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Mar 11 34 tweets 15 min read
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A efetividade das vacinas hoje pode trazer boas informações sobre como a eficácia diminui ao nível individual. Conforme mais pessoas são acompanhadas, podemos começar a ter uma ideia de até quanto a eficácia protetora contra óbitos diminui. Mais detalhes no fio abaixo👇🧵
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Vamos começar com o seguinte: a efetividade que observamos hoje, depende da eficácia e da queda na eficácia após atingir o pico. Além disso, depende de quando as pessoas se vacinaram. Mas acontece que nem todo mundo se vacina no mesmo dia certo?
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Algumas pessoas se vacinam um dia, outras outro dia e assim por diante. Então a efetividade hoje acaba dependendo de vários dias no passado.
Além disso, a efetividade varia devido à fatores comportamentais, como já mencionei aqui
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Para minimizar o efeito dado pelos padrões comportamentais, vamos analisar apenas as efetividades contra óbitos. Como os casos de COVID são muito ditados pela exposição, a efetividade contra casos é mais susceptível à variações no comportamento.
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Outra coisa, não adianta apenas saber quando as pessoas se vacinaram no passado. Se estivermos falando de 1ª ou 2ª dose, precisamos saber quando essas pessoas tomaram a dose seguinte, para pararmos de contabilizar a perda de eficácia nelas.
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Isso complica muito a descrição desse problema e requer dados bem mais difíceis de se conseguir. Vamos então nos ater apenas à 3ª dose, que até o momento tem sido o último estágio da vacinação em vários locais. Pois bem, dito isso, vamos montar o modelo
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Como todo modelo de comparação de efetividades, precisamos separar o tipo de vacina e a faixa etária. Vamos utilizar dados da Suíça, onde as incidências de óbitos por COVID em vacinados completos e não vacinados estão mais atualizadas. ourworldindata.org/covid-deaths-b…
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Vamos também considerar a população mais velha (80+) e, devido à flutuação estatística nos registros e testes, consideraremos as incidências nas últimas 3 semanas de registro (região marcada no gráfico).
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Como eu falei no início, a efetividade hoje depende de vários dias no passado nos quais as pessoas se vacinaram e depende da perda de eficácia. Primeira pergunta aqui é: Como é descrita essa perda de eficácia nas vacinas?
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Pelos dados, vemos que no prazo de alguns meses após a vacinação, a eficácia tende a diminuir de forma linear, como uma reta. Entretanto, ela não pode ser uma reta para sempre, em algum momento ela atinge um platô inferior (mesmo que seja em 0) assets.publishing.service.gov.uk/government/upl…
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Precisamos então de uma função que se aproxime a uma reta quando o tempo que passou é curto, mas então desacelere e se estabilize em um valor fixo. Isso faz sentido do ponto de vista imunológico também, mesmo que você perca todos os anticorpos neutralizantes
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As células de memória que ajudam a nos proteger da severidade da doença duram por anos. Então faz sentido que haja um limiar inferior mínimo para a eficácia de uma vacina
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Sendo assim, podemos considerar uma função com estas características para descrever fenomenologicamente a perda de efetividade. Na figura abaixo, o parâmetro α nos diz de quanto é a queda até atingirmos a estabilidade e β da a intensidade com a qual a efetividade diminui
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Com tudo isso, juntamos isso à soma sobre a fração de vacinados em cada dia no passado e a eficácia máxima da vacina, 2 semanas após a aplicação, e podemos calcular a efetividade hoje.
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Agora, notem que os dois parâmetros α e β são os únicos que não conhecemos. Já sabemos que, para as vacinas de mRNA, a efetividade máxima contra óbito fica em torno de 98% doi.org/10.1038/s41591…
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Portanto, a efetividade hoje fica sendo descrita em termos destes dois parâmetros. Na figura abaixo, temos a efetividade (gradiente de cor) dada em termos da intensidade de decaimento (eixo vertical) e o limiar de proteção (eixo horizontal)
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Agora, como podemos saber quais são os valores que corretamente descrevem a perda de eficácia das vacinas de mRNA na população 80+?

