Uma invasão a Taiwan seria catastrófica. Em primeiro lugar porque não seria um passeio no parque. Taiwan é uma ilha que há 70 anos Pequim ameaça invadir, sem sucesso. O custo de vidas perdidas poderia ser imenso.
Mas essa decisão impactaria também a sua vida.
Explico aqui:
Taiwan é a casa da maior fabricante de chips do mundo: a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC).
Semicondutores são componentes essenciais nos aparelhos eletrônicos, de carros a smartphones. Eles agem como cérebros de processamento de dados para esses produtos.
Nós somos altamente dependentes de semicondutores. E adivinha de onde vêm quase 2/3 de todos os semicondutores do mundo? Taiwan.
Ou seja: uma hipotética invasão impactaria o mercado global e encareceria boa parte dos produtos que fazem parte da sua vida.
A TSMC, particularmente, nada a braçadas nesse segmento, produzindo chips para as mais diversas empresas do mundo - da Apple à indústria militar americana. Os taiwaneses controlam mais de 90% da participação do mercado de processadores avançados.
Só para ter uma ideia do que isso significa, em 2020, a China respondia por 60% da demanda global por semicondutores - ou seja, mais da metade dos chips do mundo - e só produzia 13% da oferta.
As vendas de chips atingiram mundialmente a casa dos US$ 440 bilhões em 2020. Mas durante a pandemia, o setor foi atingido por uma forte escassez - especialmente na produção de semicondutores de menor complexidade, menos lucrativos - impactando diversos setores econômicos.
Joe Biden diz que "interrupções na cadeia de suprimentos podem colocar em risco a vida e o sustento dos americanos". Os governos do Japão e da Coreia do Sul comparam a importância dos semicondutores com o arroz.
Além da TSMC, Taiwan também é o lar da maior fabricante mundial de eletrônicos (a Foxconn) e a maior fabricante de notebooks do mundo (a Quanta Computer), que atende da Apple à Dell.
É por isso que o NYT chama Taiwan de "lugar mais importante do mundo".
Num ataque, a China poderia destruir rapidamente a infraestrutura-chave de Taiwan, bloquear suas importações de petróleo e cortar seu acesso à Internet. E esse bloqueio certamente poderia ser sustentado por muito tempo, fazendo Taiwan sangrar.
Alguns analistas aconselham Taiwan, inclusive, a destruir sua infraestrutura de semicondutores em caso de invasão. O impacto global seria incalculável.
Em guerra, Taiwan mobilizaria uma força de contra-invasão de pelo menos 450 mil soldados.
Além disso, Taiwan estima que, na pior das hipóteses, 260 mil reservistas poderiam ser mobilizados para aumentar a capacidade de defesa do território.
Mais de 2 milhões de jovens taiwaneses estão no sistema de reserva militar. Pela legislação taiwanesa, praticamente qualquer pessoa com uma habilidade útil em tempos de guerra pode ser pressionada para a defesa.
Taiwan possui um acordo militar com Washington que prevê que "os Estados Unidos colocarão à disposição de Taiwan" "artigos e serviços de defesa na quantidade necessária para permitir que Taiwan mantenha uma capacidade de autodefesa suficiente".
A decisão sobre a natureza e a quantidade desses serviços oferecidos pelo Pentágono, por lei, deverá ser determinada pelo presidente do país e pelo Congresso.
Essa política americana é chamada de "ambiguidade estratégica".
Além disso, 8 dos 10 maiores parceiros comerciais da China são democracias e quase 60% das exportações chinesas têm como destino os EUA e seus aliados.
Se esses países reagirem a um ataque chinês a Taiwan com embargos, os custos econômicos poderiam ser altos demais a Pequim.
Esse é o tamanho da dor de cabeça.
Taiwan não é uma ilha isolada. É um país indispensável, ocupando uma posição estratégica no mercado mundial, capaz de tornar dependentes mesmo as maiores potências do planeta.
Retaliar Pequim seria a única resposta admissível para o Ocidente.
Uma invasão a Taiwan seria, sem dúvida alguma, o capítulo mais importante do século vinte e um - uma alteração sem precedentes na ordem mundial, e o maior incentivo para uma guerra de proporções mundiais.
Washington e Pequim sabem que não haveria espaço para notas de repúdio.
Taiwan é um país soberano. Com democracia, direitos humanos e livre expressão - tudo o que a China não tem.
