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Sabrina Fernandes @safbf
, 21 tweets, 4 min read Read on Twitter
Sei que não é hábito no Twitter, mas peço que leiam essa longa thread com atenção. É cansativo ter que ficar explicando que "não se trata disso" quando as pessoas projetam um outro debate no que você diz. Então vou enfatizar aqui "do que se trata" o que tão chamando de"treta."
Eu sou xingada todos os dias nas redes. Isso faz parte do trabalho. Muitos xingamentos são de "burra, estúpida, idiota" e outras ofensas à inteligência do outro que passam por ad hominem e não por argumentação. Não é argumento, mas em si não é machismo só porque eu sou mulher.
O que é machismo e, pior, misoginia: ofensas ligadas à sexualidade da mulher (objetificação violenta, como um louco que me xinga de burra e depois relata uma fantasia sexual grotesca comigo nos comentários de quase todo vídeo) e menosprezo por ser mulher.
Se você reparar, muitos homens supõem que uma mulher não pode ser vaidosa e inteligente ou que ela não sabe de algo por ser mulher. Nem sempre dizem isso diretamente, mas faz parte do raciocínio. O Silvio Almeida diz que o racismo é um tipo de racionalização. O machismo também.
Quando uma mulher é xingada de burra, pode ser um xingamento neutro (lembrando que é xingamento e é ofensa, NÃO É ARGUMENTO e revela mais sobre a capacidade crítica do comentarista do que ele comenta). Quando supõe que ela é burra logo de cara, PODE haver machismo aí. (Ou não).
O tipo de crítica rasteira que mulheres recebem podem ou não partir diretamente de machismo. É subjetivo no geral e é necessário investigar pra ter certeza. Dito isso, xingamentos contra a inteligência LIGADOS a observações de aparência são QUASE sempre objetivamente machistas.
O maior exemplo disso é o vulgo "loira burra" que é bem ilustrado nessa imagem aqui e garanto que em 28 anos sendo morena, a quantidade de xingamentos machistas aumentou muito depois que fiquei loira.
O xingamento de "loira burra" é notoriamente machista e é fácil identificar isso na cultura geral também. Quando se fala "loira burra" o adjetivo não é burra, é a objetificação da burrice da mulher como resultado de sua condição de mulher (vaidosa e sexualizavel).
Qualquer tentativa de relativizar isso, após escrever algo como "UMA LOIRA LENDO o que não entende," já demonstra atitude suspeita. Mais ainda quando a pessoa não apresenta argumentos contudentes (e na verdade demonstra certa ignorância do tema) para justificar sua crítica.
Dito isso, trata-se apenas de UM ELEMENTO da postura do supostamente progressista filósofo. O que fiz ontem foi apresentar um HISTÓRICO de pensamentos/atitudes misóginas por parte dele que é reconhecido por militantes de esquerda em diversos estados. É do HISTÓRICO que se trata.
O histórico é importante porque revela que não é só uma mancada ou atitude infeliz daquele homem, mas parte de um comportamento crônico de misoginia que se demonstra incapaz de mudança mesmo após tanto tempo -o que fica mais evidente em como ele tem respondido as críticas atuais.
Também é importante porque traz o ponto central da questão: por mais que se demonstrem capazes de polarizar com a extrema direita, a misoginia é incompatível com uma visão "progressista." Os machistas de direita e de esquerda são parecidos, mas não devem ser aceitos na esquerda.
Nos feminismos de esquerda, busca-se a transformação do comportamento do homem, levando em conta que nós já debatemos tática e estratégia entre nós (talvez homens que querem tanto intervir não saibam, mas raramente alguma crítica que eles trazem é novidade pra gente).
No caso deste homem em questão, o filósofo progressista do YouTube, não tenho esperança de recuperação. Ele define machismo da forma que lhe convém, tenta pautar o feminismo, usa a lógica falaciosa de "não sou machista, eu AMO mulheres" como desculpa e NUNCA mudou.
Como há um histórico do cara, a questão não é só sobre mim. Não é uma treta. Eu apenas resolvi denunciar essa situação simplesmente porque se não fosse seu xingamento machista a mim (desprovido de argumentos e falacioso no resto), eu nunca teria investigado seu histórico.
Como há anos denunciam, criticam e NADA funciona, concluo que a questão também não é sobre o filósofo "progressista" e sim sobre o tal "progressismo" e a leniência crônica que a esquerda tem com homens que acertam algumas vezes mas ERRAM com mulheres. Esses erros são minimizados.
Então DO QUE SE TRATA: atitudes machistas de homens NUNCA devem ser minimizadas por conta do resto de sua atuação. Se ele pendesse para uma defesa da burguesia, logo retirariam sua carteirinha de progressista, mas como SÓ OFENDE mulheres, isso é minimizado como polêmica.
Pra piorar, um monte de homem projeta suas incertezas e desconfortos com os feminismos com críticas fora do lugar e atrapalham o debate, minimizando mais uma vez as denúncias machistas. Chegam a cobrar que as mulheres que denunciam que sejam PACIENTES.
Os homens nos acusam de dividir a esquerda quando nós denunciamos machismo, mas são justamente os homens machistas que dividem a esquerda. Não são as mulheres que precisam ser tolerantes, é o machismo que tem que acabar e logo, não é algo pra depois.
Tenho confiança no meu trabalho e mais ainda no meu debate sobre Palestina, então não me preocupa a falta de argumento do cara quando me chama de "burralda" (meio infantil, mas ok). O que me preocupa é a normalização do machismo do xingamento loira burra como se fosse argumento.
Então a questão não é sobre mim, e não é uma treta. A questão é uma lição: não dá pra passar pano pra machismo só porque o homem ajuda em outras causas. Se ele quer ajudar, tem que mudar. E se não quiser fazer isso, que fortaleçamos outras referências. Referências mais coerentes.
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