Aqui vem a etapa 2, onde podemos estimar a efetividade hoje com os dados de incidências de óbitos
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Essa é uma coisa que eu já comentei várias vezes, então para quem quiser, aqui estão dois fios que fiz falando sobre isso

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Quando fazemos a estimativa, obtemos uma efetividade em torno 97.4% na prevenção de óbitos por COVID na população 80+. A margem de confiança vai de 95 a 99% praticamente.
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Isso nos permite voltar no gráfico anterior e restringir quais os possíveis valores de α e β que resultam nesta margem para efetividade na Suíça, dado que temos as curvas de vacinação por lá para saber quantas pessoas se vacinaram a cada dia
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O resultado é mostrado abaixo, sabemos que a combinação de valores para intensidade de decaimento e limiar de estabilização estão em algum lugar dessa região marcada
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Ta mas podemos melhorar isso mais ainda?
Sim!
O @UKHSA tem relatórios periódicos sobre a situação de COVID e um deles estimou a diminuição na efetividade contra hospitalização algumas semanas atrás.
"Ah Pedro mas a gente ta considerando efetividade contra óbito!"
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Verdade, mas já vimos que a diminuição na efetividade contra óbito e hospitalização caem de forma bem similar, provavelmente por envolverem o mesmo mecanismo imunológico para proteção (não tenho certeza mas acredito ser esse o caso)
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Então, podemos usar esses dados para confinar mais ainda os valores de α e β (região azul no gráfico). Essa velocidade de perda é a velocidade durante as primeiras semanas, no regime linear da queda.
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Com uma linha tão estreita, podemos dizer que os dois parâmetros estão bem confinados. Ou seja, se soubermos um deles, automaticamente saberemos o outro. Notem que a linha azul está contida dentro da região sombreada, isso indica concordância entre as restrições
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Pelos dois métodos, o que traz mais confiança para o modelo. Conforme outros países atualizam a incidência de óbitos por status vacinal e faixa etária, mais poderemos saber para descrever os parâmetros que ditam a perda de efetividade ourworldindata.org/covid-deaths-b…
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⚠️Alguns breves comentários sobre esse modelo:
1 - Como eu falei, o modelo está desconsiderando o efeito do comportamento social, que apesar de ser pequeno para a efetividade contra óbitos, é presente.
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Dá para incluir uma aleatoriedade estatística no modelo que represente mudanças no comportamento. Sem isso, o modelo passa a descrever o que é esperado em média! As coisas podem variar de local para local.
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2 - Como mencionei, esse modelo só serve para estimar efetividade de uma dose na qual as pessoas não tenham que tomar outra depois. Do contrário, o somatório fica bem mais complicado
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3 - Já mencionaram comigo que também precisamos considerar a transmissão e a quantidade de casos no cálculo de efetividade.
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Mas ao menos nesse período que eu usei, a correlação entre casos e óbitos, e a razão nas incidências de óbitos entre vacinados e não vacinados não foi significativa, o que sugere que não há muita relação (p=0.28)
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Resumindo, ainda não da para saber aonde a eficácia contra óbitos tende a se estabilizar para idosos e vacinas de mRNA. Mas em breve podemos usar modelos como estes para estimar isso!
