, 92 tweets, 28 min read Read on Twitter
Taí, vou brincar de falar sobre o único assunto sobre o qual consigo falar alguma coisa um pouco menos entediante.
1 like = 1 curiosidade aleatória da história da arte
1) Existe uma 2a cópia da Monalisa (na imagem), pintada pelo ateliê de Leonardo da Vinci, possivelmente com sua participação. A história dela é meio longa, então, fica para outro like.
2) A 2a Monalisa fica no Museu do Prado e tinha o fundo escuro até outro dia mesmo. Aí foram fazer uma restauração e TAM-DAM!, o plano de fundo era praticamente idêntico ao da Monalisa do Louvre. Como o fundo ficou protegido da luz por muito tempo, a conservação está bem melhor.
3) Já que estamos nesse assunto, vale lembrar que a Monalisa ficou famosa especialmente porque foi alvo de um roubo (tecnicamente é furto, né?) em 1911. O evento fez com que a imagem do quadro fosse reproduzida pelo mundo todo.
4) Durante a investigação do roubo da Monalisa até Picasso foi considerado um dos suspeitos. O quadro só apareceu em 1913 em Florença. O ladrão, Vincenzo Peruggia, alegou que só queria devolver o quadro à Itália (aham).
artsy.net/article/artsy-…
Viram como historiador da arte é chato? 4 likes e eu ainda estou em UM quadro. E ainda coloco imagens e referência bibliográfica.
5) Voltemos a meada. Muitos dos nomes dos quadros que nós conhecemos não foram dados pelos artistas. Aliás, até o século XVIII, os artistas não nomeavam seus quadros, porque não havia necessidade.
6) Eventualmente o quadro ganha um nome diferente, porque o título original não "pegou".
theconversation.com/how-the-painti…
7) Por outro lado, o artista pode mudar o nome do quadro para enquadrar (haha) a obra em um movimento. "Tropical", de Anita Malfatti, se chamava originalmente "Negra baiana". A mudança aproximou o quadro mais do nacionalismo próprio do movimento modernista.
8) Arte pode causar reações extremas. Em 1914 uma sufragista britânica, no calor da 1a onda do movimento feminista, esfaqueou a "Vênus ao espelho" do Velázquez. Felizmente o quadro foi recuperado.
9) A "Vênus ao espelho" foi genial porque (1) é uma releitura de um tema famoso, especialmente da Vênus de Urbino, de Tiziano (ver imagem), sob a perspectiva invertida, com a modelo de costas, (2) tem espelho, que é outra coisa muito repetida na arte.
10) A "Vênus de Urbino" (1538), como muitos quadros dessa época, usam um monte de elementos simbólicos que permitem sua leitura. No quadro, o cachorro seria a fidelidade. Nas mãos, as flores, a pureza e castidade. Mas uma flor está caindo o que significa que HOJE TEM!
11) Outra "Vênus" famosa, que faz referência a essas outras, é a "Olympia"(1863) de Manet. O quadro causou escândalo (pra variar) porque retratava uma prostituta, conforme os detalhes do quadro.
12) Por muito tempo acreditou-se que a modelo de Olympia era uma prostituta ou uma modelo qualquer. Mais de um século depois descobriu-se que a modelo era uma artista, Victorine Meurant, com quadros expostos e tudo mais.
theguardian.com/lifeandstyle/2…
13) Olympia do Manet, também faz referência à "A maja nua" (c. 1800), do Goya, que também representa uma mulher nua reclinando. A pintura também foi considerada muito erótica na sua época. Então... (esse é meu cliffhanger).
14) ... Goya deu a solução mais prática. "A maja vestida" que fica sobre o quadro anterior. Literalmente um sobre o outro. No fundo a história da arte é carregada de perversão e safadeza, como vocês podem a ver.
15) Lógico que a "solução" de vestir a modelo com outro quadro não deu muito certo e Goya acabou acusado no tribunal da Santa Inquisição. Ele foi inocentado exatamente porque mostrou que só seguiu a tradição artística dos quadros de Tiziano e Velázquez, já citados nesta meada.
16) E já que falamos de libidinagem, é necessário citar o estilo mais safadinho da história da arte, o Rococó Francês, próprio da 2a metade do século XVIII. Toda pintura desse pessoal tem dublo sentido. Era a época que nobreza ficava no palácio pensando sacanagem o tempo todo.
