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O próximo domingo (26) tem tudo para ser um divisor no águas no governo. A partir dessa data, poderemos descobrir se Bolsonaro está trucando com ou sem manilha na mão. Ou se gritou 'truco' sem realmente entender como se joga o jogo. Abertamente, governistas falam em 'tiro no pé'.
O "grande ato" de domingo pode acentuar ou não o receio popular sobre a degradação democrática do Brasil. Pra mim, isso tem tudo a ver com uma questão que acompanha Jair Bolsonaro desde as eleições: inaptidão ou estratégia?
Minha opinião> Bolsonaro nunca teve um projeto de poder e a ambição de ser presidente da República. Ele foi convencido disso por sua base de fãs, lá atrás; e não precisou convencer, como é natural que ocorra. Foi uma candidatura reativa, não proativa.
Ninguém fica 3 décadas no Legislativo, sem aprovar projetos relevantes, tendo como ambição um projeto de poder como a Presidência da República. No começo da década, quando ele não havia se tornado a figura caricata bancada pelo CQC, talvez se imaginasse se aposentando na Câmara.
Por que isso aconteceu? Porque Jair Bolsonaro é o ponto focal de muitos interesses que estavam dispersos em outras figuras públicas ou mesmo ausentes. Reuniu o sentimento do antipetismo, os desejos por renovação política, mão de ferro, luta contra a corrupção, sinceridade...
...patriotismo, conservadorismo, luta contra o espaço perdido pela população heterossexual branca em detrimento do avanço das pautas das minorias (mulheres, negros, LGBT). Uma das provas disso é Bolsonaro não ter precisado fazer concessões durante a campanha.
Apesar de estar há quase três décadas na política e ter os três filhos eleitos no Legislativo, Bolsonaro conseguiu com sucesso vender o peixe da nova política. Para isso, precisou se agarrar à promessa de que não participaria de conchavos, do toma-lá-dá-cá, do jogo da política.
O diferencial de Bolsonaro no imaginário popular depende do cumprimento dessa promessa. E o presidente fará de tudo para se manter ao máximo afastado das negociações políticas, a que ele se refere como "velha política". Tudo isso ainda passa pela dúvida: inaptidão ou estratégia?
Bolsonaro foi eleito com o apoio de 6 grandes grupos: militares, liberais, olavistas, evangélicos, ruralistas e o pessoal da segurança pública, a maioria com discurso armamentista. Os 3 primeiros compõem o grosso dos ministérios.
E os 3 últimos precisaram de maiores agrados no Congresso. Perdão da dívida ruralista + nomeação de uma ministra da Agricultura ruralista + nomeação de um "antiministro" do Meio Ambiente + decretos das armas + luta contra a ideologia de gênero + defesa dos princípios cristãos.
Militares receberão a reforma da carreira, que praticamente neutralizou a economia gerada com a reforma previdenciária das Forças Armadas. Liberais apostam na reforma da Previdência para o País captar os investimentos represados aqui e no exterior.
E os olavistas foram agraciados com 3 ministérios (Educação, Direitos Humanos e Relações Exteriores), com os quais podem travar a batalha ideológica contra o marxismo cultural. Combatem Paulo Freire, a cultura, as universidades. Bolsonaro só governou até agora para os 6 grupos.
Mas, entre esses grupos, o grande fiador foi o mercado, retratado nos liberais, na figura de Paulo Guedes e na reforma da Previdência. Além de se manter sacro em meio ao lamaçal da velha política, Bolsonaro precisa aprovar a reforma.
O presidente não precisou fazer nada, senão levar Guedes ao governo. A equipe econômica trabalha sozinha desde então. Enviou um projeto ao Congresso e tem enfrentado dificuldades para fazê-lo tramitar, justamente porque Bolsonaro tem se mantido longe da negociação. parlamentar
Mas negociação não é conchavo. É preciso conversar, ouvir e cobrar dos parlamentares. É natural. Dilma Rousseff também se manteve distante do Congresso, e deu no que deu. A mesma questão ainda permeia: inaptidão ou estratégia?
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e membros de seu próprio partido já demonstraram publicamente insatisfação com a inação do presidente. Segundo eles, ele quer o bônus da reforma terceirizando o ônus para a conta dos parlamentares, que enfrentarão desgaste ao defender uma...
...reforma tão impopular. Na visão que Bolsonaro externa, a política honesta (e utópica) deveria se basear na aprovação voluntária dos parlamentares a projetos aos quais eles são simpáticos, sem negociações com o Executivo. É uma visão 100% ideológica e 0% pragmática.
O Congresso entendeu o recado e resolveu chamar para si a responsabilidade de governar. Deputados e senadores precisam provar às suas bases que estão trabalhando. Precisam aprovar projetos, levar recursos aos seus municípios e estados etc.
No primeiro troco dado a Bolsonaro, em março, a Câmara aprovou a PEC para tornar impositivo todo o Orçamento de investimentos e emendas parlamentares de bancadas estaduais, reduzindo o poder do Executivo sobre as contas públicas.
Enquanto Bolsonaro joga a responsabilidade dos problemas no colo dos parlamentares, o Congresso se embalou no discurso do protagonismo e está tomando a frente das votações, fazendo seus próprios projetos e derrubando decretos de Bolsonaro. Rodrigo Maia governa o País atualmente.
Resultado: Bolsonaro até agora não fez nada de fato, não aprovou nada, só tentou e fracassou. Estas não são minhas palavras, mas sim de um texto que o próprio presidente compartilhou no Whatsapp na última sexta-feira, segundo o qual o Brasil é ingovernável sem conchavos.
O compartilhamento do texto elevou a tensão dentro do governo, entre aliados e representantes de outros Poderes. Políticos e analistas divergem sobre as intenções do presidente ao endossar a mensagem, mas muitos dizem que ele está se deixando levar por teorias da conspiração.
Isso alimenta a narrativa de que Bolsonaro precisa de ajuda do povo para governar, já que a classe política (que ele classificou como "o grande problema do Brasil" na última segunda-feira) está conspirando contra ele e impedindo-o de aprovar seus projetos.
Agora, Bolsonaro endossa a convocação para as manifestações do próximo domingo. A pauta do fechamento do Congresso e do STF distanciou liberais e membros do próprio PSL e geraram racha entre os aliados do governo. Até Janaina Paschoal quer deixar o partido.
Inaptidão ou estratégia? Se o ato for pífio, vai expor a fragilidade de Bolsonaro. Se for estrondoso, vai corroer as relações institucionais entre Executivo e Legislativo e atrapalhar a reforma da Previdência que garante a estabilidade do governo. Bolsonaro truca com zape?
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