O MEC distribuiu nas escolas públicas a coleção Cultura de Paz, da Luciana Batista e Juno Cipolla. É uma coleção que tem como objetivo: "abrir os olhos da criança para temas que o mundo discute, munindo-os de informações, para que possam se construir da melhor maneira possível".
A série aborda temas como segurança pública, prevenção à criminalidade e direitos humanos. Uma das edições da coleção fala sobre Diversidade. E aqui em Juazeiro o MP suspendeu o uso do livro com base na lei municipal que veda "ideologia de gênero" nas escolas.
Essa lei é claramente inconstitucional, mas foi aprovada por unanimidade não só em Juazeiro, mas também no Crato e em várias outras cidades pelo país. O STF já derrubou várias, mas aqui na região elas continuam valendo e impedindo que professores tenham liberdade de ensinar.
Ontem tive a oportunidade de receber uma cópia desse livro e nessa thread vou compartilhar com vocês alguns pontos que estão causando todo esse alvoroço, com direito a apresentador de TV dando chilique com o livro na mão.
Pra começar, é importante dar os créditos aos autores, e também é interessante analisar o currículo invejável dos dois. Ambos trabalham com alunos com deficiências, indígenas, comunidade LGBT, etc. 
Agora se liga nessa apresentação, que fala na importância de todos se sentirem confortáveis no mundo, e que pra isso precisamos ser mais acolhedores e menos exclusivos. As ilustrações são sempre fofinhas e ajudam na compreensão da mensagem.
Aqui começa uma parada genial. O livro incentiva primeiro a criança a expor suas ideias antes de passar qualquer tipo de indicação. Aquela lição que reaprendemos nessas eleições de que a gente tem que primeiro ouvir pra depois falar, aqui é feita de uma forma muito didática:
E aí o livro brevemente aborda a questão das diferenças e de novo joga pra criança, perguntando se ela já se sentiu desconfortável. De novo, não tem doutrinação. É um diálogo.
Aqui a soma das ilustrações com informações simples, numa tacada só fala sobre respeito às diferentes etnias, às crianças, aos idosos e ainda aborda gordofobia e preconceitos com o corpo.
Aqui uma aula sobre identidade de gênero. Não tem buraquinho pra enfiar o dedo, não tem mamadeira de piroca, tem apenas um aprendizado sobre gênero. O livro fala ainda sobre pessoas com deficiência e sobre como tem gente que se adapta mais facilmente aos padrões da sociedade.
Aqui vai começar a melhor parte do livro. E inicia explicando o que é pluralidade. É louco que o livro é pra criança, mas tem muito adulto por aí que devia ler isso também.
O livro então volta a perguntar pra criança. Dessa vez, a pergunta é se ela mudou de ideia sobre o que é "normal", e aí apresenta a dinâmica da caixinha. E aqui sinceramente, é pra levantar e bater palma:
Enfim, tem muito mais coisa incrível no livro, mas a thread já tá enorme e vou parar por aqui mesmo. O que eu queria que ficasse claro é que, como vocês puderam ver, nessas poucas páginas que eu compartilhei foi ensinado sobre respeito às diferenças, aceitação, cultura de paz...
Foram abordados temas como etnias, pessoas com deficiência, gordofobia, gênero, etc. E aí, por conta da narrativa idiota da "ideologia de gênero", que pressupõe uma doutrinação ilusória que vai transformar crianças em homossexuais, o livro está sendo proibido de circular.
Imagina o bem que esse livro iria fazer pra toda uma geração de crianças que aprenderiam a ter censo crítico, que iriam conversar sobre diversidade na idade em que seu caráter está se formando. E pensa aí no que é um professor sendo impedido de lecionar esse tipo de assunto.
Enfim, são tempos sombrios, mas a gente tem que trabalhar pra evitar que isso aconteça. Procura seu partido, procura comissões da OAB, procura formas de pressionar para que essas leis inconstitucionais sejam derrubadas.