17) O expoente máximo do etilo é Jean-Honoré Fragonard. "O Balanço" (1767) mostra um marido enganado balançando a esposa com cordinhas, enquanto o amante olha por baixo das vestes da mulher. Não bastasse, o amante aponta "as intimidades" dela. É suficiente? Tem mais...
18) Olhem as estátuas. No meio um casal de anjos acompanha a cena meio que abraçados e à esquerda um anjo pede silêncio. O segredo do caso entre os amantes não pode chegar no marido, propositadamente colocado nas trevas. Suficiente? Tem mais...
19) Lembram da flor caindo da "Vênus de Urbino", alguns twits passados? Vejam que a mulher no balança chuta as flores do canteiro e joga uma que cai pelo ar, no peito do amante. Para terminar, o sapatinho voando, que simboliza o êxtase máximo da mulher.
20) Isso mesmo. Vocês acabaram de ver um orgasmo em uma pintura. Falei que o Rococó Francês era forte. E o Zack Snider achando que aquela cena do Watchmen com fogo saindo da nave era inovadora.
Ok, 500 likes, já dá para assumir que eu não termino essa meada nesta encarnação. Mas vou continuar até esgotar meu repertório. Quem quiser acompanhar, sugiro seguir esta humilde @, porque o assunto vai longe.
21) Mas como quadros de conteúdo tão libidinoso podiam existir em uma sociedade conservadora? Porque a arte até o século XIX foi produzida para ser exibida em ambientes privados, para os "deleites" dos ricos que tinham dinheiro para financiar as obras. Não havia museus como hoje.
22) O restante dos trabalhos eram feitos para prédios públicos, palácios ou igrejas. Nesses não rolava tanta safadeza explícita. Só no século XIX a arte se tornou um fim em si mesma, arte pela arte. Mais sobre isso depois.
23) Na segunda metade do século XIX a arte muda substancialmente. E Manet, que eu citei acima, é um dos nomes mais importantes desse momento. Além da Olympia, outro quadro famoso e escandaloso dele é o "O piquenique no bosque"(1862).
24) O "Piquenique..." é ousado por 2 motivos. 1o, mulher pelada de boas no parque, com dois homens, totalmente curtindo a vida. O nu normalmente estava associado a temas nobres, que serviam de desculpa para disfarçar o erotismo do quadro (ou outros subterfúgios, como o Goya).
25) O segundo motivo da ousadia é a subversão das regras de *perspectiva* (essa palavrinha é muito importante). O fundo do quadro parede saltar para frente de maneira pouco natural. Como se o chão tivesse se encurvado para frente.
26) Comecei a falar de perspectiva. Pois então, por quase 5 séculos a perspectiva foi uma das técnicas mais importantes para o artista. Ela permite ao pintor representar em uma tela plana um mundo que é tridimensional.
27) Durante a idade média, a galera não era muito fã de perspectiva. As poucas pinturas que existem são "chapadas", com pouca sensação de profundidade, como essa iluminura de um manuscrito do século XII. Por isso nossa percepção de que as imagens não são realistas.
28) Por que os medievais pintavam assim? É difícil de saber. Possivelmente era uma tendência estética resultado tanto de limitações técnicas como de preferências criativas. Mas, NÃO, não era porque eles pintavam mal e viviam em uma era de trevas.
29) Contudo, conforme o estudo da geometria avançou e influenciou a pintura, a técnica para a pintura em perspectiva evoluiu. No Alto Renascimento a pintura alcançou perfeição considerável nesse ponto, como no afresco do Rafael Sanzio, "Escola de Atenas"(1509).
30) Na "Escola de Atenas", Rafael retrata no centro do quadro Platão (à esquerda) e Aristóteles (à direita). Reza a lenda que os gestos dos dois filósofos sintetizam as ideias de cada um. Platão indica o mundo ideal acima e Aristóteles o mundo empírico, com a mão na horizontal.
