Pode parecer que só trago más notícias, já que não vejo possibilidade que os médicos brasileiros preencham as vagas dos cubanos. Então pensei em comentar quais seriam as possíveis SOLUÇÕES para a falta de médicos no interior e nas periferias (segue)
Sabe o que é mais interessante? É que o PRÓPRIO MAIS MÉDICOS tinha estratégias muito potentes, só que elas se perderam nos dois últimos anos levando a essa situação calamitosa com a saída dos cubanos (segue)
Só esclarecendo no início: mesmo discutindo soluções vejo que perder os cubanos, devido as condicionalidades impostas, é algo muito grave, gerando desassistência nas cidades mais pobres o que não se consegue repor em curto prazo
Ah, e o incentivo para quem teve financiamento estudantil (FIES) durante o curso de medicina trabalhar na atenção básica que o atual ministro da saúde disse que iria fazer JÁ EXISTE DESDE 2011!
O Mais Médicos foi planejado para chegar a 2,7 médicos por mil habitantes em 2026. Para isso, seria necessária a abertura de 11,5 mil vagas de cursos de medicina e 12 mil vagas de residência médica
A residência médica é a melhor forma de formar o médico especialista. Como ela depende de médicos para serem preceptores (e falta médicos no Brasil), historicamente seu número de vagas é insuficiente e muito concentrada no Sudeste
Já que faltam vagas, a concorrência para entrar na residência médica, principalmente em algumas especialidades, É MUITO GRANDE, as vezes maior do que para entrar no curso de medicina
Além disso, o médico que faz residência sabe que irá receber uma bolsa de 3.000 reais por um período de até cinco anos (menos que os médicos cubanos no Brasil!), mas depois disso poderá trabalhar como especialista em um mercado bastante concorrido e bem remunerado
Em países como Canadá, Espanha, Portugal, Reino Unido, França, o médico só pode trabalhar SE FIZER RESIDÊNCIA. No Brasil não é requisito obrigatório, então quando termina o curso de medicina qualquer médico está legalmente habilitado para realizar qualquer procedimento médico
É por isso que nesses países se regula qual especialidade é mais necessária através da residência. Nos países citados a quantidade de vagas para a residência de Medicina de Família é na média de 40%, o que faz que tenha um número mais adequado de médicos para a atenção básica
Só que... no Brasil a quantidade de vagas de Residência de Medicina de Família em 2013 era de só 7% do total de vagas. Com a Lei do Mais Médicos foi criado um caminho em que todo médico que fizesse residência deveria fazer Medicina de Família
Com isso se aumentou de 7 para 15% o percentual de vagas de Medicina de Família. Porém, a partir de 2016, com participação das entidades médicas, o MEC deixou de investir nessa residência, e não regulamentou o mecanismo da Lei...
Ou seja, uma importante solução estava na própria Lei e o MEC a partir de 2016 NÃO QUIS FAZER, em virtude de um discurso contraditório das entidades médicas, que dizem valorizar a residência mas na prática soa como reserva de mercado
A residência de Medicina de Família poderia suprir a necessidade de médicos com boa formação para a atenção básica, apesar de certamente não ser a única solução, como diz esse grupo de especialistas da OMS: searo.who.int/nepal/mediacen…
É por isso que a vinda de médicos estrangeiros era tratada como uma ação EMERGENCIAL. Haveria uma substituição gradual de médicos estrangeiros por médicos-residentes de Medicina de Família, mas o MEC do Governo Temer NÃO FEZ O SEU DEVER DE CASA
Certamente, são necessárias outras estratégias, mas a Residência de Medicina de Família segue sendo uma bem viável. Só que as vezes só se bate na mesma tecla de que só se resolve o problema com carreira de estado...
Não acho que carreira seja a única estratégia mas certamente é uma delas, mas... para defender a carreira precisa batalhar pela revisão do congelamento dos recursos para a saúde por 20 anos! Lembrando que o presidente eleito foi favorável ao congelamento...
