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Vídeo sensacional (via @luizacaires3), assistam! Gostaria só de adicionar algumas informações do ponto de vista macroevolutivo (segue):
Uma das interpretações para o termo "fóssil vivo" vem do fato de essas linhagens apresentarem ramos muito longos em filogenias moleculares, muito mais longos do que a maioria das espécies normalmente apresenta. Um exemplo disso é a Tuatara, esse bichinho simpático da foto.
Porém, esses ramos longos muito provavelmente são artefatos do modo como as filogenias são construídas. Essas filogenias, em sua maior parte, são construídas usando apenas dados de DNA das espécies viventes hoje em dia (já que para fósseis é praticamente impossível obter DNA).
Caso a amostragem das espécies do grupo de interesse seja suficientemente abrangente (isso é assunto para outra hora), os modelos de evolução molecular vão tentar estabelecer como o DNA de todas essas espécies evoluiu a partir do ancestral comum mais recente (ACMR) do grupo.
Como os "fósseis vivos" são exemplares de linhagens que divergiram há muito tempo da linhagem de "não fósseis-vivos", mas que contam com poucas espécies vivas hoje, espera-se que seu DNA reflita essa história evolutiva, e que essas linhagens apareçam ligadas à base da filogenia.
Assim, essas linhagens são representadas como tendo se originado há muito tempo, com seus ramos super longos, muitas vezes datados com centenas de milhões de anos. Mas, porém, contudo, todavia, entretanto, filogenias moleculares são conhecidas por uma grande limitação:
as filogenias moleculares não registram informações diretas sobre a extinção de linhagens. Como falei acima, elas são construídas usando SOMENTE informações moleculares de espécies viventes (além de informações fósseis para calibração temporal).
Sendo assim, linhagens que se originaram e se extinguiram durante a existência do grupo não são representadas de forma nenhuma na filogenia. Sendo assim, esses ramos longos nos passam a ideia errada de que "nada aconteceu" ao longo da existência do "fóssil vivo".
A partir de outro tipo de dados comumente usados em estudos de macroevolução, o registro fóssil, sabemos que a duração média de uma espécie de mamíferos, por exemplo, é de cerca de 2 milhões de anos (isso varia, especialmente entre grupos diferentes, mas só para termos uma base).
Sendo assim,ao olharmos para os ramos de dezenas/centenas de milhões de anos dos "fósseis vivos", um sinal de alerta se acende: o que essas espécies teriam de tão diferente assim para viver mais de 20x o que uma espécie "típica" vive?
Além disso, caso isso tenha de fato acontecido, por que essa espécie "não mudou" ao longo de todo esse tempo? A resposta para essas perguntas pode estar relacionada à extinção.
Explico: usando simulações de processos macroevolutivos, sabemos que esses ramos longos podem ser gerados através de uma longa história de extinção, que "apaga" as informações sobre espécies que se originaram e se extinguiram ao longo da história evolutiva do grupo.
No exemplo abaixo, as duas filogenias são representações da mesma simulação. A da esquerda contém todas as espécies (incluindo as extintas) e a da direita contém só as viventes. Notamos que vários ramos aparecem bem mais longos na da direita.
Quando vemos esses ramos longos em filogenias, ao invés de pensarmos que nada aconteceu, o que é mais natural esperar é que pode ter de fato acontecido bastante coisa, com muitas espécies diferentes (mesmo morfologicamente) sendo geradas.
Porém, a maioria dessas espécies se extinguiu, sobrando muitas vezes uma só espécie para contar história. Devido à esse histórico de especiações e extinções a espécie que ainda persiste provavelmente não se originou há centenas de milhões de anos, mas sim muito mais recentemente.
Falei tudo isso só para reforçar que o termo "fóssil vivo" de fato é bastante impreciso. Isso sem nem falar no tema principal do vídeo, que é um absurdo usar isso como "prova" para refutar a evolução.
Além da dinâmica de diversificação, baixas taxas de evolução da morfologia da linhagem também pode ser uma possível explicação para a semelhança entre a espécie atual e seus ancestrais. Mas isso é assunto para outra hora, tenho um pós-doc para terminar. 😬
Se alguém tiver qualquer, estou à disposição!
@bombras @lama_mala @darkgabi @magaiarsa @ds_caetano se acharem legal, fortaleçam aí no RT :D
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