31) Rafael se retratou no quadro. Ele está de branco, no centro, abaixo, um pouco deslocado para esquerda, olhando diretamente para o espectador. DICA: Normalmente em quadros com muitas pessoas, o sujeito que olha diretamente para o espectador representa o próprio pintor.
Bom, trinta e uma curiosidades, sei lá quantos corações. Amanhã continuo. Continuem sintonizados. Ainda nem falei da orelha de Van Gogh e as altas fofoquinhas dos impressionistas.
Aproveito o sucesso da meada para mostrar ~conteúdo exclusivo~. Esses são os imãs na geladeira aqui de casa. Não aparecem todos, mas algumas das obras citadas estão aí, podem procurar.
32) E agora o momento do internauta. A @dehdehdeh mostrou que o quadro "O Balanço" (n°17 da meada) aparece no filme Frozen. Disney sua safadinha! Mas a personagem ainda está de sapatinho😏.
33) E o @adrianosbr lembrou que o jato de fogo do Watchmen (n°20 da meada) não foi ideia do Zack Snider, mas do próprio Alan Moore. E de fato o negócio já está nos quadrinhos (tirei até foto do livro para comprovar).
34) Mas sigamos a meada falando de perspectiva. Essa técnica não surgiu do nada no Alto Renascimento italiano. A história não anda aos saltos. Mesmo no Renascimento Nórdico havia exemplos muito interessantes do uso de perspectiva, como "O Casal Arnolfini" (1434), de Jan van Eyck.
35) "O Casal Arnolfini" também é cheio de pequenos detalhes interessantes. Quem seguir a meadas já consegue descobrir dois deles facilmente. Vou deixar em aberto o assunto, para mais tarde contar sobre os símbolos que estão ali. Trabalhamos com suspense? Trabalhamos.
36) Como algumas pessoas disseram (nomeadamente @ciprianorafa_ @thurler_carol @whazuuupana e desculpa se esqueci alguém), as duas coisas que chamam atenção no quadro, para quem leu a meada, são o cachorro e o espelho. O cachorro simboliza a fidelidade do casal.
37) E, embora a perspectiva não esteja absolutamente perfeita ainda, o espelho é para onde convergem as linhas de perspectiva, ou o ponto de fuga. E lá no centro do espelho há um outro casal chegando à cena. Acima do espelho há a frase "Van Eyck esteve aqui".
38) Difícil saber quem é o casal. Especula-se que o próprio Van Eyck tenha se retratado na imagem (ele colocou o nome dele exatamente acima do espelho). Esse vídeo explica um pouco (infelizmente em inglês).
39) Mais algumas coisas interessantes. À direita, a mulher esta próxima do leito conjugal. À esquerda, o homem próximo à janela. Ou seja, mulher vive para a casa, homem para o mundo lá fora.
40) Com o mesmo tema de pintores aparecendo em quadros e espelhos, preciso citar talvez um dos quadros mais geniais da história. "As Meninas"(1656), do mesmo Velázquez já citado na meada com outro quadro (nº 6, acima).
41) Quando pintou "As Meninas", Velázquez era o cara da corte espanhola. Era o pintor oficial, mas também exercia funções administrativas e era encarregado da decoração do palácio. Assim, quando elaborou o quadro, Velázquez queria mostrar seu prestígio acima de tudo.
42) Qualquer pintor mediano teria feito um autorretrato cheio dos pincéis e insígnias reais. Qualquer pintor excelente faria um autorretrato todo profundo e metafórico, olhando para o espectador (estou falando com você, sr. Rembrandt). Mas Velázquez não. Velázquez era genial.
43) Ao invés de apelar para soluções mais óbvias, Velázquez se retratou pintando, próximos aos membros da família real. No centro do quadro está a Infanta Margarida, filha única do casal real e herdeira do trono. Ao seu lado, duas ajudantes de companhia. Daí o nome "As Meninas".
44) E o casal real? Vejam que no centro do quadro há um espelho em que o rei e a rainha parecem (parecem, friso) refletidos. A cena seria a captura de um instantâneo, como se o casal tivesse acabado de chegar no estúdio. Alguns personagens reagiram, outros ainda estão alheios.
45) Mas, ao mesmo tempo, as linhas de perspectiva parecem convergir para o sujeito saindo da sala, parado à porta. Se assim for, o casal real não estaria na sala e o reflexo no espelho seria a imagem que o próprio Velázquez está pintando.
