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O futebol brasileiro vive numa espécie de hipnose. A cada derrota, clama-se por um suposto retorno às origens e uma grandeza que, na prática, nunca existiu. Acreditem se quiser, o trecho que diz que a seleção não agrada é um mês antes da Copa de 1970 - sim, a do 4 a 1 na Itália. 
Menos espaços no jogo? Defesa dos adversários mais evoluída? Parece 2018, mas é abril de 1978, já com o looping eterno de que "o futebol n"ao é mais espetáculo". Quem reclama de hoje acha que naquele tempo era uma maravilha e só havia craques no país. Mentira.
Não existe mais bobo no futebol em 2019, né? Em 1985 também, segundo João Saldanha. O discurso é o mesmo: o futebol brasileiro é atrasado, o resto do mundo melhorou, não aprendemos. Já havia a balela de que os craques estavam no passado (antes de Ronaldo, Romário, Ronaldinho).
Reclamação de que nosso futebol tem muitos chutões e os europeus são melhores? Típico do futebol moderno! Futebol-raiz da década de 1960 era melhor! Mentira. De acordo com o relato de 1963 (um ano depois do bi do Brasil), o futebol no Brasil já era "primitivo" e cheio de chutões.
Precisamos mudar se quisermos reconquistar a hegemonia do futebol, certo? Segundo o relato de 1955, quando o Brasil SEQUER ERA CAMPEÃO DA COPA, não existia hegemonia alguma. Tinha reclamação todo dia que o jogo era cheio de chutão e que a seleção não sabia furar retranca.
São 70 anos falando a mesma coisa: não somos bons, precisamos aprender, os técnicos são os culpados. Muda técnico, passa ano, NADA muda. Porque o problema NUNCA FOI o ~futebol moderno~. O ~futebol raiz~ que as pessoas clamam já era cheio de buracos e alvo de reclamações diárias.
"Voltar às origens" sempre foi cortina de fumaça pra gerar mais reclamações e desviar o foco do que importa: estrutura e base. Romantizar o antigo é romantizar a esculhambação. Já percebeu que todo talento que brota no Brasil é "obra divina"? Não é. Talento é trabalho e ambiente.
O futebol brasileiro não precisa voltar às suas origens. Precisa é ter estrutura, processo, manter técnico, unir clubes. Não dá mais pra romantizar a esculhambação. Achar que menino de base precisa sofrer pra jogar ou que a modernidade vai acabar com o jogo é ser agente do caos.
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