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🇨🇱 Cena que remete a tempos sombrios: soldados nas ruas de Santiago. Ontem, o presidente Sebastián Piñera decretou estado de emergência em Santiago e arredores e deixou a região, na prática, sob tutela militar. Neste fio, um resumo do que acontece por lá.
Começou, como parece sempre começar, com algo um aumento de poucos pesos (equivalente a centavos) no preço das passagens do metrô. Começou como um protesto estudantil contra esse aumento, pulando catracas, no que ficou conhecido como a EVASIÓN MASIVA.
Mas, ao longo da semana, o protesto pacífico foi ganhando corpo. O governo, por sua vez, endureceu a resposta. E a radicalização fez com que Santiago chegasse à sexta-feira de fogo que teve ontem. Hoje, fala-se em pelo menos 308 pessoas detidas após as jornadas de protesto.
Ontem, pelo menos 19 estações de metrô registraram incêndios como resultado dos protestos. O sistema de metrô de Santiago é o maior da América do Sul: 140 km de extensão e 136 estações. Recebe 2,6 milhões de usuários por dia. bit.ly/2qjivGq
Devido aos incidentes e ao temor de que a situação se agrave ainda mais, o metrô anunciou que permanecerá fechado durante todo o final de semana, e ainda não há certeza se abrirá na segunda-feira.
É claro que, nessa altura, você já deve ter adivinhado que não é só por um simples aumento da passagem que os chilenos vão às ruas. Foi o estopim de uma indignação mais ampla...
... o alto custo da educação, a má qualidade da saúde, a falta de perspectivas para aposentados, tudo se juntou à onda de indignação que está levando cada vez mais chilenos - e não só estudantes - a protestar, como comenta essa manifestante.
Embora seja um dos países proporcionalmente mais ricos do subcontinente o Chile ainda convive com uma brutal desigualdade herdada da ditadura. Segundo o Banco Mundial, é o 7º país mais desigual do mundo (o Brasil, exemplo negativo no quesito, é o 5º). biobiochile.cl/noticias/nacio…
A cena mais dramática da sexta-feira foi o incêndio na torre da Enel, a principal companhia de energia elétrica. Ninguém se feriu e ainda não está claro se o episódio tem relação direta com os protestos, mas a empresa diz ter origem criminosa.
Um dos catalisadores da indignação foi a resposta violenta das autoridades. Tiros e bombas de gás contra os estudantes, considerados uma reação desproporcional por muitos, aumentaram apoio aos protestos mesmo antes da escalada de ontem.
Na madrugada deste sábado, encurralado, Sebastián Piñera decretou o estado de emergência nas províncias de Santiago e Chacabuco, designando o general Javier Iturriaga del Campo como chefe da Defesa Nacional e responsável por executar medidas de exceção em vigor na capital.
Sob estado de emergência, cabe à autoridade militar, entre outras prerrogativas:

- comandar as Forças Armadas e de segurança na região
- autorizar reuniões em locais público
- controlar entrada, saída e trânsito dentro da zona de emergência
latercera.com/nacional/notic…
Se a situação se agravar, existe até a possibilidade de decretar toque de recolher, uma medida extremamente impopular que remete à ditadura pinochetista. Neste momento, porém, essa opção está descartada. latercera.com/nacional/notic…
Ainda assim, alguns eventos que envolvem concentrações massivas de pessoas já foram cancelados preventivamente, como os jogos de futebol que seriam disputados na Região Metropolitana de Santiago neste fim de semana.
Há uma grande pressão por cancelar o aumento das passagens - o que, como o Brasil aprendeu em 2013, tende a esvaziar os protestos no curto prazo, mas evidentemente não resolve os outros pontos que levaram gente às ruas.

E já há, claro, quem peça a renúncia de Piñera.
Aqui, o @eduardoruz nos conta mais sobre as razões da indignação dos chilenos com o estado atual das coisas.
@eduardoruz A situação ainda está se desenrolando e, conforme novos fatos venham à tona, atualizaremos oportunamente.

O estado de emergência do Chile foi um dos destaques na nossa newsletter desta semana, que circulou agora pela manhã. Assine para se manter informado girolatino.substack.com/p/acompanhe-os…
@eduardoruz Outro reflexo do agravamento da situação é que os protestos começam a se espalhar para fora de Santiago e arredores. Aqui, o registro de uma marcha em Concepción, importante cidade 500 km ao sul, agora à tarde.
@eduardoruz Relatos nas redes sociais também dão conta de que o Mall Plaza Oeste, um shopping center na comuna de Cerrillos (região sudoeste de Santiago), foi evacuado há pouco por medo de saques.
@eduardoruz Panelaços têm sido ouvidos em diferentes cidades do Chile desde ontem. Aqui, o cacerolazo em Valparaíso, no litoral. A cidade também registra manifestações neste sábado.
@eduardoruz Em termos eleitorais, fatores importantes a se levar em conta:

Piñera está no meio do seu mandato. O Chile só elegerá um novo presidente em novembro de 2021.

Futuras eleições são difíceis de projetar não só pela distância, mas pelo voto facultativo. Em 2017, abstenção foi 51%.
@eduardoruz O Museu da Memória e dos Direitos Humanos do Chile reforça que o estado de emergência não elimina as garantias constitucionais dos cidadãos.
@eduardoruz Os protestos seguem e há registro de pelo menos cinco ônibus incendiados no centro de Santiago hoje. Militares circulam em "tanquetas" na região.
O metrô não está circulando neste fim de semana, mas conseguiram entrar numa estação para atear fogo a um dos trens.
Sebastián Piñera anunciou, minutos atrás, a suspensão do aumento das tarifas de metrô, o estopim dos protestos em Santiago.
O jornal La Tercera informa que, ainda assim, deverá ser decretado toque de recolher em 5 das 32 comunas que compõem Santiago. Esse anúncio ainda não foi feito oficialmente.
Confirmado: haverá toque de recolher, e não estará restrito às cinco comunas citadas anteriormente. A medida é total, vale para a Região Metropolitana inteira, e ficará em vigor das 22 horas de hoje às 7 da manhã de amanhã.
Medida que remete à ditadura, quando vigorou por anos a fio, o toque de recolher costuma ser utilizado no Chile por questões de segurança e para prevenir saques após desastres naturais, como terremotos ou enchentes. Por manifestações, havia se tornado incomum em democracia.
As horas passam e novas restrições são feitas. Novamente o Instituto de Direitos Humanos do Chile reforça que certos direitos continuam inalienáveis, mesmo sob estado de emergência e toque de recolher. Mesmo para quem for pego na rua quando "não pode".
Uma das maiores preocupações de quem está na rua é que o toque de recolher foi anunciado com pouco tempo antes de entrar em vigor (duas horas) e, por conta das próprias manifestações, praticamente não há transporte circulando na capital.
Antes do anúncio oficial, já haviam vazado um áudio em que Piñera falava do toque de recolher, endossava a resposta da polícia ontem e comentava que haverá mais presença militar nas ruas. "Temos muitíssimos mais militares do que vocês imaginam".
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