46) Assim, fica a dúvida eterna de quem está no espelho, quem Velázquez está pintando, o que é real e o que é figuração. O quadro coloca a pintura em outro patamar, junto à nobreza real. É como se Velázquez dissesse "eu estou pintando e olha como isso é muito importante".
47) Essa é um dos quadros mais estudados da história da arte. E como sempre, há milhões de teorias e investigação sobre os símbolos. Tem um cachorro (gente, esse pessoal *adora* colocar cachorro em quadro), tem um menino *pisando* no cachorro... Enfim, é um universo.
48) O quadro do Velázquez é tão influente que o próprio Picasso resolveu fazer uma versão sua, em 1957, completamente modernizada.
49) Ao todo Picasso fez 45 estudos e versões do quadro para chegar a composição final de "As Meninas". Em um dos estudos, Picasso transformou a anã ao lado do menino, no canto inferior direito do original, em um PIANO!
Quem disse que artista não pode ser piadista?
50) É já que falamos de Picasso, é hora de falar porque os quadros dele são tão esquisitos. Primeiro, é bom lembrar que Picasso foi um dos pintores mais virtuosos da história. Com 15 anos (1896) ele já pintava coisas como esse retrato de sua mãe. Quase um Mozart da pintura.
51) Para explicar porque Picasso foi revolucionário, preciso voltar um pouco. Já disse que a técnica de pintura em perspectiva alcançou excelência no Alto Renascimento (n. 29). Logo depois, com a contrarreforma católica, voltou-se a uma estética mais estilizada e menos realista.
52) Segundo a Igreja Católica, na segunda metade do século XVI, a pintura deveria ser menos "realista"(muitas aspas aí) e mais preocupada em registrar a divindade das figuras religiosas. É o que faz, por exemplo, El Greco, na tela "O Enterro do Conde de Orgaz" (1587).
53) Depois as perspectiva voltaria a ser importante. Mas é bem legal que esse mesmo ar sobrenatural foi aproveitado pelos artistas para criar ilusões de continuidade entre o mundo real e a pintura. Vejam o teto da Igreja de Santo Inácio, em Roma, de Andrea Pozzo (c. 1685).
54) Aliás, essa técnica de usar a perspectiva para criar uma ilusão de continuidade entre arquitetura e pintura chama-se "trompe-l'oeil" (falar com seu melhor sotaque francês).
55) Mas só na 2a metade do século XIX as regras de perspectiva foram realmente desafiadas. Primeiro por Cézanne, que criava uma espacialidade diferente a partir da forma dos objetos. Vejam "Maçãs e laranjas" (c. 1899).
56) Depois com Van Gogh (OLHA ELE AÍ CHEGANDO NA MEADA!).
Ainda que ninguém se importasse com ele na época, telas como "A Noite estrelada" (1889) mostram que Van Gogh estava mais interessado em pintar o mundo como ele o via do que em fazer qualquer coisa realista.
57) Além dessa criação de espaço toda especial, as telas de Van Gogh tem materialidade. Grossas camadas de tinta fazem um relevo, como dá para ver no detalhe de "A Noite Estrelada"
(CONTEÚDO EXCLUSIVO, porque fui eu que fiz a foto).
58) Mas quem desconstruiu totalmente as regras de perspectiva foi Picasso. Em "Les demoiselles d'Avignon" (1907), o pintor revolucionou a arte quando "desmontou" o corpo das modelos em formas geométricas básicas que não poderiam ser absorvidas a partir de um único ponto de vista.
59) A tela "Les demoiselles..." deu início ao movimento cubista. A ideia era questionar a noção de espaço e tempo e apresentar os elementos a partir de vários ângulos possível. A abaixo dá um exemplo simples disso. O espectador precisa remontar o objeto em sua mente.
60) (Tem um erro de concordância acima: "vários ângulos possíveis").
Picasso foi quase didático no quadro. O centro apresenta formas mais "realistas" e estáveis, enquanto as formas vão se desmontando na periferia da tela, algo que reflete, de certa forma, a própria visão humana.
