QUANTO VALE O MEU TRABALHO?

Fui chamada para dar uma palestra em um evento de uma empresa grande. Essa empresa fará um evento para várias empresas grandes, endinheiradas, e o tema tem a ver com a (baixa) presença da mulher no mercado de trabalho.
Eu faria uma palestra pensada para esse público especificamente. Tudo desenhado para o evento. Entendi a temática na primeira reunião e faria o orçamento para encaminhar para essa empresa, minha mais nova possível cliente.

Encaminhado o orçamento, tardei em receber um retorno.
Quando, finalmente, nos falamos, fui informada de que, na verdade, a empresa NÃO TINHA ORÇAMENTO para pagar a palestra: eles gostariam que eu fizesse minha fala DE GRAÇA. Num evento para discutir a situação das mulheres no mercado de trabalho.
O contraditório está aí, a absurdez está aí. E o pior: as pessoas vivem essas coisas todos os dias, mas não dizem os nomes das empresas porque não querem se queimar. Porque, depois de uma merda dessa, quem se queima ainda é quem foi convidada para FAZER DE GRAÇA o seu trabalho.
A questão aqui é PARA QUEM O DINHEIRO está disponível. No caso, não era para mim. Outras pessoas serão pagas de alguma maneira, mas eu não seria. EU TERIA VISIBILIDADE, dizem.
Essa história me lembrou que, há anos, fui chamada para fazer uma aula teste numa faculdade de Salvador que estava DESESPERADA atrás de uma professora doutora em Linguística. Eu era essa pessoa. Eles não me diziam o salário de jeito nenhum, só me falavam do trabalho.
Num dado momento, depois de eu insistir, uma pessoa ESCREVEU NUM PAPELZINHO o valor e me passou. Sequer teve coragem de verbalizar. A hora-aula era de DEZOITO REAIS. Na época, eu conhecia gente que ganhava mais de CEM REAIS a hora aula. DE DEZOITO PARA CEM REAIS: q diferença.
Não tenho conclusão para isso. Estou plenamente ciente de todas as oportunidades que tive, de todos os privilégios que vivo. Não quero q esse meu relato seja, nesse sentido, interpretado equivocadamente.
Mas, olha, é de cagar não receber pelo que se faz e ver a pose das empresas usando discursinho de que querem ser inclusivas, querem ser incríveis ou de que já são incríveis, não querendo pagar pelo trampo de uma mulher, porque acham que visibilidade paga conta. Aviso: não paga.
Para expandir a conversa: QUANTO VALE MEU TRABALHO? | JANA VISCARDI
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