Thread by @toscanoigor

Começo de ano, muita gente pergunta "como que eu começo a ler quadrinhos?". Então vou dar algumas dicas que considero úteis pra quem quer se aventurar a ler HQs.

Primeira coisa: "quadrinhos" não é um gênero, é uma mídia, como cinema, literatura, etc. Possui uma linguagem própria, que mistura texto e imagens. As grandes obras, pelo menos dos últimos 30 e poucos anos, são as que conseguem utilizar bem essa linguagem.

Ou seja, tem muito mais do que só super-heróis. Tem quadrinhos de terror, de romance, para crianças, para adultos, colorido, preto e branco.... Mas normalmente quem quer "começar a ler quadrinhos" quer ler Marvel e DC, que são populares mundialmente.

1) A primeira dica, portanto, é manter a cabeça aberta para várias obras: tem muita coisa além do mainstream Marvel/DC, de qualidade. Os quadrinhos brasileiros dos últimos anos não ficam devendo em nada, e você ainda ajuda um autor a continuar produzindo e a pagar as contas.

Se a sua cidade tiver uma biblioteca (ou melhor ainda, uma gibiteca), é um excelente ponto de partida. Provavelmente você encontrará obras mais antigas, ótimo para você que quer ter uma contextualização maior (principalmente das grandes sagas Marvel/DC)

O problema é encontrar coleções incompletas, o que pode ser frustrante.

2) Outra maneira de ler coisas boas é vasculhar listas de melhores do ano. Essa época tem muitas, de sites especializados. Veja quem ganhou prêmios importantes (Eisner, Angouleme, HQ Mix). E tem vários quadrinhos brasileiros incríveis ganhando prêmios internacionais.

Essas listas tem boas curadorias de quais obras são mais relevantes. Por hora, esqueça a ordem e foque na variedade das listas: o que é n 1 para alguém pode ser o seu n 10, mas dificilmente entram quadrinhos ruins em uma lista bem feita.

Outra vantagem é que nessas listas vão ter mais romances gráficos e obras fechadas, que costumam ser mais acessíveis para quem está começando.

3) Leia os clássicos: pode parecer bobagem, mas existe um motivo pelo qual obras como Watchmen, Sandman e a fase do Frank Miller no Demolidor são usadas como referência pelos autores e leitores.

É importante entender como a mídia evoluiu ao longo dos anos, aumentar seu repertório de referências, conseguir contextualizar as obras com seu ano de lançamento e desafiar seu cérebro. Os clássicos fazem tudo isso.

4) Vá a eventos. Interaja com autores, com outros fãs, converse sobre as obras. Ler quadrinhos é uma atividade normalmente solitária, mas o processo de produção costuma ser bem colaborativo (roteirista + desenhista + editor + público).

Convenções são ótimas para descobrir novos talentos, conhecer novas obras e artistas, e conhecer pessoalmente seu artista ou editor favorito, debater ideias, e de quebra, tietar um pouco. Você pode até levar pra casa um sketch exclusivo, se pedir com jeitinho.

Aqui no Brasil, o @fiq_bh e a @bienalhq_ctba são focadas exclusivamente em quadrinhos. A @CCXPoficial dá MUITO destaque aos quadrinhos, trás convidados de grande peso, mesmo internacionais.

Mas mesmo bienais de livro, eventos de cultura japonesa e outros eventos menores possuem um destaque legal para quadrinhos, e são boas oportunidades para comprar material com desconto.

5) Por falar em comprar com desconto, grupos do Facebook são uma boa maneira de conseguir comprar HQs em quantidade, por um preço bom. Sim, a maioria é usada, mas grande parte dos fãs toma um cuidado a mais para manter a coleção, então o estado de conservação é excelente.

Normalmente eles se desfazem do material todo de uma vez, então é bom que você consegue já pegar sagas completas, toda uma fase de um autor, etc. Fora que dá pra negociar o preço.

6) Não dá pra minimizar a importância dos sebos, claro. É trabalhoso, às vezes, caçar material de qualidade, preço, mas é recompensador quando se acha algo que valha a pena. Se você for frequentador assíduo, o dono (ou responsável) pode até separar coisas para você olhar primeiro

7) Muita gente tem problemas com, mas no mundo atual a gente não consegue fugir dos famigerados scans. Dá pra baixar e ler de graça quase tudo de mais famoso, inclusive muita coisa que está fora de catálogo

Scans são uma boa maneira de ver se aquele material te interessa, Mas, por favor, se você curtir, retribua ao autor e COMPRE o material. Se ninguém pagar por ele, as editoras não vão continuar produzindo.

8) Lembrem-se: quadrinhos não é só americano, a produção na Europa e Japão são enormes e muita gente deixa de ler coisas boas por puro preconceito. Como falei, HQs é uma linguagem, então tem material para todo tipo de público no mundo inteiro.

Tem muito fã de supers que acha que "mangá é coisa de criança", porque só leram os quadrinhos para crianças/adolescentes. Ou que é "coisa de menina", porque só viram os que são divulgados para o público feminino. Mas pesquise e veja, tem muuuuuita coisa interessante e variada.

9) Empreste e pegue emprestado com amigos, faça resenhas, recomende, dê quadrinhos de presente. Quanto mais você falar sobre e ler sobre, mais a informação fica acessível para mais gente interessada em quadrinhos

Quanto mais gente interessada, mais fácil o acesso, mais pessoas vão ler, mais autores vão produzir, mais os quadrinhos têm a ganhar. O fã é uma parte muito importante da cadeia de produção, e uma das mais deficientes no país.

De resto. é isso: leia tudo que você quiser, critique, interaja, procure resenhas, podcasts, sites especializados. O mundo dos quadrinhos é amplo, tem muita coisa boa ainda para ser feita e público para todos os gostos.

Longe de mim querer que esse seja um guia definitivo. É só um ponto de partida, como outros tantos por aí