61) Mas por mais revolucionário que "Les Demoiselles d'Avignon" seja, ele ainda repete um grave problema da história da arte. Como denuncia o coletivo artístico "Gorilla Girls", "as mulheres precisam estar nuas para entrar nos museus"?
61) As mulheres artistas foram apagadas e esquecidas da história da arte, principalmente antes do século XX. Vejam a história absurda da tela "Retrato de Charlotte du Val d'Ognes" (1801).
63) Em 1917 o quadro foi doado ao @metmuseum em Nova York como um trabalho de Jean Louis David, maior representante do estilo neoclássico. Em 1951 a autoria da obra foi questionada, porque David não havia participado do Salão de 1801, quando a tela foi exposta pela primeira vez.
64) Depois do questionamento o quadro foi atribuído a Constance Marie Charpentier, possivelmente aluna de Jean Louis David, a quem muitas de suas obras foram atribuídas. Obras de alunos atribuídas a mestres não são raras na história da arte (igual artigo acadêmico hoje em dia).
65) No entanto, só em 1977 o nome de Jean Louis David saiu da moldura do quadro. Só que outra reviravolta viria. Em 1996, uma historiadora da arte, Margaret Oppenheimer, conseguiu demonstrar que o quadro foi pintado por Marie-Denise Villers.
66) "Retrato de Charlotte du Val d'Ognes" é interessante ainda porque é um raro (talvez único) registro feito por uma artista de uma mulher pintando. A obra é uma abordagem totalmente feminina da arte no início do século XIX. FONTE: esse livrinho aqui: amazon.com.br/Broad-Strokes-…
ERRATA URGENTE. O nome do pintor é Jacques-Louis David, como apontou a @witcherry95. Jean Louis é um salão de cabeleireiro, hahaha. Invariavelmente minha cabeça confunde os dois.
67) Pequena pausa na meada para o já tradicional momento de participação do internauta. O @sucodostress lembrou que o quadro "Escola de Atenas" do Rafael (n. 30 da meada) foi usado na capa dos discos do Guns N'Roses "Use Your Illusion" I e II.
68) Ainda falando da escola de Atenas, quando disse que os artistas normalmente se registram olhando para o espectador, a @Rebecabmcf e a @whysrl perceberam que há mais um sujeito olhando para fora do quadro, no canto direito.
69) Então, há certa polêmica sobre quem seria Rafael na imagem. Há quem diga que o artista é mesmo o sujeito disfarçado no canto direito, enquanto a pessoa no meio do quadro, de branco, seria um registro da Margarita Luti, amante de Rafael.
70) Sobre novamente sobre "O Casal Arnolfini", @sih_souz e @adrianosbr levantaram que a modelo/esposa não está grávida. Os vestidos da época eram assim mesmo, com esses monte de pano, para exibir riqueza.
71) Pra terminar a participação do internauta, por ora, o @ThalesCaLasanha mostrou que em "O Balanço" há ainda um cachorro, indignadíssimo, latindo para avisar o marido sobre a traição da esposa. Juro que eu nunca tinha visto o doguinho ali.
72) Voltando às artistas mulheres, não tem como não citar Artemisia Gentileschi e o famoso "Judite decapitando Holofernes"(1621), talvez o quadro mais sangrento do Barroco Italiano, que já é violento por si só. E vocês achando que Game of Thrones inventou a violência explícita...
73) Artemisia, uma das raras artistas mulheres do século XVII, foi vítima de estupro em 1611, pelo seu professor de pintura, Agostino Tassi. Talvez como forma de catarse, supõe-se que Artemisia tenha feito um autorretrato como Judite arrancando a cabeça de seu estuprador, Tassi.
74) Gentileschi pintou primeiro uma versão mais discreta do quadro (na imagem abaixo) e anos depois voltou ao tema, acrescentando um jorro de sangue saindo do pescoço de Holofernes. A segunda versão do quadro, além de mais sangrenta, é melhor acabada.
75) Seja autorretrato ou não (a biógrafa da artista acha que é um autorretrato), é bem significativo que Artemisia tenha pintado duas vezes a cena de decapitação. Mais detalhes sobre a artista e sua carreira estão nesse livro digrátis do MET de Nova York.