O mesmo modelo pode ser aplicado em vacinas com outras tecnologias e outras faixas etárias

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Mar 9
1/13
💉✅Atualizando aqui a distribuição geográfica de cobertura vacinal de 2ª e 3ª dose no Brasil e o mapa de homogeneidade por estado. Dados do RNDS até o dia 08/03 (Terça). Detalhes e comentários no fio abaixo👇🧵 Image
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Esse mapa acima é a cobertura de 2ª dose nas mesorregiões do Brasil. No último mapa que eu montei, Ceará estava com problemas e tinha muito menos dose registrada do que o real, nesse aqui isso já foi consertado
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Aqui temos o mesmo mapa de 2 doses/dose única mas com a divisão por regiões de saúde. Ainda tem algumas poucas regiões em Minas Gerais que a sincronização falhou (regiões pretas) Image
Read 15 tweets
Feb 21
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Estado de São Paulo. Dentre os óbitos ocorridos de Janeiro até hoje, idosos acima de 80 anos compõe a maior parcela. Durante 2020, dentre os óbitos que ocorriam a cada semana, eles representavam, em média, 26%. Agora representam 43%. Detalhes no fio abaixo👇🧵
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Durante o ano de 2020, as parcelas de contribuição de cada faixa etária no registro semanal era a seguinte. O pessoal acima de 70 representava, em média, 52% do registro semanal. As outras faixas etárias tinham contribuições menores, conforme a idade diminuía
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Isso é reflexo tanto do maior risco de severidade e morte para faixas etárias maiores, quanto a quantidade de pessoas em cada faixa etária. Por exemplo, tanto a população 80+ quanto 70-79 tinham contribuições de 26%, mesmo com o risco sendo maior para 80+.
Read 20 tweets
Feb 20
Nessa discussão sobre 4ª dose eu só penso nessa cobertura de 3ª e em quantas pessoas realmente vão aderir a 4ª dose. De verdade, tentar conter a pandemia na 4ª dose me parece uma estratégia condenada ao fracasso. Não vale mais buscar atingir uma homogeneidade maior na 3ª dose?
Ou quem sabe, colaborar para conseguir uma homogeneidade entre outros países? Até hoje a África segue sendo ignorada enquanto cada um corre para proteger seu próprio país como se o vírus respeitasse as fronteiras, e a variante que pode surgir em um país não fosse seu problema tbm
Sério que com esse nível de população vacinada com 3ª dose já querem inventar uma 4ª?
Read 6 tweets
Feb 16
26/55
E como essas estimativas são feitas? Como eu posso confiar nelas? Agora vou tentar destrinchar alguns detalhes de modelagem. Acredito que todos já estejam familiarizados com o conceito do numero de reprodução básico Rₜ (comenta nesse tweet se não estiver)
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Acima de 1, epidemia cresce. Abaixo de 1, epidemia decresce. Em 1, ela é estável. Acontece que esse numero muda com o tempo devido a todos os fatores mencionados nos tweets acima. O valor de R depende principalmente de 3 coisas:
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1 - O valor de Rₜ no início da epidemia, sem alterações comportamentais na população ou medidas de intervenção, o chamado R0.2 - A medida de intervenção ativa no momento ou a mudança adotada pela população
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Feb 16
1/55
Lockdown funciona? E fechar comércio? Escolas? Um estudo "recente" tentou responder isso, acho bom dar uma olhada nele e fazer alguns comentários. Segue o fio (Ta longo mas o essencial só vai até o tweet 24, depois são detalhes metodológicos para quem se interessar)👇🧵
2/55
Essas perguntas são difíceis de responder seriamente. Quando falamos de sociedades, as coisas nunca são preto no branco.
3/55
O artigo não saiu esses dias (doi.org/10.1038/s41467…), ele é de Outubro de 2021, mas acho bom usarmos ele para abordar esse tema. Primeiro que ele não é o primeiro estudo a avaliar muitos locais e estimar a efetividade de medidas de intervenção. Mas como os autores comentam
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Feb 15
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💉✅Atualizando aqui a distribuição geográfica de cobertura vacinal de 2ª e 3ª dose no Brasil e o mapa de homogeneidade por estado. Dados do RNDS até o dia 13/02 (Domingo). Detalhes e comentários no fio abaixo👇 Image
2/19
Esse mapa acima é a cobertura de 2ª dose nas regiões de saúde do Brasil. Mas há 2 comentários que precisam ser feitos.

⚠️O primeiro é que algumas regiões de saúde tiveram problemas na sincronização dos dados municipais com os que baixei do RNDS (São as regiões pretas em MG)
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Por isso, as regiões pretas representam locais sem estimativa de cobertura vacinal. Para ainda poder fornecer uma boa estimativa da cobertura nacional, eu mantive o mapa das coberturas usando a divisão por mesorregiões também👇 Image
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