Ontem fiz um fio explicando pq a extrema direita br bugou com a guerra Rússia x Ucrânia.
Me interpelaram: e a esquerda? [e o Lula? E o PT?]
Parte da esquerda tb está perdidinha.
E se vc se julga de esquerda e apoia Putin, esse [longo] fio é especialmente pra você.
🧶👇
Salpicam nas redes defensores "esquerdistas" de Putin. São várias as razões do apoio, mas destaco três:
1) A Rússia é contra os EUA, contra o imperialismo, contra a OTAN. Aqui um exemplo lapidar 👇
2) Outros apoiam a Rússia por associação: "se Venezuela, Cuba e Nicarágua apoiam Putin e se esses países são de esquerda, logo Putin é de esquerda e merece meu apoio".
3) A terceira razão seria que a Rússia está combatendo a extrema direita neonazista ucraniana. Logo, a investida militar é moralmente válida.
Vamos por parte e começando pela primeira razão. Todo e qualquer apoio é válido, desde que seja contra os EUA, o imperialismo e a OTAN?
Parte da esquerda brasileira apoiou a Revolução Iraniana de 1979. A revolução era antiamericana e anti-imperialista, diziam.
[segue...]
Sim, foi antiamericana e anti-imperialista. Mas tb se revelou anticomunista, antifeminista, anti-gay, teocrática e ultraconservadora. E até hoje o Irã mata homossexuais. Tudo bem matar minorias em nome do "ópio do povo", desde que o regime seja contra os EUA?
O que tem isso a ver com Putin? Tudo. Desde que chegou ao poder, Putin vem cada vez mais se aproximando da Igreja Ortodoxa, o que remonta os fundamentos socias da autocracia czarista. E há diversas publicações acadêmicas sobre essa aproximação.
Em linha com seu conservadorismo religioso, Putin não tem hesitado em perseguir feministas e movimento LGBTQIA+ (o qual considera um 'distúrbio sócio-cultural'), ao passo que exalta o legado patriarcal da Rússia. Lembrem-se do destino que tiveram Pussy Riot e o Femen sob Putin.
Precisaria de uns três outros fios pra lembrar como Putin lida com liberdade de imprensa, com a oposição (parte dela fisicamente eliminada), com liberdade de expressão e manifestação. E se Bolsonaro proibisse manifestações no Brasil? 👇
2) Cuba, Nicaragua e Venezuela apoiam Putin. Sim, mas isso revela apenas uma parte do que é a política externa russa. Putin busca construir uma aliança contra a hegemonia atlantista (EUA-Europa Oc, para usar um termo de Dugin) e anti-liberal.
Tudo que se opuser ao eixo atlantista, merecerá apoio de Putin, independente da coloração ideológica. China do PCC, os partidos populistas de direita europeia, os nacionalistas árabes (como Assad, na Síria) e a esquerda latino-americana (coalizão bolivariana). 👇
Putin abraça Maduro com o mesmo entusiasmo que abraça Marine Le Pen e Bolsonaro. Deixo abaixo uma sugestão de leitura sobre as relações de Putin com a direita radical populistas na Europa. Afinal, desintegrar a União Europeia é taticamente conveniente à Rússia.
Perceba que Putin começa a se aproximar de Bolsonaro quando Trump é derrotado e o governo Brasileiro demonstra-se hostil a Biden. Para Putin uma direita radical, iliberal, da estatura do Brasil, é taticamente interessante no seu projeto anti-atlantista.
3) Sobre a Rússia combater a extrema direita ucraniana, no meu fio de ontem eu mostro como grupos neofascistas estão infiltrados tanto na Ucrânia quanto na Rússia. Falo também de Dugin. Tá aqui 👇
Termino por aqui, aproveitando para lamentar a nota do PT sobre o conflito, muito parecida na forma e no conteúdo com nota do Itamaraty emitida ontem. Poderia escrever muito mais, mas esse fio já tá está enorme e o carnaval está aí...
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
A ultradireita brasileira está perdida, desnorteada, não sabendo exatamente quem apoiar no conflito entre Rússia e Ucrânia.
Pq?
Uma parte dela flerta com a extrema direita ucraniana enquanto a outra admira a extrema direita russa.
Explico 🧶👇
Quem não se lembra dos bolsonaristas que queriam "ucranizar" o Brasil? Os militantes que desfilavam na Paulista embrulhados na bandeira da Pravy Sektor, grupo neofascista ucraniano?
Quem não se lembra de Sara Winter, líder dos 300 que marcharam com tochas em Brasília, que repetia aos quatro cantos que foi treinada na Ucrânia.
Me divertindo horrores com os grupos bolsonaristas. Estão feito baratas tontas não sabendo se ficam com os caminhoneiros/Zé Trovão ou se ficam com o mito.
"Meus amigos viajaram 1200 km pra ir pra Brasília e agora o presidente recua?? e... tão lá... levando borrachada da polícia".
"Temos que respeitar autoridade... Bolsonaro tem informações do GSI que não temos... não acho que ele recuou".
Vou dar uma colher de chá pro deusvultinho, distinto aluno do curso de filosofia online do Aiatolavo. Mas antes de discutir teoria da guerra, que tal aprender a língua portuguesa. "Semi-iletrado"? Ao que parece você fez tb o curso online de português do semiletrado Weintraub.
Robespirralho tortura Clausewitz até que ele confesse ser Carl Schmitt.
O que diz a 'formule' clausewitziana? Vamos direto à fonte:
“A guerra não é um mero ato de política, mas um verdadeiro instrumento político, uma continuação da política por outros meios".
Fonte? Segue...
Essa é a tradução de "Da Guerra" feita por Howard e Paret, talvez a mais importante em língua inglesa.
Ele utiliza o termo "intercourse" para a palavra Verkher, que pode ser traduzido da mesma forma como intercurso, tráfego ou circulação.
Seria reprovado na minha disciplina de Segurança Internacional. Clausewitz afirma que a guerra é a continuação da política e NÃO pode ser vice e versa. A ideia da política como continuação da guerra é de Carl Schmitt, o anti-liberal jurista do 3° Reich. Isso é básico, é primário.
Mas é uma confusão conveniente. A visão da política como guerra, que traz consigo a possibilidade da aniquilação do outro (p/ Schmitt, o inimigo) está no DNA do fascismo e, por consequência, do bolsonarismo, que só existe se houver um inimigo para destruir.
Um dos maiores pensadores do século XX, o liberal (de verdade) Raymond Aron, desautoriza por completo essa inversão feita por Sorocabannon. Deixo aqui os 2 tomos que Aron escreveu sobre Clausewitz. Vai estudar, deusvultinho.
Por dever de ofício, assisti ao discurso do chanceler-templário na abertura do evento que ocorreu ontem, na Funag, sobre globalismo. Do seu discurso cacofonico e lisérgico, como de costume, segue o pequeno fio do que eu consegui entender do "argumento" do Ministro.
1) A tese é que o comunismo e o nazismo são expressões de uma ordem sem Deus, anunciada por Nietzsche (várias vezes citados em alemão). As democracias liberais, por terem cristo em seu coração, resistiram e venceram as duas formas de ordem "sem Deus".
No entanto, agora cito o chamceler "Depois de 89, ALGUEM achou achou que não precisava mais da fé cristã", uma "relíquia da Idade do bronze. Então expulsaram Deus da sociedade liberal e deixaram ele lá de fora, PASSANDO FRIO". Sim, Deus ficou passando frio na "Nova Ordem Mundial"