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Hora de preparar a primeira luta, afinal o governo apresentou a primeira proposta inadmissível.
Não foi uma pauta econômica, como a previdência, mas uma moral: o pacote "anticrime" do Moro.
Uma em que o governo tem a maioria da população do seu lado, calcado no senso comum.
Reconhecer que estamos em desvantagem é o primeiro passo para construir a estratégia de resistência. Nos aponta que precisamos atacar o senso comum, buscar mudar a opinião das pessoas que apoiam essa aberração baseadas na tradição punitivista. Muita gente inclusive pobre.
No A Ralé Brasileira do Jessé Souza tem um capítulo bom sobre como mecanismo opera. Todo pobre é automaticamente bandido, menos o que se coloca ativamente na defesa da opressão contra eles mesmo.
Defender o punitivismo é uma estratégia de diferenciação para ter acesso à migalhas.
Uma estratégia de sobrevivência em vários contextos. A esperança de ser poupado caso seja "trabalhador" em vez de "vagabundo".
Então...
Uma estratégia é exatamente mostrar que esta estratégia tem falhas, e gritantes. Usar os vários casos de trabalhadores assassinados pela polícia
O "E se fosse você/seu filho" é um elemento importante nesse diálogo.

Outra estratégia é demonstrar o elo entre o governo e as milícias.
Mas é preciso falar mais do que é a milícia. As pessoas não falam que as milícias também traficam drogas, que cobram "proteção" como uma máfia
Até fala, mas pouco dos assassinatos por encomenda. A gente precisa explicitar o que é a milícia, quais os males, se quer usar isso como argumento.
E apontar que como as milícias estão dentro das polícias, a lei dá garantias de não serem incomodadas. Não é anticrime, é pro-máfia.
Aliás, precisamos mesmo aproximar os conceitos de milícia e máfia no senso comum. Operam de modo muito parecido e em setores muito próximos.

No mundo ideal a gente consegue fazer discussão de encarceramento em massa, e que impedir progressão apenas aumenta o poder das facções.
Infelizmente, o punitivismo é muito forte, e dificilmente a gente consegue ter uma boa discussão sobre isso. É um tema a ser deixado em segundo plano se não houver abertura.
É melhor discutir esses assuntos em particular, não em público.
A brasilidade exige que você seja um "cidadão de bem" em público, mas permite que seja flexível em privado. Manter a imagem de "trabalhador" é importante, vida e morte para algumas pessoas. Então, elas se fecham.
Isso quer dizer que a internet NÃO é o melhor lugar. Gente que poderia ouvir em privado, vai descartar o argumento em público, para preservar essa imagem. Para que eles possam falar em público precisam se sentir seguros.
Para isso precisam ver a existência de um grupo de "pessoas de bem", "trabalhadoras", que professam essa opinião. É preciso que haja discurso público, mas o melhor é que o convencimento seja privado, e a pessoa, depois de convencida, se junte ao grupo público.
Infelizmente isso implica que a esquerda festiva-universitária-4:20-sexo livre tem pouca chance de formar esse grupo. Moralismo cristão ainda é a posição política mais importante do Brasil.
Cada um com sua base, e precisamos de todas. Precisamos de "intelectuais orgânicos".
(Claro, precisamos em algum momento superar o moralismo cristão, mas isso está muito longe do que eu vejo no horizonte do possível do Brasil de hoje.)
Uma coisa implícita acima, mas importante de explicitar:
Não pense que vai convencer minion. Não gaste tempo e energia com isso. O foco e solidificar a posição dos aliados, convencer indecisos e aquelas pessoas que não concordam com você, mas não fazem disso um cavalo de batalha.
Sejamos sinceros. A chance deles virem pra o nosso lado é tão ínfima quanto a de nós irmos para o lado deles. O foco tem que ser as pessoas que ainda não se radicalizaram, que ainda estão abertas ao diálogo.
Para identificá-las, repare: elas não estão falando de política.
E, se é você que vai trazer um tema espinhoso desses, lembre de ter tato. E ouvir.
Somos uma sociedade em que todo mundo fala e ninguém escuta. Se a pessoa acha que milícia é OK, é porque ela tem uma demanda que a milícia supre. Se ela acha que o PT é o demônio é porque o inverso
Não adianta chegar e falar, falar, falar. Cada cabeça um mundo, cada vida uma realidade. Só a partir do momento que você identificar quais os valores, as crenças da pessoa, consegue apresentar argumentos que são válidos para ela.
E, nessa hora, a gente precisa ajustar argumento.
Mas um ajuste só é válido se o argumento continuar honesto (para mim) e verdadeiro (para a realidade).
Posso por exemplo falar que não quero ver vapor preso, porque não concordo com meus impostos servirem para colocar um marginal pé de chinelo na "universidade do crime".
É um argumento honesto (sim, eu acredito nisso), e verdadeiro (sim, as prisões brasileiras tem índices ridículos de reincidência e progressão de crimes).
Não é o argumento principal para eu ser antiprisional, mas se me parecer que vai ser efetivo, uso sem peso na consciência.
Pode ser que o argumento efetivo seja o moral. Milícia/Máfia é crime, e crime é errado, mesmo que garanta paz social. Pode ser que seja o apelo pessoal "E se fosse seu filho?". Pode ser que seja explorar os medos do futuro "Com carta branca, imagina o que vão fazer". Cada um, um.
Mas manter o crivo da honestidade e da verdade é fundamental para qualquer militância que vá durar mais de uma semana, porque não se combate mentira com mentira, e, se formos pegos em contradição, acabou moral e possibilidade de confiança no futuro.
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