Theo se arrastava de cansaço.
O resto do texto evocava “a sombra na névoa a tecer o véu das duas existências”. Folheou mais.
Tremia e se perguntava o que aquilo queria dizer.
Então a letra se transformava em rabiscos urgentes e desordenados
Theodoro.
Doeu-lhe o estômago de imediato. Malditos! O que planejavam? Decidiu
Um olho negro banhado em carmesim. Incompreensível. Inumano.
Quando Theo se deu conta, ouviu o barulho da fechadura e a porta se abriu sozinha lentamente.
- Ja é hora do chá? - A voz da mulher era grave e carregava anos de peso. Tinha um ar resignado.
- Venha, ore comigo. - Ordenou efusiva batendo a mão no chão, ainda de costas.
- Pois bem Matheus, aproxime-se. - Ela tinha uma voz persuasiva. Theo avançou.
Theo estava branco. Como ela sabia isso tudo? Como ela sabia seu nome?
- Ele já foi, ele já foi. Mas os olhos que ele trouxe ficaram.
Um baque metálico o fez morrer de susto.
Sangue. Mais uma vez.
Uma mão escondida em luvas de couro atingiu o nível do chão.
Puta merda.
Ossos estalaram enquanto o invasor se agachava.
A figura caminhou lentamente pela sala e roçou os dedos na superfície da prancha que estava preso.
- É assim que vai ser?
- Talvez assim eu possa refrescar sua memória. - A voz se misturou aos chiados do rádio
- Você sabe o caminho para Zha’ilathal?
- VOCÊ SABE O CAMINHO DE ZHAI’ILATHAL - Ela agora virava o botão de volume. Mais estática.
O primeiro golpe quebrou os ossos da mão esquerda de Theo. Ele gritou com todas as forças que tinha.
- É tudo culpa sua. Você começou isso. Eu sou assim por sua culpa! Você começou isso!
O segundo golpe atingiu sua bacia.
A figura ergueu o martelo, preparando o terceiro golpe
Uma pena negra gigantesca.
- Maldição! Não pode ser! NÃO. NINGUÉM VAI TE SALVAR AQUI.
- DESGRAÇADO! - pronunciou a figura com a voz rouca e vacilante.
Ele se preparava para cortar as correntes quando ouviu uma voz familiar
A voz reconfortante de um idoso.
Ajuda seria bem-vinda.
- Theo? Depois que você sumiu da hospedaria fiquei preocupado. Cadê Luana?
Seu corpo tremia com o frio vindo das cavernas.
- Foi dali que eu vim. - Disse Orlando apontando a escada. - você devia arrumar umas roupas, Theo.