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@GalanExitum @eduardobadu

‘Artigos Sobre Metapsicologia’ talvez seja considerada como o mais importante de todos os escritos teóricos de Freud, não há dúvida alguma de que este ensaio sobre ‘O Inconsciente’ constitui seu ponto culminante.
O conceito segundo o qual existem processos mentais inconscientes, é, naturalmente, fundamental para a teoria psicanalítica. Freud nunca se cansou de insistir nos argumentos que o apóiam e de combater as objeções levantadas contra ele.
Na realidade, até mesmo a última parte não concluída de seus escritos teóricos, o fragmento escrito por ele em 1938, a que deu o título, em inglês, de ‘Some Elementary Lessons in Psycho-Analysis’ (1940b), constitui uma nova justificação daquele conceito.
Contudo, deve-se esclarecer de imediato que o interesse de Freud por essa suposição jamais foi de natureza filosófica - embora, sem dúvida, problemas filosóficos se encontrassem inevitavelmente próximos.
Seu interesse era prático. Ele achava que, sem fazer essa suposição, era incapaz de explicar ou mesmo de descrever a grande variedade de fenômenos com que se defrontava.
Por outro lado, procedendo assim, encontrou o caminho aberto para uma região imensamente fértil em novos conhecimentos.
O reconhecimento da existência de processos mentais inconscientes desempenhou papel essencial no sistema de Herbart.
Apesar disso, porém, Freud não adotou imediatamente essa hipótese nas primeiras fases de suas pesquisas psicopatológicas.
Para Freud, cuja carreira científica, no princípio, fora inteiramente voltada para a fisiologia, essa segunda possibilidade mostrou-se de início irresistivelmente atraente.
Deve-se, porém, repetir que Freud não estabeleceu uma mera entidade metafísica. O que ele fez no Capítulo VII de A Interpretação de Sonhos foi, por assim dizer, revestir a entidade metafísica de carne e sangue.
Pela primeira vez, revelou o inconsciente, tal como era, como funcionava, como diferia de outras partes da mente, e quais eram suas relações recíprocas com elas.
Freud investigara cuidadosamente essas ambiguidades e estabelecera diferenças entre os empregos ‘descritivo’, ‘dinâmico’ e ‘sistemático’ da palavra.
Aprendemos com a psicanálise que a essência do processo de repressão não está em pôr fim, em destruir a ideia que representa um instinto, mas em evitar que se torne consciente.
Quando isso acontece, dizemos que a ideia se encontra num estado ‘inconsciente’, e podemos apresentar boas provas para mostrar que, inclusive quando inconsciente, ela pode produzir efeitos, incluindo até mesmo alguns que finalmente atingem a consciência
Tudo que é reprimido deve permanecer inconsciente; mas, logo de início, declaremos que o reprimido não abrange tudo que é inconsciente.
O alcance do inconsciente é mais amplo: o reprimido não é apenas uma parte do inconsciente.
Como devemos chegar a um conhecimento do inconsciente?
Certamente, só o conhecemos como algo consciente, depois que ele sofreu transformação ou tradução para algo consciente.
A cada dia, o trabalho psicanalítico nos mostra que esse tipo de tradução é possível.
A fim de que isso aconteça, a pessoa sob análise deve superar certas resistências - resistências como aquelas que, anteriormente, transformaram o material em questão em algo reprimido rejeitando-o do consciente.
Nosso direito de supor a existência de algo mental inconsciente, e de empregar tal suposição visando às finalidades do trabalho científico, tem sido vastamente contestado.
A isso podemos responder que nossa suposição a respeito do inconsciente é necessária e legítima, e que dispomos de numerosas provas de sua existência.
Ela é necessária porque os dados da consciência apresentam um número muito grande de lacunas; ...
...tanto nas pessoas sadias como nas doentes ocorrem com frequência atos psíquicos que só podem ser explicados pela pressuposição de outros atos, para os quais, não obstante, a consciência não oferece qualquer prova.
Nossa experiência diária mais pessoal nos tem familiarizado com ideias que assomam à nossa mente vindas não sabemos de onde, e com conclusões intelectuais que alcançamos não sabemos como.
Todos esses atos conscientes permanecerão desligados e ininteligíveis, se insistirmos em sustentar que todo ato mental que ocorre conosco, necessariamente deve também ser experimentado por nós através da consciência; ...
...por outro lado, esses atos se enquadrarão numa ligação demonstrável, se interpolarmos entre eles os atos inconscientes sobre os quais estamos conjeturando.
Podemos ir além e afirmar, em apoio da existência de um estado psíquico inconsciente, que, em um dado momento qualquer, o conteúdo da consciência é muito pequeno, de modo que a maior parte do que chamamos conhecimento consciente deve permanecer, ...
...por consideráveis períodos de tempo, num estado de latência, isto é, deve estar psiquicamente inconsciente.
Por outro lado, sabemos com certeza que possuem abundantes pontos de contato com processos mentais conscientes; com o auxílio de um pouco de trabalho podem ser transformados em processos mentais conscientes ou substituídos por eles, e todas as categorias que empregamos ...
...para descrever os atos mentais conscientes, tais como ideias, propósitos, resoluções, e assim por diante, podem ser aplicadas a eles.
A psicanálise exige apenas que também apliquemos esse processo de inferência a nós mesmos - procedimento a que, na verdade, não estamos por natureza inclinados.
Assim como Kant nos advertiu para não desprezarmos o fato de que as nossas percepções estão subjetivamente condicionadas, não devendo ser consideradas como idênticas ao que, embora incognoscível, é percebido, assim também a psicanálise nos adverte para não ...
...estabelecermos uma equivalência entre as percepções adquiridas por meio da consciência e os processos mentais inconscientes que constituem seu objeto.
De fato, sou de opinião que a antítese entre consciente e inconsciente não se aplica aos instintos. Um instinto nunca pode tornar-se objeto da consciência - só a ideia que o representa pode.
Além disso, mesmo no inconsciente, um instinto não pode ser representado de outra forma a não ser por uma ideia. Se o instinto não se prendeu a uma ideia ou não se manifestou como um estado afetivo, nada poderemos conhecer sobre ele.
Não obstante, quando falamos de um impulso instintual inconsciente ou de um impulso instintual reprimido, a imprecisão da fraseologia é inofensiva.
Podemos apenas referir-nos a um impulso instintual cuja representação ideacional é inconsciente, pois nada mais entra em consideração.
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