Reconhecer Taiwan como país pode até irritar a @EmbaixadaChina, mas é a única posição possível nessa história.
🇹🇼
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A Ucrânia está pedindo para sua população produzir coquetéis molotov para enfrentar as tropas russas.
Há uma ironia nesse fato. Isso já aconteceu, em 1939, para proteger outro país europeu de uma invasão russa. E com um final surpreendente.
Conto esta história aqui embaixo:
Molotov é Viatcheslav Molotov, Ministro das Relações Exteriores de Stalin.
Nesta foto, de 1939, ele está assinando o Pacto Molotov-Ribbentrop com Joachim von Ribbentrop, ministro de Relações Exteriores do Terceiro Reich - um acordo que uniu soviéticos e nazistas.
Foi graças ao Pacto Molotov-Ribbentrop que soviéticos e nazistas anexaram e dividiram a Polônia - um capítulo indispensável para o início da Segunda Guerra Mundial.
Este aqui é o registro de uma parada militar que as forças armadas dos dois países realizaram em Brest-Litovsk.
Lista com o nome de alguns opositores de Vladimir Putin que faleceram ou, a duras penas, conseguiram sobreviver a tentativas de assassinato:
ALEXANDER LITVINENKO
Ex-agente da KGB, crítico de Putin. Morreu três semanas após beber uma xícara de chá em um hotel de Londres. O chá havia sido contaminado com polônio-210.
O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos condenou a Rússia pelo assassinato.
ANNA POLITKOVSKAYA
Jornalista. Denunciou o governo Putin pelos crimes de corrupção e violação aos direitos humanos. Foi assassinada com cinco tiros, no elevador do prédio onde morava, no dia de aniversário de Vladimir Putin.
Mas quanto disso é discurso? O que desafia essa relação?
Em primeiro lugar, a China pode ser uma adversária geopolítica bastante ameaçadora para a Rússia.
Ambas dividem mais de 4 mil quilômetros de fronteira, com direito a arranca-rabo na Sibéria, na região do Lago Baikal, o maior lago de água doce do mundo.
Vladimir Putin está, mais uma vez, no centro das atenções internacionais, depois de ameaçar usar o poder militar para invadir a Ucrânia.
Mas quem é esse sujeito? Como ele foi parar nesse lugar? O que pensa? Com quem governa? Onde quer chegar?
Eis a thread:
Vladimir Putin nasceu em 1952, em Leningrado, na extinta União Soviética, atual São Petersburgo, a cidade dos czares da dinastia Romanov.
Foi batizado pela mãe em segredo na Igreja Ortodoxa, escondido do pai, membro do Partido Comunista. A fé era um exercício subversivo na URSS.
Putin se formou em direito, antes de entrar na KGB, o serviço secreto da União Soviética, como oficial de inteligência.
No início, ainda morando com os pais, seu trabalho consistia em contra-inteligência e monitoramento de estrangeiros e funcionários consulares em Leningrado.
Aposto: se você não está lendo este tweet no seu celular, está com ele bem próximo.
Mas como esse aparelho chegou até você?
Quanta geopolítica é necessária para produzir este objeto, tão importante que é capaz de dominar nossa atenção por longas horas do dia?
Eis a thread:
Há quase 16 bilhões de celulares no mundo. Dois por habitante do planeta.
Ninguém vende mais aparelhos que a Samsung. Ela é seguida, nessa ordem, por Apple, Huawei, Xiaomi, Oppo, Vivo, Motorola e Lenovo - ou seja, dos 8 primeiros fabricantes líderes desse setor, 5 são chineses.
1,5 bilhão de celulares são vendidos por ano. A receita dessas vendas alcança mais de US$ 400 bilhões.
O impacto na economia é imenso. Essa indústria fornece mais de 14 milhões de empregos diretos.
Uma thread sobre como a geografia desempenha um papel fundamental na disputa entre Rússia e Ucrânia:
A Rússia é enorme. Literalmente o maior país do mundo, com 1/8 de toda a área terrestre do planeta.
Para você ter noção do quão grande é esse lugar, eu estou falando da mesma área de superfície de Plutão.
Quando o sol nasce no leste da Rússia, está se pondo no oeste.
A Rússia é aquilo que conhecemos como país transcontinental - faz parte de dois continentes: a Europa e a Ásia.
E a Rússia é tão grande que a sua parte asiática é grande o suficiente para transformá-la no maior país da Ásia, e sua parte europeia faz o mesmo na Europa.