª dose no Brasil e o mapa de homogeneidade por estado. Dados do RNDS até o dia 13/02 (Domingo). Detalhes e comentários no fio abaixo👇 Image
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Esse mapa acima é a cobertura de 2ª dose nas regiões de saúde do Brasil. Mas há 2 comentários que precisam ser feitos.

⚠️O primeiro é que algumas regiões de saúde tiveram problemas na sincronização dos dados municipais com os que baixei do RNDS (São as regiões pretas em MG)
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Por isso, as regiões pretas representam locais sem estimativa de cobertura vacinal. Para ainda poder fornecer uma boa estimativa da cobertura nacional, eu mantive o mapa das coberturas usando a divisão por mesorregiões também👇 Image
Read 20 tweets
Feb 14
1/20
Hoje eu venho trazer aqui os achados desse estudo muito legal que li esses dias na @ScienceMagazine. O objetivo dele foi avaliar a resposta de células B de memória contra a variante Ômicron, para quem recebeu 2 doses da Pfizer. Segue o fio🧵👇 doi.org/10.1126/sciimm…
2/20
Nesse acompanhamento, utilizaram o soro sanguíneo de 45 voluntários vacinados com 2 doses da Pfizer e mais 40 pessoas antes de se vacinarem e que não tiveram COVID (Elas são o ponto de referência para medir a resposta pré-vacinação ou pré-infecção).
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As atividades imunológicas foram avaliadas em um período curto após a 2ª dose (em torno de 31 dias) e um período longo (em torno de 146 dias, ou quase 5 meses depois). Image
Read 21 tweets
Feb 6
1/25
Finalmente saiu o preprint de fase 3 da vacina CoVLP da Medicago (@medicagoinc). Só tive tempo de ler o preprint agora e como eu fui um dos participantes voluntários da fase 3, segue aqui um fio sobre os resultados.🧵👇 doi.org/10.1101/2022.0…
2/25
Quando eu entrei no estudo, eu fiz um fio sobre os resultados prévios de fase 1 e 2, caso queiram ler antes
3/25
Também fiz de outro resultado que saiu avaliando a resposte imune 6 meses após a vacinação com a CoVLP (nome da vacina)
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