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1 - A crise que afunda o país não é só econômica. Resolver o problema da economia pode dar uma sobrevida para instituições carcomida, mas cumpre lembrar: em 2013, nadava-se em Céu de Brigadeiro na política nacional. O desemprego beirava a 5% e o país vivia num "momento mágico".
2 - Ela é o resultado de uma confluência de fatores que exigiriam um livro para explicar, mas vale destacar dois: a perda de legitimidade das instituições representativas e a multiplicação infinita das mediações, com a chegada da internet e das redes sociais.
3 - Essa combinação perversa tem acentuado o problema da perda de autoridade que é próprio da sociedade moderna, mergulhando o país numa série de pequenos e grandes conflitos que transformou o Brasil num caldeirão de ódio e violência infinitos.
4 - Irmão contra irmão, família contra família, grupelhos contra grupelhos, a quantidade de conflitos só tem aumentado desde o início da Nova República, ao ponto de comprometer a confiança mesma da sociedade, fundamento de toda a ordem e integração social.
5 - A ideia que essa crise vá se resolver pela ação cínica de atores sem qualquer credibilidade e movidos pela concupiscência é só uma tentação demoníaca da razão. Toda crise mimetica sempre se resolve por mecanismos próprios, por uma lógica tão antiga quanto perene.
6 - Em momentos assim, a mutitude de conflitos mimeticos encontra solução a partir do momento que a massa encontra transfere os ódios particulares para um inimigo comum, que deverá ser sacrificado num ato de catarse e violência tão cruenta quanto simbólica.
7 - É ele que dá o ensejo para a (re)fundação de instituições capazes de impor novas mediações, fazendo valer hierarquias e regras morais, com rituais próprios que sirvam como válvula de escape para a violência que sempre espreita, como a fera do deserto.
8 - Diante dessa aulinha resumida, portanto tosca, de antropologia mimética, quem se debruçar sobre a situação política atual pode brincar de procurar as correspondências simbólicas para responder à pergunta de um milhão de dólares: quem será o sacrificado nesse jogo satânico.
9 - Quem está em melhor posição simbólica de direcionar a violência condensada da massa? Quem está em pior posição simbólica para lhe servir de bode expiatório? Quem aparece para ela como culpado pelo descrédito absoluto das instituições? Quem as pode refundar de fato?
10 - A invocação da turba e sua resposta ao chamado no dia 26 vão definir tudo isso, afinal. Estamos jogando como que um ordálio. A única coisa que dá para saber é que, em nenhum dos resultados possíveis, a coisa deve transcorrer de maneira pacífica.
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