metmuseum.org/art/metpublica…
76. Artemisia Gentileschi gostou tanto do tema da decapitação de Holofernes que fez mais quatro telas com o assunto. Nessa versão de "Judite e sua criada" (1625), há um cuidado incrível de projetar a sombra da mão que cobre a vela. O barroco é isso, jogo luz e sombra.
Vamos mudar de assunto brevemente, porque chegou a informação de que até o fim de janeiro o Museu Nacional de Belas Artes estará com a entrada gratuita. Vou aproveitar e falar um pouco de arte brasileira e dos quadros do museu.
facebook.com/SecretariaEspe…
77. Comecemos com uma denúncia. Em "A Redenção de Can"(1895), Modesto Brocco reflete a ideologia do branqueamento, muito em voga no século XIX. A vó, negra, agradece aos céus pelo neto branco gerado pela filha mulata, sob o olhar orgulho do pai homem branco.
78. O título do quadro faz referência a um personagem bíblico, Cam, filho de Noé, amaldiçoado como "servo dos servos". A Redenção seria, assim, a purificação do povo pela miscigenação. Enfim, um horror.
79. O quadro ainda mostra um "crescente civilizatório" da esquerda para direita. Tanto as roupas como o próprio chão em que pisam os personagens evoluem para um estágio mais "desenvolvido", com a avó negra no estágio mais "primitivo" e o "homem branco" no mais evoluído.
80. O centro do quadro replica o tema clássico de Maria e o bebê Jesus, em que o bebê segura uma flor, símbolo da castidade (na imagem La Madonna dei Garofani, 1506, Raphael). Aqui, contudo, a criança tem uma laranja nas mãos, mostrando que ela é fruto da união entre o casal.
81. Paradinha para celebrar o aniversário do Manet.
82. Voltemos à arte brasileira para falar do que talvez seja o maior quadro brasileiro (em tamanho):"A Batalha do Avaí" (1877), de Pedro Américo. A tela retrata a batalha entre a Tríplice Aliança (Brasi, Uruguai e Argentina) e o exército paraguaio, em 1868, na guerra do Paraguai.
83. Primeiro, uma curiosidade técnica. Até 1870 ninguém sabia como os cavalos galopavam, porque o movimento dos animais é mais rápido do que a retina humana consegue fixar imagens. Pintores registravam, assim, "galopes voadores", como na imagem(“Baronet, 1794”, Stubbs, 1794).
84. Na década de 1870 estudos fotográficos de Eadweard Muybridge começaram a decifrar o movimentos dos animais, até que em 1878 foi realizada a primeira filmagem de um cavalo galopando e finalmente se respondeu a pergunta se o bicho tira as quatro patas do chão enquanto corre.
85. Pedro Américo não viu a filmagem antes de pintar (o quadro é de 1877), mas é bem provável que tenha usado fotografias anteriores para ilustrar de forma mais realista os cavalos da cena. (fonte: ifch.unicamp.br/eha/atas/2007/…)
Missing some Tweet in this thread?
You can try to force a refresh.

Like this thread? Get email updates or save it to PDF!

Subscribe to Caduzão da Massa
Profile picture

Get real-time email alerts when new unrolls (>4 tweets) are available from this author!

This content may be removed anytime!

Twitter may remove this content at anytime, convert it as a PDF, save and print for later use!

Try unrolling a thread yourself!

how to unroll video

1) Follow Thread Reader App on Twitter so you can easily mention us!

2) Go to a Twitter thread (series of Tweets by the same owner) and mention us with a keyword "unroll" @threadreaderapp unroll

You can practice here first or read more on our help page!

Follow Us on Twitter!

Did Thread Reader help you today?

Support us! We are indie developers!


This site is made by just three indie developers on a laptop doing marketing, support and development! Read more about the story.

Become a Premium Member ($3.00/month or $30.00/year) and get exclusive features!

Become Premium

Too expensive? Make a small donation by buying us coffee ($5) or help with server cost ($10)

Donate via Paypal Become our Patreon

Thank you for your support!