Thread by @louverture1984

Tô chocado com a quantidade de gente que não sabe diferenciar um campo de concentração, reeducação, trabalhos forçados, de um MALDITO CAMPO DE EXTERMÍNIO!!!

O grau de complexidade e aprimoramento da indústria da morte elaborada pelo nazismo é sem paralelo na história.

Isso não significa minimizar as muitas formas de terror em campos prisionais, de Bloemfontein, Vorkuta, Crato, Lordsburg, Guantanamo etc. Ou os muitos genocídios modernos que antecedem e sucedem os provocados pelos nazistas.

Mas significa entender o que, afinal, era diferente no nazismo. E uma dessas diferenças era o extermínio em escala industrial. Que fosse possível matar em imensa quantidade e que ainda assim pudesse se aproveitar tanto do trabalho quanto do corpo dos prisioneiros.

Para quem tem dúvidas, segue aqui uma didática tipologia dos tipos de campos prisionais da Alemanha nazista. Reparem no que fala ali sobre campos de extermínio: theholocaustexplained.org/the-camps/type…

Esses sites costumam ser didáticos e bons para um início de conversa. Olhem esse: campos prisionais (o encarceramento na sociedade moderna, de fato) são espaços para a eliminação da dissidência, pela fome, pela privação, pelas violências cotidianas:

70.auschwitz.org/index.php?opti…

Importante lembrar que a história dos campos de concentração precede Alemanha nazista e URSS e inclusive encontra suas origens entre os britânicos, na guerra dos Boers (ainda que tenham historiadores que remetem a origem aos espanhóis e à guerra de independência de Cuba).

Mas por mais que o objetivo fosse a supressão da dissidência nesses campos, o argumento frankfurtiano (Adorno e Horkheimer) é de que os campos de extermínio são um aprimoramento das lógicas de matança da modernidade.

De fato, os nazistas converteram alguns campos de...

... concentração em campos de extermínio (o que envolvia desenvolver câmaras de gás e crematórios).

Essa adaptação é uma singularidade do nazismo. É a certeza de que há grupos que não podem ser "educados" e que a sua execução é preferível do que o uso do seu trabalho.

Gulags, campos da fome, neocolonialismo, tudo isso são coisas hediondas na história da humanidade. Acho difícil fazer qualquer ranking sobre isso.

Mas a Solução Final foi a primeira vez que se pensou numa solução "racional" e em larga escala para o racismo europeu.

Dito isso, qualquer comparação pode ser feita. Mas sou braudeliano nessa: toda comparação serve para elucidar aspectos do passado e não para tornar eles opacos.

E aí, uma opinião pessoal:

Comparar Auschwitz com qualquer outro fenômeno do século XX-XXI, por mais horrível que seja, parece manifestar o desejo evidente de tornar opaca a singularidade dos campos de extermínio nazistas.

Isso não quer dizer que se possa minimizar outros genocídios. Na verdade, trata-se de entender a singularidade daquilo que é abominável - e não contribuir para a sua normalização.