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Jair Bolsonaro é um ditador. Ele só não conseguiu ainda fazer do Brasil uma ditadura — as instituições ainda não atendem em peso aos comandos dele, mas algumas já atendem.
A PGR, por exemplo, já era. Deveria ser o caminho por onde o brasileiro se protege dos abusos presidenciais, mas Bolsonaro escolheu um nome fora da lista tríplice para transformá-la numa segunda AGU. E deu certo.

Notou o silêncio da PGR nessas últimas crises?
E isso, claro, impacta o trabalho do Ministério Público como um todo. Sempre tão ativos nas redes sociais, o silêncio de seus nomes mais falantes foi também perceptível. Na minha bolha, só se viu mensagens de membros que defendiam o governo — e não o “público”, como deveria ser.
Outras instituições também vão pelo caminho. Parte considerável da imprensa, por exemplo, não mais consegue manter no ar as vozes mais críticas do governo, ou a SECOM faz pressão para que o nome caia. Com direito à demissão ser celebrada nas redes pelos funcionários governistas.
Olavo de Carvalho, por exemplo, lançou há meses um curso gratuito para policiais militares. Não foi preciso esperar um ano para vermos motins que indiretamente mataram brasileiros às centenas. Com direito à liderança do movimento ilegal almoçar com o presidente da República...
...Presidente este que tem dificultado a renovação do decreto de Garantia da Lei da Ordem (logo ele que quer excludente de ilicitude em GLO). O governador pediu mais 30 dias, ele só concedeu uma semana a mais, e sob protesto.
Também há o desejo já explicitado de derrubar o comando da Polícia Federal. O Ministério da Justiça tem conseguido evitar isso, mas ao custo de o ministro da Justiça virar um pinscher presidencial. E se dar a expedientes ridículos, como a apuração de panfleto de festa punk.
E, claro, já houve a queda das instituições de menor porte, que reagem a canetadas presidenciais, como INMETRO, Ibama, INPE, casas de cultura, etc.

Agora podem servir perfeitamente às narrativas presidenciais.
Os maiores obstáculos do presidente são o Congresso e o STF. Não à toa, são os principais alvos da manifestação convocada para o próximo 15 de março.

Mas por quanto tempo serão obstáculo?
Na semana passada, Celso de Mello mais uma vez se levantou contra os abusos de Bolsonaro. Em novembro, Bolsonaro já poderá nomear um novo Augusto Aras para a vaga de Celso de Mello. No ano que vem, um terceiro Augusto Aras para a vaga do outro Mello.
Se confirmar a reeleição, como apontam as pesquisas, nomeará quatro Aras. Se um filho pescar a sucessão em 2026, já forma maioria na casa.

E eu nem tenho feito monitoramento parecido do STJ.
Em 2022, bastará Jair Bolsonaro gravar 27 peças publicitárias dizendo qual o seu nome ao Senado em cada unidade da federação. E pronto: a chance de ele conseguir uma boa base no Senado existe. E Senado é o que julga nomeação a STF, PGR, impeachment, tudo.
Cada absurdo presidencial que sai impune é uma legalização do absurdo.

Presidente fez gesto obsceno contra a imprensa. Nada aconteceu? Então todos os presidentes de hoje em diante poderão fazer gestos obscenos contra a imprensa.
Bolsonaro sabe disso. Ele chegou a pregar o fuzilamento do presidente da República. Nada aconteceu. Hoje temos parlamentares que pregam todo tipo de absurdo. Sabem que nada acontecerá com eles, já que nada aconteceu com Bolsonaro nem quando homenageou torturador no impeachment.
O chefe do GSI falou que o Congresso tem que ser atacado e se foder. Nada aconteceu? Está legalizado: ministros do poder Executivo podem pregar que o presidente ataque o Congresso e que o povo mande o Congresso se foder.
Não há instituição que resista a tanta degradação. Jair Bolsonaro sabe disso. Porque Filipe Martins o contou. E porque Steve Bannon contou a Filipe Martins.
Tudo o que cito mais acima são crimes de responsabilidade. Quando não há dispositivo abordando explicitamente o tema, dá para encaixar a conduta na quebra de decoro. Não é por falta de crime de responsabilidade que não se abre um processo de impeachment de Jair Bolsonaro.
Bolsonaro também não tem base. Ele só tem o voto de metade do ex-partido dele e de alguns puxa-sacos que seguem em outras siglas. Não é por falta de voto que não se abre um processo de impeachment de Bolsonaro.
Ironicamente, Jair Bolsonaro só não enfrenta um processo de impeachment por causa do centrão e da esquerda. Por tudo o que fizeram no passado, ambos seguem no alvo de operações como a Lava Jato. E perceberam em Bolsonaro a última chance de corroerem o combate à corrupção.
E estão conseguindo, já que o próprio presidente quer evitar que o filho vá preso, o que pode complicá-lo também com a Justiça. A Lei de Abuso de Autoridade passou. A prisão em segunda instância caiu. O pacote anticrime virou pacote pró-crime. LULA FOI SOLTO.
Mas ainda há objetivos a serem atingidos. Precisam que os julgamentos tocados por Sergio Moro sejam anulados, ou Lula continuará ficha-suja.

A prioridade disso, contudo, é menor, Lula não queria ser presidente, só queria evitar a cadeia — e já foi solto.
O principal objetivo é garantir o substituto de Celso de Mello.

Celso de Mello forma maioria com Edson Fachin e Cármen Lúcia na segunda turma do STF A FAVOR da Lava Jato.
Se centrão e esquerda emplacam o substituto de Celso de Mello, este substituto passará a formar maioria com Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski CONTRA a Lava Jato na segunda turma do STF.

Aí já era Lava Jato de vez, pois o plenário já forma maioria contra a operação.
Para tanto, será necessário encontrar o nome que sirva aos propósitos presidenciais de ser blindado de qualquer investigação, e que forme maioria contra a Lava Jato.

Mas isso não é impossível. Augusto Aras, por exemplo, foi escolhido pelos mesmos filtros.
Esse nome é André Mendonça, o “terrivelmente evangélico”. Já é AGU, e já prova que sabe defender o presidente. E é tão próximo a Dias Toffoli —que sempre vota contra a Lava Jato— que até livro em homenagem ao presidente do STF já assinou.
No futuro, quando historiadores tentarem explicar como o Brasil voltou a ser uma ditadura, podem começar por essa thread.
Se estes historiadores quiserem contar a história de como a democracia resistiu a Jair Bolsonaro, será necessário que as lideranças que ainda têm voz parem de apostar que Jair Bolsonaro tardia e milagrosamente se convertá no democrata que ele nunca foi por toda uma vida.
Caso alguém queira mandar o conteúdo dessa thread pelo WhatsApp ou em outra rede, pode copiar o texto deste link:
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Conforme queríamos demonstrar.
oantagonista.com/brasil/lula-e-…
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