🏳️🌈FIO IMPORTANTE! pra todos os Gays de esquerda sinceramente preocupados com o fato do Irã e outros países do Oriente Médio vítimas do imperialismo serem países com políticas duras contra homossexuais dentro de uma perspectiva da organização das lutas LGBT.
Primeiro quero lembrar a história de como surgiu o movimento LGBT organizado em nosso país.
Desde 2014, com o relatório final da Comissão Nacional da Verdade, se tem provas incontestáveis do espancamento, tortura e prisão motivadas por LGBTfobia de 1,5 mil pessoas somente em São Paulo durante as políticas de higienização da ditadura militar.
Famosamente em 1968, quando a “ilustre” Rainha Elizabeth 2ª visitou São Paulo, o delegado Richetti declarou nos jornais era preciso ‘limpar a cidade dos assaltantes, prostitutas, traficantes, homossexuais e desocupados'” para recebe-la
Os relatos da prisão de travestis por exemplo vão nas linhas de “Após três dias de humilhações, em que muitas ficavam sem comida e eram forçadas a limpar a cadeia, algumas chegavam ao ponto de tentar o suicídio para serem soltas mais rapidamente”
E numa época como essa que ser bixa era considerado um agravante da periculosidade frente à Segurança Nacional qual era a política do movimento de esquerda organizado? um completo nada.
Era notável a LGBTfobia latente nas organizações de trabalhadores, sendo considerar isso uma "pauta menor" quase um progressismo quando a grande maioria via como "um vício pequeno burguês"
Bom lembrar inclusive que no início das movimentações do ABC paulista o queridinho Lula declarou em alto e bom tom "Não existem bichas na classe operária".
Frase que tem semelhanças até que demais com "Não há homossexuais no Irã", frase do ex-presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad que causou burburinho em 2007 e está sendo desenterrada hoje em dia pela mídia burguesa.
Sorte do Lula que ele não é oriente médio se não seria retratado como um selvagem maluco até hoje.
Enfim, dentro desse cenário horrível sabem como as bicha brasileira se organizaram? Cancelando o movimento dos trabalhadores? Cancelando as greves do ABC? Não. Fizeram o que a gente faz de melhor que é se meter no meio e mostrar como que se faz direitinho.
Em 1978 se formou em São Paulo o SOMOS, que é a primeira organização LGBT no país e em 1980 iriam entrar pra história do movimento operário brasileiro.
Pois mesmo sabendo a hostilidade do movimento sindical, um grupo de 50 viado e sapatão se juntou a marcha de 1º de maio de 1980 durante as greves do ABC,
levantando duas faixas na cara de todo mundo: “Contra a intervenção nos sindicatos do ABC” e “Contra a discriminação do/a trabalhador/a homossexual”.
Tive a oportunidade de conversar com um antigo membro do SOMOS que disse que reinava um medo absoluto do que poderia acontecer na marcha, o medo era tanto que gerou brigas internas no grupo
Uma parte do grupo achava a ação perigosa e extrema demais e considerou mais seguro fazer um piquenique no parque em busca de apoio.. longe da classe trabalhadora. A bixa velha fez graça "até hoje o movimento LGBT se separa entre as bixa do ABC e as bixa do piquenique"
E foi assim que se pavimentou o caminho para hoje ser quase impossível encontrar qualquer organização de esquerda no Brasil sem uma bixa afrontosa ou uma sapatão do papo reto nas suas fileiras.
Não foi com cancelamento e piquenique das boazuada demais pra ficar perto dos "ignorantes preconceituosos" foi dando a cara a tapa e pegando junto, fazendo pelo certo independentemente se alguém ia gostar ou não
Os direito LGBTs nunca foram conquistando com as bixa se isolando achando-se boas demais pra esse mundo, ao contrário, é se metendo no meio da muvuca que se mostra a fragilidade dos preconceitos.
É botando a contradição na prática “coé lulinha, se não tem bicha na classe operária que que eu tô fazendo aqui com essa faixa? Atura ou surta pois agora vamo tá junto ombro a ombro com os trabalhadores pois é o correto, não é pra ser gostada não”
Então, sim, não vou pintar o Irã e outros lugares do Oriente Médio vítimas do imperialismo como uma maravilha com as gay pq não é.
Mas se a senhora realmente ta preocupada com as gay de lá, te pergunto: o preconceito que a bixa sofre lá diminui com tu virando a cara? Diminui dizendo que os árabe são maluco? Quais ações efetivas que podemos fazer para mudar esse cenário?
Não seria o momento de mostrar que a dor dos oprimidos deve ser uma ponte e não uma ilha? Destruir preconceitos se da pela ação conjunta que o outro te vê como um igual e não por palavras bonitas.
Pois não é mais poderoso para mudar a cabeça de um iraniano médio, uma gay, bi, lésbica, travesti mostrando solidariedade sem preconceitos nos momentos difíceis mais do que uma dúzia de palestras?
Sonho com um mundo sem imperialismo e sem nenhuma opressão de gênero e sexualidade e pra isso se tornar verdade é preciso aproveitar cada oportunidade de estar junto com quem pensa diferente, pois se a ação vira conjunta o pensamento também vira.
A dor que o imperialismo e o capital nos causa é algo que nos conecta, uma ponte que nos permite conhecer melhor todos os povos oprimidos do mundo e enxergar a unidade na nossa diversidade, é o que possibilita a ação conjunta.
Então além de repudiar firmemente as ações imperialistas do EUA contra Irã, faça questão de mostrar que é um LGBT fazendo isso, esse é o ato mais radical e poderoso que se pode fazer contra o imperialismo e pelos gays do Irã e do oriente médio no geral.
FIM DO FIO
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