"A ontologia hoje dominante nega a possibilidade de que enfermidades psicológicas tenham uma possível origem de natureza social. Obviamente, a "bio-quimicalização" dos distúrbios mentais é estritamente proporcional à sua despolitização.
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Considerá-los um problema químico e biológico individual é uma vantagem enorme para o capitalismo. Primeiramente, isso reforça a característica do próprio sistema em direcionar seus impulsos a uma individualização exacerbada
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(se você não está bem, é por conta das reações químicas do seu cérebro).
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Em segundo lugar, cria um mercado enormemente lucrativo para multinacionais farmacêuticas desovarem seus produtos (podemos te curar com nossos inibidores seletivos de recaptação de serotonina).
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É óbvio que toda doença mental tem uma instância neurológica, mas isso não diz nada sobre a sua causa.
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Se é verdade que a depressão é constituída por baixos níveis de serotonina, o que ainda resta a ser explicado são as razões pelas quais indivíduos em especifico apresentam tais níveis, o que requereria uma explicação político-social.
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A tarefa de repolitizar a saúde mental é urgente se a esquerda deseja desafiar o realismo capitalista."
Fetichismo da mercadoria e a psicoterapia como forma-mercadoria.
Segue o fio 🧶
Não importa o quão complexo, plurideterminado, multifatorial seja o problema, a solução parece ser sempre uma: #FaçaTerapia
Que propriedade mágica é essa que atribuem à psicoterapia? Como tanta gente passou a acreditar que a terapia é capaz de resolver problemas sociais e políticos tão complexos?
Gente, na moral, vocês já moraram em lugar barulhento? Porque só quem já viveu isso sabe o inferno que é. Até hoje sofro com isso e desenvolvi uma hipersensibilidade ao som justamente porque morei em um lugar que tinha som alto 24 hrs por dia. Quem precisou de terapia fui eu.
E não tem nada a ver com puritanismo não, tem a ver com o quão não faz sentido submeter pessoas a esse tipo de estresse. Você não consegue estudar, não consegue descansar, não consegue dormir. Qualquer barulho, mínimo que seja, passa a incomodar e a irritar.
Ainda hoje preciso de ruído branco o dia todo, durmo com protetor auditivo e tenho uns vinte tipos diferentes de tampão por causa disso. Então, na moral, eu queria muito que a lei do sossego fosse levada mais a sério, principalmente no Ceará, onde a cultura do paredão é forte.
Sendo justo, com todas as limitações, o governo Lula manteve em suas políticas públicas de saúde uma tradição sanitarista bem forte. Óbvio que foi um sanitarismo reformista, mas, ainda assim, alguns dos melhores programas do SUS aconteceram durante sua gestão.
A questão é que o cenário atual, em uma eventual vitória eleitoral de Lula, será muito diferente de quando ele assumiu a presidência. Em 1° lugar, caso Lula não revogue o "teto de gastos" nada, absolutamente nada poderá ser feito. O SUS continuará sucateado e subfinanciado.
Então a medida mais urgente será revogar esse estrangulamento neoliberal imposto ao SUS. Caso não se reverta esse modelo de austeridade, nada vai mudar. Portanto, é importante que ele fale abertamente sobre a revogação dessa política anti-pobre.
Eu amo a Silvia Federici, mas acho que às vezes ela insiste em umas caricaturas de Marx pra sustentar o ponto dela.
No Calibã e a Bruxa ela repete muito uma ideia simplista de que Marx desconsiderava a exploração da mulher via trabalho reprodutivo, quando, na verdade, Marx e Engels sempre reforçaram que a exploração da mulher antecedeu a exploração de classe (mulher como propriedade).
Em Reencantando o Mundo, livro esse que tem sido de longe um dos melhores que já li dela, ela reproduz a mesma falácia do Marx produtivista, como se Marx fosse alguém despreocupado com a questão ambiental.
Descobriram que Bolsonaro não tem empatia. Daí, a conclusão lógica que tiraram é que ele é "psicopata", não que isso faz parte do seu projeto de governo. Ignoram, porém, que ele não toca esse projeto sozinho e tem apoio de ministros, militares, burguesia. Todos são psicopatas?
É fácil demais dizer que o problema é única e exclusivamente uma questão psicológica do Bolsonaro. Só que isso não responde nada, não ajuda em nada e só despolitiza a questão.
Ele continua tendo o apoio da classe dominante, independente do seu projeto genocida. Ele continua tendo o apoio e o aval das forças armadas. Ele continua tendo amplo apoio político. O fundamentalismo religioso continua do lado dele.
Esses dias uma pessoa comentou em um post meu "criticar é fácil. Quero saber o que você faria" (contexto: era um post crítico às CT's). O comentário foi tão ridículo que na hora só respondi que eu não era ministro da saúde nem coordenava nenhuma pasta na saúde kkkkk
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Depois fiquei pensando: taí, seria um bom exercício pensar em uma política de saúde mental sob uma perspectiva revolucionária. Guardei essa ideia, mas acho que em 2022 bem que poderia haver uma organização pra construir uma proposta de programa antimanicomial coletivo.
Uma espécie de carta de compromisso para as candidaturas de esquerda, algo assim. Documento esse, claro, orientado pelos princípios do SUS e da reforma psiquiátrica brasileira. Seria interessante, né?