Thread by @thiago_suman

Sou professor de filosofia e sociologia. Atuo em curso pré-vestibular, escola em nível de ensino médio e EJA (Ensino de jovens e adultos).

Pouco tive filosofia quando era aluno de colégio, mas de maneira superficial vi os principais autores.

Entrei para a faculdade de direito na UCS e fui mergulhado na densidade filosófica, larguei o curso e ingressei em jornalismo. Cursando jornalisno passei pela UCS, pela UNISINOS e pela PUCRS e em todas vi muita filosofia como instrumento constituidor do "fazer profissional";

nesse meio tempo fiz Gestão do Esporte pela UNISC e tivemos filosofia na estrutura do curso, até que desaguei a cursar a própria filosofia na UFRGS.

No pré-vestibular, leciono ou lecionei em mais de 7 cidades, mais de 7 instituições, algumas centenas de turmas e para alguns milhares de alunos nesses 6 anos de sala de aula.

SEMPRE encontrei alunos que desviassem da disciplina, por desconhece-la, outros versados em alto grau de teorias complexas,

mas o contingente maior foi e é dos que QUEREM se desafiar. Saber mais. Evoluir. Refletir. Procurar. Investigar. Discordar com juízo de valor constituído. Operar a ciência do saber.

Se impressionam com a metafísica, debatem correntes, se permitem autoconhecimento, vertem na epistemologia, se debruçam sobre a lógica, percebem noções de estética. Entram pálidos e saem coloridos pela multifaceta da mãe das matérias.

Alunos que estarão na linha de frente do mercado e descobrem normatividade, conceitos de ética e moral, se ferramentam.

E quase todos retornam a mim, quando já estão na Universidade, me mostrando suas tarefas de filo ou o quanto usam o que aprenderam, se não na profissão, se fazendo mais gente.

No colégio, os alunos são tabulas rasas e se impressionam ao descobrirem o que significa isso. Entendem noções existenciais em uma fase da vida que precisam de ancoragem existencial, assumem compromissos para com a sociedade ao entenderem os contratualistas ...

se veem platônicos desde o entendimento de amor, ética e até a caverna que está cada vez mais escura.

No EJA, discentes de outra natureza, que, sofregados da vida, não tiveram tempo para filosofias, mas quando descobrem os valores humanos ali contidos, desabrocham de modo sublime.

Ouvi de um aluno certa vez que ele merecia ser humilhado pelo patrão da fábrica e ganhar a miséria que lhe era paga, pois o patrão teve grande ideia ao criar a empresa e ele não tinha inteligência para isso.

Quando mostrei conceitos sobre o quanto o patrão precisava dele, o quanto a lógica era invertida, o homem, já de idade e rosto sulcado do tempo, sorriu e disparou: Se eu soubesse antes.

Essa postura do governo é violenta, é mutiladora, é um genocídio intelectual, mas não é nova e tampouco me impressiona.

De Sócrates ao período de chumbo no Brasil.

Desde o ventre a mãe das matérias é Geni. Ela pariu tudo que vem depois dela há 2500 anos. E poucas vezes foi reconhecida e valorizada.

A preocupação não é dar caráter mais técnico aos curriculuns, nem dissipar o viés ideologico que pincela essa matéria, é sim asfixiar, como de praxe se faz em governos de exceção, a possibilidade do contraditório. E perceber a anomalia disso é função dessa maldita disciplina.

O bom disso é saber que: Você não gosta de mim, mas sua filha gosta.

Do jornalismo até a filosofia, do pensamento social-democrata ao comportamento crítico. Represento aquilo que Bolsonaro e sua quadrilha não suportam e isso me faz ter cada vez mais certeza: peregrino certo