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Algumas pessoas têm me perguntado e eu vou contar. Acho que foi em 2000 mesmo, eu trabalhava num colégio famoso (que não vou dizer o nome) e descobri que uma menina havia sido convidada para uma festa na casa de outros colegas e abusada nesta festa. Colegas de aula, todos.
A menina tinha sido vendada e teve os braços seguros para trás enquanto vários rapazes passaram um salsichão em seus seios e depois lambiam a gordura ali deixada. Isto foi presenciado por dezenas de pessoas, incluindo colegas homens e mulheres.
No dia seguinte, no colégio, a menina cujo pai já havia falecido e a mãe tinha sofrido um AVC recente foi chorando procurar o serviço de atendimento pedagógico do colégio. Serviço que era gerenciado por uma mulher mais velha. Recebeu deste serviço o "conselho" de deixar de lado.
Ela, mesmo chorando, insistiu. O SOE do colégio então chamou os quatro meninos por ela indicados para uma "acareação" frente a frente. E fez os meninos "pedirem desculpas" pelo ocorrido. Todos na época estudantes de segundo grau.
Sem saber mais para onde pedir ajuda, a vítima se resignou. Os efeitos psicológicos, entretanto, não cessaram. Eu era professor do colégio e comecei a notar que sempre que os quatro homens se juntavam e faziam determinados gestos para a menina, ela saia do ambiente chorando.
Percebi este comportamento uma dezena de vezes e duas vezes fui atender a menina sem dela receber qualquer explicação. Era evidente, contudo, que algo existia ali. Fui perguntando a outros alunos, individualmente, até que a história me foi revelada por várias fontes separadas.
Quando eu soube de tudo eu fui ao serviço da escola exigindo que algo fosse feito. Me disseram que os meninos "já tinham pedido desculpas" e que não iam "estragar" a vida de quatro jovens promissores (os homens) por causa de uma "vagabundinha". Nestes termos.
Fiquei chocado. Uma mulher, supostamente pedagoga, usava exatamente estes termos. Disse a ela que não importa se a menina era "vagabunda" ou não. Que se tinha dado para cem rapazes e não para o 101o e este a forçou que era abuso (na época eu nem sabia que por lei era estupro).
A mulher chefe do SOE me pediu um tempo para "apurar". Dois dias depois me chamou lá para "mostrar" uma "ficha" da aluna, em que estavam assinalados dias e nomes de homens que supostamente ela teria sido encontrada nas dependências do colégio em "situação estranha".
Eu imediatamente pedi cópia da ficha, o que obviamente me foi negado. De cabeça memorizei alguns nomes que eram alunos com os quais eu tinha uma certa proximidade. Perguntei a estes alunos em separado e obtive a certeza de que a "lista" era falsa.
Um dos alunos havia ficado até mais tarde estudando para uma olimpíada de matematica e como esta aluna também era destaque, os dois estavam juntos na biblioteca. E foi o suficiente para inventarem uma história e a acusarem de "vagabunda" para salvarem os quatro abusadores.
Fui ao SOE informando que eu iria dar "todo o suporte" para a menina se ela quisesse denunciar isto judicialmente. A chefe do SOE me fez todo o tipo de ameaças e não preciso dizer que fui demitido. A menina, chorando, decidiu não entrar com qualquer processo.
Quando ela soube que o caso ganharia alguma mídia, que ela seria exposta e tudo mais ela optou por tentar suportar aquilo psicologicamente. Hoje ela é médica. Os quatro rapazes são oficiais do exército e eu fiquei desempregado. Não me arrependo de um centímetro do que fiz.
Faria tudo de novo. Estupro não é sobre tesão ou sexo. Estupro é sobre sentimento de posse, sobre sentimento de superioridade masculina e falta de limites sociais a ação dos homens. Basicamente o que o machismo sempre ensinou. É preciso dar um basta nesta violência.
