Fetichismo da mercadoria e a psicoterapia como forma-mercadoria.
Segue o fio 🧶
Não importa o quão complexo, plurideterminado, multifatorial seja o problema, a solução parece ser sempre uma: #FaçaTerapia
Que propriedade mágica é essa que atribuem à psicoterapia? Como tanta gente passou a acreditar que a terapia é capaz de resolver problemas sociais e políticos tão complexos?
O nome disso é fetichismo da mercadoria, que pode ser entendido como um processo social de atribuição de propriedades "místicas", "fantasmagóricas" e "supra-sensíveis", que se produzem de maneira independente de seu valor de uso (MARX, 2017, 146-147 [O Capital]).
Na sociedade das mercadorias, a psicoterapia também assume, como não poderia ser diferente, uma "forma-mercadoria" (sem romantismos e ilusões, mas o que é a psicoterapia no capitalismo senão uma mercadoria?).
Por isso, ela mesma está sujeita ao caráter fetichista da mercadoria, e por consequência, é comum vermos todo tipo poder mágico sendo atribuído ao processo psicoterápico.
Talvez seja benéfico, mercadologicamente falando, omitirmos essa crítica ao fetichismo da psicoterapia. Talvez nos ajude a captar mais clientes e seja interessante que achem que temos, de fato, esses super poderes.
Mas considero que esse fetichismo ocupa um papel ideológico considerável no processo de despolitização da saúde mental, e talvez seja muito mais honesto dizermos que sim, podemos fazer muita coisa enquanto psicoterapeutas, mas não tudo.
Sempre importante ressaltar que fazer essas considerações não é o mesmo que diminuir a importância da psicoterapia em suas mais diversas funções. Mas podemos ser mais efetivos quanto melhor entendermos seus limites e possibilidades.
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
Gente, na moral, vocês já moraram em lugar barulhento? Porque só quem já viveu isso sabe o inferno que é. Até hoje sofro com isso e desenvolvi uma hipersensibilidade ao som justamente porque morei em um lugar que tinha som alto 24 hrs por dia. Quem precisou de terapia fui eu.
E não tem nada a ver com puritanismo não, tem a ver com o quão não faz sentido submeter pessoas a esse tipo de estresse. Você não consegue estudar, não consegue descansar, não consegue dormir. Qualquer barulho, mínimo que seja, passa a incomodar e a irritar.
Ainda hoje preciso de ruído branco o dia todo, durmo com protetor auditivo e tenho uns vinte tipos diferentes de tampão por causa disso. Então, na moral, eu queria muito que a lei do sossego fosse levada mais a sério, principalmente no Ceará, onde a cultura do paredão é forte.
"A ontologia hoje dominante nega a possibilidade de que enfermidades psicológicas tenham uma possível origem de natureza social. Obviamente, a "bio-quimicalização" dos distúrbios mentais é estritamente proporcional à sua despolitização.
+
Considerá-los um problema químico e biológico individual é uma vantagem enorme para o capitalismo. Primeiramente, isso reforça a característica do próprio sistema em direcionar seus impulsos a uma individualização exacerbada
Sendo justo, com todas as limitações, o governo Lula manteve em suas políticas públicas de saúde uma tradição sanitarista bem forte. Óbvio que foi um sanitarismo reformista, mas, ainda assim, alguns dos melhores programas do SUS aconteceram durante sua gestão.
A questão é que o cenário atual, em uma eventual vitória eleitoral de Lula, será muito diferente de quando ele assumiu a presidência. Em 1° lugar, caso Lula não revogue o "teto de gastos" nada, absolutamente nada poderá ser feito. O SUS continuará sucateado e subfinanciado.
Então a medida mais urgente será revogar esse estrangulamento neoliberal imposto ao SUS. Caso não se reverta esse modelo de austeridade, nada vai mudar. Portanto, é importante que ele fale abertamente sobre a revogação dessa política anti-pobre.
Eu amo a Silvia Federici, mas acho que às vezes ela insiste em umas caricaturas de Marx pra sustentar o ponto dela.
No Calibã e a Bruxa ela repete muito uma ideia simplista de que Marx desconsiderava a exploração da mulher via trabalho reprodutivo, quando, na verdade, Marx e Engels sempre reforçaram que a exploração da mulher antecedeu a exploração de classe (mulher como propriedade).
Em Reencantando o Mundo, livro esse que tem sido de longe um dos melhores que já li dela, ela reproduz a mesma falácia do Marx produtivista, como se Marx fosse alguém despreocupado com a questão ambiental.
Descobriram que Bolsonaro não tem empatia. Daí, a conclusão lógica que tiraram é que ele é "psicopata", não que isso faz parte do seu projeto de governo. Ignoram, porém, que ele não toca esse projeto sozinho e tem apoio de ministros, militares, burguesia. Todos são psicopatas?
É fácil demais dizer que o problema é única e exclusivamente uma questão psicológica do Bolsonaro. Só que isso não responde nada, não ajuda em nada e só despolitiza a questão.
Ele continua tendo o apoio da classe dominante, independente do seu projeto genocida. Ele continua tendo o apoio e o aval das forças armadas. Ele continua tendo amplo apoio político. O fundamentalismo religioso continua do lado dele.
Esses dias uma pessoa comentou em um post meu "criticar é fácil. Quero saber o que você faria" (contexto: era um post crítico às CT's). O comentário foi tão ridículo que na hora só respondi que eu não era ministro da saúde nem coordenava nenhuma pasta na saúde kkkkk
+
Depois fiquei pensando: taí, seria um bom exercício pensar em uma política de saúde mental sob uma perspectiva revolucionária. Guardei essa ideia, mas acho que em 2022 bem que poderia haver uma organização pra construir uma proposta de programa antimanicomial coletivo.
Uma espécie de carta de compromisso para as candidaturas de esquerda, algo assim. Documento esse, claro, orientado pelos princípios do SUS e da reforma psiquiátrica brasileira. Seria interessante, né?