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Onde eu tô?

Politicamente, claro.

Na loucura do Twitter, vi rapidamente gente falando que eu era stalinista e passando pano para genocídio. Isso porque eu ousei afirmar - e afirmo de novo - que nada é mais aterrador que o nazismo.
Quem me cobrou, claro, queria que eu negasse com a mesma veemência o socialismo real, os gulags, o autoritarismo soviético. Poucas pessoas, contudo, me cobraram uma explicação sobre genocídio indígena, escravidão atlântica e neocolonialismo. Para essas foi mais fácil responder...
...para as outras, bem, elas podem se regozijar agora. Eu vou explicar didaticamente onde eu estou nessa coisa toda.

Então queria começar pelo óbvio: eu sou marxista.
Mas assim, se você conhece um pouquinho sobre, sabe que dizer que é marxista é um rótulo um tanto quanto genérico. Tem muito marxista por aí... Então, parece mais lógico falar de experiências que eu admiro:
1) A Comuna de Paris: a primeira iniciativa moderna de trabalhadores ocupando o Estado, tomando controle das formas principais de organizar a sociedade - inclusive polícia, correios e até "bancos" (mas esse é outro assunto).

Acho que todo marxista admira a Comuna.
2) Os sovietes: a experiência mais democrática formulada na Rússia czarista e que depois se tornou a base do poder dual e do próprio Estado (virou adjetivo, Estado soviético). A ideia de que os sujeitos, em assembleias, tinham mais poder que seus representantes é muito foda.
3) A aliança POUM+CNT-FAI: uma aliança entre marxistas e anarquistas na Catalunha e que desencadeou, da defesa da República, alguns dos debates mais interessantes sobre a Reforma Agrária na Espanha.
4) A resistência dos "partisan" na Europa ocupada pelo nazismo: de um tempo onde os antifascistas sabiam que os comunistas eram seus aliados, ainda que sob a tutela de Stalin. Foram vitais na reconstrução da Europa pós-Hitler.
5) As lutas anticoloniais: em especial, mas não exclusivamente, na China, no Vietnã e na Argélia. O que lamento dessas lutas é como o caráter fraticida acabou solapando grupos mais libertários. Ainda assim, a força de suas ideias segue hoje.
6) Protestos estudantis do maio de 1968: o primeiro grande protesto estudantil no Ocidente e cujas ondas se sentem até hoje. Tem gente que fala em "fragmentação", eu prefiro focar na efervescência mesmo.
7) O movimento antiglobalização do final do século XX: depois da queda da URSS, teve gente que se apressou em falar em "fim da história". Eu admiro muito mais quem não aceitou esse fim modorrento e foi para as ruas em Seattle, Genova e Porto Alegre.
8) As lutas emancipatórias e interseccionais ao redor do mundo: algumas delas, recuperando novos sentidos de antigas ideologias. Uma das que mais admiro (alô @MalaJine ) é a das mulheres curdas em Kobane.
9) Há tantas outras lutas...no Brasil, na América Latina, no Mundo. Foi difícil escolher só algumas e em outras acabei sendo excessivamente genérico. Mea culpa, claro, mas a ideia é abrir debates, pensar sobre quais são nossas referências políticas de forma aberta.
"Ah, mas e os horrores?"

Os horrores são muitos. Algumas das experiências revolucionárias que mais defendo foram sufocadas por lutas fratricidas. Não consigo defender quem botou irmão na ponta da baioneta.
Mas diante de tanta coisa norteando a minha prática política, pra mim é evidente quem é inimigo. Saber que o nazi-fascismo, o imperialismo, o racismo, a misoginia e, em última escala, o capital (que depende de todas essas estratégias para sobreviver) são inimigos é fundamental.
E aí, uma das minhas referências favoritas: "O dom de despertar no passado as centelhas da esperança é privilégio exclusivo do historiador convencido de que também os mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer. E esse inimigo não tem cessado de vencer.”
Em outras palavras: é preciso reivindicar essas centelhas do passado para poder garantir alguma segurança para os nossos mortos. O inimigo tá chegando junto o tempo todo.

E na boa? Só quem já morreu não se preocupa com os seus mortos.
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