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Machado mostra perfeitamente como no final do período escravocrata oficial (perto da metade do XIX) as madames perceberam que não tinham o que o europeu chama de "cultura de sala". Não sabiam tocar cravo, não sabiam o francês pra "ler um romance", as valsas e boleros eram toscos.
Então essas elites mais urbanizadas (i.e. que levavam o dinheiro da lavoura para a cidade, onde faziam Política) entraram nessa fissura por adentrar no mundo ilustrado. Daí a cultura bacharelesca, daí o parasitismo de signos que em si podem ser interessantes, mas são digeridos+
apenas enquanto marcadores brutalizados de etiqueta.
Nunca se quis "cultura". Queriam os termos da arte para conseguirem decifrar as piscadelas e flertes, os regimes de comunicação social subcutânea que eles absolutamente não tinham a capacidade de adentrar por próprio interesse.
Nunca se quis "cultura". Queriam os termos da arte para conseguirem decifrar as piscadelas e flertes, os regimes de comunicação social subcutânea que eles absolutamente não tinham a capacidade de adentrar por próprio interesse.
Surge então essa classe dissimulada, movida por um querer-ocupar espaços que são regulados por dinâmicas que eles não entendem, mas entendem como podem operar estes signos como mecanismos distintivos. É esse tipo de tramóia que o bom sociólogo da cultura desvela.
Disso surge uma criação tipicamente brasileira abastada: o "mundo ilustrado". A saber: uma esfera exclusiva onde todas as relações sociais são mediadas por esse tipo de má-fé parasitária em que tudo é ícone distintivo burlesco. Suga-se a vida dos conceitos todos.
É onde os conceitos vão para morrer. Para ter seu gume limado. Importante notar tb que isso é algo que perdura e é um dos fatores principais de constituição de fenômenos como o olaviismo. Mas mais que isso, é toda uma maneira de circulação terminológica, que vai desde portais +
obscuros da internet até a direção de inúmeros museus. Do portal de comentários do site de notícias até a rede de galerias de Pinheiros SP, passando por professores universitários, "críticos" e "criticados".
Talvez tenhamos inventado a sociedade do espetáculo em todo seu esplendor dissolutivo e constringente antes da europa. Eis o único grande feito "cultural" da nossa elite.
